Quando o outro é o espelho
Em Homens em fúria, somos apresentados a dois homens enrustidos. Não no sentido de orientação sexual geralmente atribuído ao termo, mas no sentido de esconderem seus anseios nas profundezas do inconsciente. Esse expediente dramático é muito eficiente para o cinema e para a literatura, pois possibilita um valioso conflito. Homens em fúria (Stone, EUS 2010), porém, não se detém apenas a esse componente. Na trama, Jack (Robert De Niro) e Stone (Edward Norton) apresentam visões de mundo opostas. E atravessam momentos opostos também. Ambos já vivenciaram os fatos definidores de suas vidas (no caso de Stone o crime que cometeu e no de Jack uma atitude em particular que vemos no prólogo do filme). Ambos estão às voltas com a religiosidade. Jack perambula pela igreja, mas não consegue se conectar. Stone recorre a fé para manter a serenidade que parece lhe escapar quando o conhecemos. Jack é conservador e parece acreditar nas instituições (como família, lei, Deus), embora nunca tenhamos certeza se ele acredita ou se nós acreditamos que ele acredita. Stone não dá a mínima para as instituições, até o momento em que percebe que essa postura lhe atribula mais do que ele imaginava.
Em Filadélfia, visões de mundo antagônicas se chocam em uma experiência definidora
Estamos diante de um clássico confrontamento materializado na figura de dois personagens poderosos. O ponto de intersecção passa por questões ligadas a moral e a fé. Debater a humanidade, nesses moldes, é algo que o cinema faz com certo apreço. Essa dicotomia está presente no argumento de filmes tão dispares como Filadélfia (em que advogado preconceituoso vivido por Denzel Washignton vai desvincilhando-se de seu preconceito conforme avança na defesa do personagem vivido por Tom Hanks) e Batman –o cavaleiro das trevas (em que o caótico coringa exorta as disfunções do mundo a um Batman unidimensional). O mais interessante a se observar na proposição desse exercício são as diferentes soluções aventadas nessas obras. Mesmo distintas, elas se relacionam no sentido de prover um comentário profundo das angústias humanas. A psicologia dos personagens e seus dramas legitimam esses filmes como estudos do homem e o meio.
Em 500 dias com ela, Tom acredita no amor e Summer não. O filme não terminará sem que o choque dessas visões de mundo produza mudanças na vida dos dois
Se você gostou da seção deste mês e deseja repercutir o tema abordado sob esse e outros pontos de vista, Claquete recomenda:
Filadélfia (Philadelphia, EUA 1993), de Jonathan Demme
Antes de partir (The bucket list, EUA 2007), de Rob Reiner
Batman – o cavaleiro das trevas (Batman – the dark Knight, EUA 2008), de Christopher Nolan
Tropa de elite (Brasil 2007), de José Padilha
500 dias com ela (500 days of Summer, EUA 2009), de Marc Webb
Muito bom! :)
ResponderExcluirA arte imita a vida ou é o contrário? rsrs
Bjs
Gostei, Reinaldo.
ResponderExcluirbjs
Aline: É por aí...rsrs.
ResponderExcluirbjs
Amanda: Que bom! Fico feliz! bjs