O novo filme de Lee Daniels, a exemplo de outras produções
já lançadas em 2013 (Sem dor, sem ganho e Bling ring – a gangue de Hollywood)
tem uma reportagem de jornal como fonte primária.
Em 2008, durante as semanas que precederam a eleição de
Barack Obama, o repórter e ex-correspondente do Washington Post Wil Haygood se
impôs uma missão: encontrar o afro-americano que trabalhou na Casa Branca e
testemunhou o movimento pelos direitos civis dos bastidores. Depois de inúmeros
telefonemas, Haygood descobriu esta pessoa em Washington. Seu
nome era Eugene Allen, tinha 89 anos e havia servido oito presidentes, dos anos
1950 aos 1980. Depois de se encontrar com Allen e sua mulher, Helene, por
algumas horas, o jornalista conseguiu fazer um perfil do homem que teve acesso
em primeira mão a alguns dos eventos mais críticos da nação – e aos homens
poderosos por trás deles – de uma forma sem precedentes e bastante
cinematográfica.
A vice-presidente da Sony Pictures Entertainment, Amy
Paschal, foi a primeira a ler a entrevista com Allen no Washington Post e
mostrou o material para a produtora Laura Ziskin. O Post publicou a história na
sexta-feira seguinte à vitória de Obama. Apesar do empenho da produtora,
responsável pelo sucesso da trilogia original Homem aranha, a Sony acabou
desistindo do projeto. Laura, no entanto, apaixonada pelo projeto buscou
financiadores independentes para produzir o filme e convidou Lee Daniels, que
era sua opção do coração, para dirigir o filme. Com Daniels a bordo, o elenco
começou a se formar. Oprah Winfrey, Mariah Carey, Lenny Kravitz e David
Oyelowo, todos amigos pessoais do diretor, assinaram contrato. O elenco
grandioso foi ganhando ainda outros nomes estrelados como Robin Williams, John
Cusack, Jane Fonda, James Marsden, Cuba Gooding Jr., Alan Rickman, Terrence
Howard e Liev Schreiber. “Minha ideia era fazer o filme com o elenco mais
repleto de estrelas possível”, disse o diretor à GQ quando veio divulgar o
filme no último Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. A colocação
demonstra a consciência de Daniels de que um bom elenco pode ser um chamariz
para ir ao cinema.
“Estava empolgado naquele momento pós-Preciosa e adorei
trabalhar com Laura. Estavam entre mim e outro cineasta (Steven Spielberg que
declinou do projeto), bastante famoso, para dirigir o filme, e ela queria que
fosse eu. Laura me entendia – poucas pessoas conseguem entender minha energia e
ela conseguia. Me apaixonei de verdade por ela”, disse o diretor no material promocional
divulgado à imprensa pela distribuidora do filme no Brasil em relação a
produtora que acabou falecendo .
Todos os presidentes de Daniels: no estrelado elenco, Robin Williams, James Marsden, John Cusack, Liev Scheriber e Alan Rickman vivem alguns dos presidentes servidos pelo protagonista do filme
A opção por Forest Whitaker veio com a definição de que o
filme seria independente, posteriormente abraçado pela The Weinstein Company
(expert em campanhas para o Oscar). Denzel Washington, que declinou do papel, e
Will Smith foram considerados enquanto o projeto orbitava o estúdio Sony.
“Forest, em particular, é provavelmente o ator mais humilde com quem já
trabalhei na vida. Quantos ganhadores do Oscar topariam fazer um teste de
elenco? Muitos atores não percebem que precisam se doar a um diretor. É um dom
raro”.
Razões do coração
“A história era importante para mim porque eu nunca tinha
visto um filme que retratasse o movimento de direitos civis do começo até a
administração Obama, pelos olhos de um pai e um filho. Este filme coloca as
coisas que as pessoas viveram em perspectiva, mesmo nos dias de hoje, em que
podemos fazer coisas como votar. Ele vai além do negro e do branco, o que era
importante para mim, porque é uma história de pai-e-filho além de ser uma
história de direitos civis. Transcende raça, transcende os Estados Unidos – é
universal. Não é uma lição de História, é a história de uma família”, explica o
cineasta.
Para Daniels, O mordomo da Casa Branca é o filme mais
difícil que já dirigiu. “Não existe conteúdo sexual, há pouco palavrão e a
violência é mínima, embora estejamos lidando com um período muito violento.
Então, como realizador, tive que me conter e tenho muito orgulho disso”.
Daniels no set: paixão pelo projeto |
Forest Whitaker resume com bastante assertividade os méritos
de seu diretor neste filme que revela uma ambição muito grande para um filme
independente. “Acho que o que Lee Daniels fez neste filme é bastante poderoso
porque ele tratou do movimento dos direitos civis por meio do meu personagem
(Cecil) e do meu filho. Meu filho é um ativista, primeiro na faculdade e depois
trabalhando ao lado de Martin Luther King e depois de Malcolm X. É um espectro
amplo de pessoas em um movimento em particular. Ao mesmo tempo, você me vê na Casa
Branca durante períodos em que as decisões estavam sendo tomadas nos bastidores
pelos presidentes Kennedy, Johnson, Nixon, Reagan e outros. Eles estavam dando
forma aos direitos civis e humanos no país – e, no fim das contas, no mundo".
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