Você se acostumou a vê-lo comentando o noticiário político nacional em alguns telejornais da Globo ou como cronista social (mas sem perder a política da mira) em colunas publicadas nos jornais O Globo e O Estado de São Paulo. Pode se lembrar, também, de seus comentários na cerimônia do Oscar (desde um imbróglio na cobertura de 1998 envolvendo o ator Robin Willians não comenta mais) ou, quem sabe, de ler suas coletâneas publicadas reunindo crônicas inéditas ou veiculadas na rádio CBN e nos referidos jornais.
Muito dificilmente, a não ser que você seja um entusiasta do cinema nacional, irá se recordar de Arnaldo Jabor como cineasta. Saber que ele é cineasta e jornalista é uma coisa, recordá-lo como cineasta é outra.
Parte dessa memória é algo que Jabor planeja resgatar com A suprema felicidade (Brasil 2010), filme que estréia hoje nos cinemas de todo o país. “Adorei fazer jornal e TV, mas nos últimos anos, passei a sentir saudades de cinema. Só escrever e falar de política no Brasil envenena a alma, você tem que prestar tanta atenção no erro que comecei a sentir saudade da arte, do mistério da arte. Então decidi voltar a filmar apenas pelo prazer poético de fazer”, argumenta o diretor em entrevista promocional.
Jabor nos sets de A suprema felicidade: saudades do cinema...
Poesia, aliás, é uma palavra apropriada ao filme. A suprema felicidade é autoral no sentido de revitalizar um Rio de Janeiro que não existe e, possivelmente, jamais existiu. “Acho que o espectador poderá reencontrar nesse filme algo que se perdeu: um tempo de delicadeza, quando havia mais esperança, mais certezas”, argumenta o cineasta. O Rio de Janeiro lúdico de Jabor, portanto, é um convite ao exercício da nostalgia e do otimismo.
“Como diretor, Jabor explica muito bem, mas às vezes era mais interessante prestar atenção na emoção com que ele descrevia a cena do que nas próprias palavras do roteiro”, observa Marco Nanini, que interpreta o avô de Paulo, protagonista do filme.
Na trama, acompanhamos o desenvolvimento de Paulo e o curso de sua vida através de décadas de transformações sociais e íntimas. As descobertas e rituais que Paulo atravessa são oportunidades para que Jabor expresse sua visão de mundo de uma outra maneira: “Vejo esperança nos afetos, nas emoções, na compaixão, na sexualidade”, enumera o diretor.
Confrontado com aquilo que talvez mais instigue o público, acerca do peso de sua experiência como jornalista neste retorno ao cinema, Jabor se escora na diplomacia: “Não revi meus filmes anteriores e não acho que tenha sido diretamente influenciado por eles. Fui influenciado pelos filmes que já vi, pelos livros que li, por Nelson Rodrigues, pela própria vida. A experiência jornalística foi muito positiva – abriu minha cabeça para várias realidades. Cineastas levam uma vida muito corporativa, muito pequena. Fiquei mais seguro e aprofundei coisas que eu não conhecia”.
Elenco afiado: Jabor conta com um conjunto de atores que enobrecem o registro que ambiciona fazer
Noite de gala: Na quarta-feira, dia 27 de outubro, Jabor apresentou seu filme em pré-estréia em São Paulo com parte do elenco e convidados de prestígio como o cineasta Hector Babenco
De qualquer maneira, A suprema felicidade marca o retorno de um cineasta pensador, que busca uma experiência mais altiva com o espectador: “em boa parte da produção contemporânea, o espectador é quase personagem de um videogame que é o filme e que lhe diz o quê e como deve se sentir. De tanta informação, as pessoas estão ficando cegas, e já que ninguém tem mais clareza sobre nada, decidi falar sobre uma coisa sobre a qual tenho certeza e conheço: o mundo da minha infância e da minha juventude. O filme tem um tempo, os personagens têm um tempo e o espectador também tem um tempo. A Suprema Felicidade busca uma identificação com o espectador – se conseguir isso, já fico feliz”.
é um filme que não estou totalmente curioso nem com expectativas altas, mas, claro, irei conferir!
ResponderExcluirApesar de provocador, Jabor é de fato o nome mais importante da segunda fase do Cinema Novo.
ResponderExcluirSerá difícil fazer um ele entre 'Eu sei Que Vou Te Amar' ( o momento mais interessante de Fernanda Torres no cinema) e no curta que poucos viram: 'Carnaval'.
Eu gostei do trailer e do elenco. Acho que vou gostar. Não será nenhum "Amarcord", mas pelo menos terá uma visão mais romântica e cômica do RIO, creio. Depois que assisti Tropa 2, acho que vou precisar de um filme como 'A Suprema Felicidade'
Se vou sair do cinema feliz eu não sei. Depois te digo. Rs!
Abs.
Ótima matéria!
Rodrigo
Jabor sempre foi apaixonado pelo cinema. Ele disse recentemente, acho que para um revista da Abril, que precisou "abandonar" os sets e mergulhar no jornalismo porque tinha que criar seus filhos. O cinema não rendia e ele precisava de dinheiro. Pretendo conferi "A suprema felicidade". Parece do estilo que eu curto.
ResponderExcluirAlan: Conferir filmes que não temos expectativas faz parte da conjunção cinéfila Alan.rsrs. Abs
ResponderExcluirRodrigo:Obrigado Rodrigo. Embora reconheça a importância de Jabor para o cinema brasileiro, não vejo nele um grande cineasta. Concordo que Eu sei que vou te amar seja um grande filme, mas sua obra - na minha avaliação - é rasa. Realmente não vi esse curta "Carnaval". Não achei o filme muito bom não. Terça-feira a crítica de A suprema felicidade será publicada aqui em Claquete. Abs
Augusto César:Pois é, não sei como ele conseguiu sustentar a família sendo jornalista, mas vá lá.rsrs. A suprema felicidade é idílico. Todo mundo gosta um pouco disso. Abs