A maior premiação do cinema britânico, realizada no último
domingo (16), consagrou 12 anos de escravidão como o melhor filme do ano. Além
do principal prêmio, Chiwetel Ejiofor foi eleito o melhor ator pelo filme.
Foram os dois prêmios concedidos à fita de Steve McQueen. Gravidade, por seu
turno, levou seis Baftas (filme britânico, direção, fotografia, trilha sonora,
som e efeitos visuais) enquanto que Trapaça ficou com outros três (roteiro
original, maquiagem e atriz coadjuvante para Jennifer Lawrence).
Em termos de resultados, o Bafta tem pouca influência nas
escolhas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que
outorga o Oscar. De uns tempos para cá, no entanto, quem acompanha a cobertura
da temporada de premiações em Claquete sabe que a Academia britânica aumentou
seu grau de influência na fase de indicações. Obviamente esse grau de
influência tem desdobramentos.
No caso dessa corrida pelo Oscar em particular,
particularmente mais longa do que a dos últimos anos, essa influência pôde ser
percebida pela opção de Leonardo DiCaprio (O lobo de Wall Street) em detrimento
de Matthew McConaughey (Clube de Compras Dallas). A vitória de Barkhad Abdi
(Capitão Phillips) entre os atores coadjuvantes ajuda a entender não só porque
ele chegou ao Oscar e seu companheiro de cena, Tom Hanks – indicado ao Bafta,
ficou pelo caminho, mas ajuda a perceber a força da indicação de DiCaprio.
A distribuição dos prêmios no Bafta, em pleno período de
votação para definição dos vencedores do Oscar, demonstra muitas incertezas.
Apenas Cate Blanchett, dos considerados favoritos entre os intérpretes, venceu.
McConaughey e Jared Leto, nem sequer foram indicados, e Jennifer Lawrence repetiu
o que aconteceu no Globo de Ouro e superou Lupita Nyong´o.
A performance de Gravidade, vencendo prêmios como filme
britânico e trilha sonora, também sugere uma nuvem de fumaça. Assim como 12
anos de escravidão, por seu turno, que só converteu duas de suas dez indicações
em vitória. Trapaça ,
ao contrário, venceu três prêmios em que não era – nem de longe – considerado
favorito. O que isso quer dizer? Que Gravidade é um filme sobre o qual paira
consenso absoluto, o que é muito bom para as chances do filme no Oscar; que 12
anos de escravidão surge enfraquecido para a corrida pelo Oscar, a despeito dos
prêmios conquistados no sindicato dos produtores e no Globo de Ouro; e que
Trapaça é um filme que segue construindo seu momentum. Não era nem de longe o melhor
entre os indicados a roteiro original, mas a vontade (e necessidade) de premiar
Russell falou mais alto. No Oscar, em que Spike Jonze
concorre com Ela, a permuta fica mais difícil.
Ejiofor com seu prêmio: sua vitória aumenta suas chances e as de DiCaprio no Oscar |
O que o Bafta sugere, e nessa corrida particular essa
sugestão tem grande poder de combustão, é que 12 anos de escravidão, a despeito
de sua seriedade e de tratar de um tema sobre o qual pairam cobranças por reconhecimento da Academia (escravidão), está mais distante do Oscar de melhor
filme. Matthew McConaughey pode sim ser batido pelo eterno injustiçado Leonardo
DiCaprio, ou mesmo por qualquer um de seus oponentes. E, finalmente, que
caminhamos para a primeira divisão entre diretor e filme desde que a academia
ampliou para até dez filmes os selecionados em melhor filme. No ano anterior,
vale lembrar, essa divisão ocorreu, em um gesto de tremenda incoerência, por
que Ben Affleck não estava indicado ao Oscar por Argo. Ou seja, não foi uma divisão legítima, já que Argo não competia em melhor direção. Russell tem suas chances em
direção, mas Cuarón está na dianteira inegavelmente e McQueen pode ser a
potencial surpresa, nem tanto pelo seu trabalho, mas pela tentação de fazer
história ao premiar o primeiro diretor negro com o Oscar.
Um Bafta estranho anuncia um Oscar mais imprevisível do
que de hábito e, justamente por isso, mais emocionante.
Ouvi dizer que "Clube de Compras Dallas" e "Ela" não estrearam no Reino Unido a tempo de concorrerem ao BAFTA. Se isso é verdade, foi uma tremenda mancada dos distribuidores. O BAFTA já uma parada obrigatória na temporada de premiações.
ResponderExcluirSe Leonardo DiCaprio tivesse se consagrado como melhor ator, acho que seu Oscar já estaria garantido. Você reparou que em nenhum dos prêmios que Matthew McConaughey ganhou (Critics' Choice, Globo de Ouro e SAG) ele concorria diretamente com Leo? O Oscar vai ser o primeiro momento em que eles partilham a mesma categoria. Acho que isso se deve muito ao lançamento tardio de "O Lobo de Wall Street" e ao envio em cima da hora do DVD screen para as premiações. Isso deve ter causado a exclusão do filme no SAG e em muitas associações de críticos. O SAG geralmente não tem a mesma resistência que o Oscar à Di Caprio e tenho certeza que ele entraria entre os indicados se o filme tivesse sido conferido por mais membros do sindicato. No "lugar dele" estava o Forest Whitaker, concorrendo por um filme que nem é mais comentado e que começou sua campanha muito cedo. A impressão que eu tenho é que o Oscar "lapida" os indicados pelo SAG.
É muito estranha essa história de darem pouquíssimos prêmios para "12 Anos de Escravidão" e no fim ele ganhar como melhor filme. Parece que as pessoas estão se sentindo obrigadas a premiá-lo, por ser um filme "importante". Nem ele, nem "Gravidade" estão entre os meus favoritos esse ano. Gostei mais de "Ela", "Capitão Phillips", "Nebraska" e "O Lobo de Wall Street".
Sempre muito bom acompanhar as premiações por aqui. Parabéns pelo trabalho. Abraço.
Temos um verdadeiro Oscar watcher aqui. Sempre um prazer ler seus comentários. Obrigado pelo prestígio. Pois é, "Clube de compras Dallas" e "Ela" foram prejudicados, mas não creio que tivessem um desempenho muito diferente não. Jonze talvez cavasse roteiro e Leto pudesse ser indicado a melhor ator. Mas é mera especulação.
ResponderExcluirEssa sua observação sobre o fato de DiCaprio e McConaughey ainda não terem se cruzado nos prêmios pré-Oscar é sagaz e faz parte da minha crítica dos indicados, que vai ao ar somente na véspera do Oscar. Eu bato na tecla que apenas DiCaprio reúne sólidas condições de bat o mister "al right".
Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. Vamos vendo...
abs
Oi Rei,
ResponderExcluirÉ sempre muito bom me contextualizar sobre a corrida do Oscar em claquete. Ainda não assisti a todos os filmes que concorrem ao Oscar como melhor filme, então preciso analisar melhor as previsões.
Gostei muito da direção de David O Russel e de Alfonso Cuarón, mas prefiro Ella, por enquanto, embora acho que não é o tipo de filme que ganharia os votos da Academia.
O páreo como melhor diretor deve ficar entre Russell , Cuarón e Mcqueen. Como melhor filme, não acho que Gravidade mereça porque só se destaca a direção e as virtudes técnicas. Torço por Mcqueen, ainda que vou conferir 12 anos de escravidão só no fim de semana. Bj
Cris: Eu só posso agradecer esse prestígio e carinho que vc tem por mim e pelo menu blog.
ResponderExcluirBjs