Porra, caralho!
Em certo momento de Elysium (EUA 2013), Spider – o pirata digital,
contrabandista e membro da resistência vivido por Wagner Moura – solta uns
palavrões em português para expressar seu descontentamento com uma missão que
caminha mal para seu grupo de “guerrilheiros”. A missão em questão acaba dando
certo de uma maneira um tanto mais complexa do que o imaginado, mas ali –
naquele momento – Elysium começa a degringolar enquanto cinema. É
provável que seu diretor Neil Blomkamp tenha, tal como Moura, soltado palavrões
em português também.
Essa introdução se justifica porque Elysium é um flagrante
exemplo do conflito histórico e indesviável entre diretores com “visão
artística” e os estúdios de cinema. Há muitas concessões em Elysium. Elas não o
diminuem enquanto entretenimento certeiro, mas certamente o esvaziam daquele
potencial danado que Distrito 9 - o primeiro filme de Blomkamp - sugeriu.
Homem não chora: Matt Damon aguenta as críticas negativas |
Não que o jovem diretor sul-africano tenha abdicado do viés
político de sua obra – característica que desde já precede seu cinema, mas há
gorduras muito concentradas em que se pode perceber a mão pesada do estúdio.
Exemplos disso são a mudança de tom do filme, que do segundo ato em diante vira
uma fita de ação qualquer – com exato juízo de valor que essa afirmação indica;
a relação forçosa e mal aparada entre os personagens de Matt Damon e Alice
Braga e, ainda, os flashbacks para o passado de ambos que fogem diametralmente
do tom realista adotado pelo diretor na maior parte do curso do filme.
Elysium é um filme ambicioso e tinha um potencial tremendo
de adentrar os anais da ficção científica com sua trama engenhosa sobre “os
ricos ficando mais ricos e os pobres ficando mais pobres”, para usar uma
classificação do próprio diretor sobre seu filme. Do jeito que ficou, Elysium é
um belo entretenimento de férias. É pouco para todo o talento e circunstâncias
envolvidos. Além do mais, o comentário político surge enfraquecido, fragilizado
em tintas socialistas desbotadas, algo que não ocorria com o muito mais grave,
no tom e na forma, Distrito 9.
Matt Damon capitaliza como o protagonista Max, emprestando
toda a sua segurança como intérprete a um personagem inesperadamente
unidimensional. Já Wagner Moura faz muito com pouco. Além de criar cacoetes que
falam por seu personagem, como a perna manca, o ator empresta grandiloquência a
um personagem de moral ambígua. A opção pelo registro exagerado, algo que
encontra paralelo no primeiro Tropa de elite, se justifica justamente pela
moral transversal do personagem e do mundo que ele habita. Uma demonstração de
que mais do que apostar no certo, Moura atua não somente nos limites de seu
personagem, mas nos limites oferecidos pelo roteiro.
hahahahahaha Wagner soltando uns palavrões em português é um dos grandes momentos do ator. O filme é bom, sinceramente achava que seria melhor (excesso de expectativas), mas gostei. Wagner é o grande destaque mesmo!
ResponderExcluirAbs.
Somos dois nas expectativas desmesuradas.
ResponderExcluirAbs