domingo, 31 de outubro de 2010

Insight

 A visão de cineastas não corporativos



Em matéria publicada por Claquete sobre o filme A suprema felicidade, Arnaldo Jabor teceu um comentário interessante. Para o diretor, o cineasta é encolhido em seu mundo. Trabalha de acordo com uma lógica corporativa que não favorece a arte que produz. “Cineastas levam uma vida muito corporativa. Muito pequena”, exclamou. Jabor desenvolve seu raciocínio estipulando que sua experiência como jornalista o ajudou a aprofundar sua visão de mundo e a suprir algumas carências que sequer desconfiava possuir. É uma construção de raciocínio interessante. Steven Spielberg, talvez a figura primária quando se visualiza a imagem de um diretor, só foi se graduar como cineasta no início desta década. Já tinha dois Oscars no currículo. Fernando Meirelles, outro diretor dos mais interessantes, é arquiteto de formação e trabalhou com publicidade (ainda trabalha) por anos a fio antes de migrar para o cinema. Gente como David Fincher e Spike Jonze vieram dos videoclipes e oxigenaram a linguagem cinematográfica na última década. Podemos presenciar também atores assumindo a cadeira de diretores e extraindo ótimos resultados tanto de seus atores quanto do roteiro como o provam as recentes incursões de Ben Affleck (Atração perigosa) e Marco Ricca (Cabeça a prêmio).
Quer dizer que é ruim ser diretor de cinema de formação? Não é essa a questão. Mas Jabor, brilhantemente, capturou a dicotomia. Não é possível radiografar algo (e o cinema em última instância pensa e repercute a sociedade) sem se aprofundar. Sem investigar. Sem experimentar. Não apenas em termos estéticos, como propõe com relativo sucesso cineastas como Jean Luc Godard e Lars Von Trier, mas em termos empíricos. Tanto Fernando Meirelles quanto Jabor não são desapaixonados pelo cinema em sua essência representativa, mas reconhecem que o mesmo pode ficar paralisado de tempos e tempos se escorado apenas em sua própria iconografia. Ao acumular experiências e percepções diversas, esses cineastas “pangarés” contribuem para a evolução do cinema enquanto arte e para a progressão de sua força representativa.

7 comentários:

  1. Apenas um diploma vale pouco sem experiência profissional e de vida. Isso vale para qualquer profissão.

    Abraço

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  2. Tarantino disse: "Eu nunca freqüentei a escola de cinema. Eu freqüentei o cinema". Acho que é por aí, é preciso ter repertório, bagagem de vida para contar uma história.

    bjs

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  3. discussão interessante, claro, que acho válido um diploma para diretor, mas acredito que um diploma, apenas ajuda na parte técnica 'em como fazer um filme'. Agora transforma uma película em um 'filme' mesmo, é algo bem diferente.
    Não sei explica, mas é por aí ... heheheh

    abs ;)

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  4. Acredito que profissionais de outras áreas só tem a contribuir para a criatividade do cinema. Mas acho ser preciso um mínimo de conhecimento para não produzir tragédias, haja vista que cinema é uma indústria cara.

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  5. Belo texto, Reinaldo! Mais do que acumular experiências, acho que um bom diretor tem que ter sensibilidade para saber o que a história que ele quer contar precisa para se tornar especial. E isso, poucos diretores possuem!

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  6. "Cineastas pangarés" foi uma expressão ótima, rsrsrs Só vc mesmo, rsrs
    Acho que quem trabalha com arte precisa mesmo expandir os horizontes. Não lembro qual escritor disse, acho que Jorge Amado, que tão importante quanto as horas que ele passava escrevendo foi as que ele passou viajando.
    Bjs,
    Aline

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  7. Hugo: Concordo com você.Mas no mundo das artes essa percepção não impera. Abs

    Amanda: Se o poeta falou...
    bjs

    Alan: Eu entendi. É por aí mesmo... abs

    Fernando:Estamos de acordo quanto ao mínimo de conhecimento Fernando. Mas tb estamos de acordo que muita gente gabaritada anda fazendo tragédias por aí né? rsrs. Abs

    Kamila: Ótimo complemento ao sentido do texto Ka. bjs

    Aline: Mais um complemento sofisticado ao texto. Obrigado. Beijos

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