Um dos grandes sucessos do cinema no nascedouro do século
XXI foi Quero ser John Malkovich, dirigido por Spike Jonze e escrito por
Charlie Kaufman. O filme brinca com a possibilidade de um simples mortal entrar
na mente do célebre ator americano por quinze minutos.
Shia LaBeouf não é John Malkovich, talvez queira ser, mas
essa é outra história. Aos 27 anos, o ator californiano que alcançou o
estrelato como protagonista da trilogia Transformers parece viver uma crise
peculiar, ainda que terrivelmente comum no mundo das celebridades instantâneas
e da fogueira de vaidades hollywoodiana.
Tudo começou timidamente lá pelos idos de 2010, quando se
pôs a diminuir a relevância da série Transformers e assumir uma culpa, que
ninguém via, pelo quarto Indiana Jones, que estrelou em 2008, ser abaixo das
expectativas dos fãs. LaBeouf começou a flertar com projetos mais sérios. Rodou
a sequência Wall Street: pode e cobiça com Oliver Stone e filmes menores, em
projeção, mas não em ambição, como Os infratores (2012), Sem proteção (2012) e Conquistas perigosas (2013).
LaBeouf dava declarações polêmicas, dizia-se interessado em
expressar-se artisticamente e cansado da vida hollywoodiana. Fez um
curta-metragem e, depois de surgirem acusações de plágio, confessou ter se
enrolado nos limites entre inspiração e cópia. Para pedir desculpas ao
plagiado, contratou um avião para desenhar as desculpas no céu com fumaça. Foi criticado
pelo gesto megalomaníaco nas redes sociais e chegou a trocar farpas com
personalidades de sua estatura em Hollywood, como a criadora da série Girls,
Lena Dunhan. Suas divagações filosóficas no Twitter logo foram postas em
suspeição também. Descobriu-se que grande parte era reprodução não creditada.
LaBeouf então anunciou sua retirada da vida pública. Em paralelo corria atrás
de Lars VonTrier prometendo fazer sexo e cenas de nudez explícita para estar em seu Ninfomaníaca.
No último festival de Berlim, para promover a versão integral e sem cortes do
filme de Von Trier, o ator surgiu com um saco de papel na cabeça com os dizeres
“não sou mais famoso”. Na mesma cidade montou uma exposição de artes plásticas
em que a principal obra era ele. A ideia era ele ficar em uma sala escura, com
o saco de papel na cabeça, e olhando fixamente para quem se dispusesse a
compartilhar daquele silêncio incômodo com ele.
LaBeouf em Berlim: egocentrismo exacerbado ou algo a dizer?
A exposição foi pouco concorrida. Ele decidiu levar essa
manifestação artística para Los Angeles, onde está em cartaz. Entrando
na galeria, escolhe-se um objeto entre os muitos que estão à disposição do
frequentador. Uma jarrinha com tuítes agressivos contra ele, um bonequinho de
Optimus Prime e coisas que, de alguma maneira, remetam a LaBeouf, por mais
discreta que seja a relação. A pessoa entra na sala escura e lá está LaBeouf
com o saco de papel na cabeça e com olhos marejados olhando fixamente, sem
tempo determinado, para ela.
É uma crítica ao culto a celebridade? LaBeouf está tentando
uma elaboração artística sobre o significado de celebridade? Ou apenas quer
atenção? Não é a primeira vez que astros do cinema tentam radicalizar a relação
com a indústria que os molda. Joaquin Phoenix, há não muito tempo atrás, fingiu
que tinha largado tudo para trás para seguir carreira de rap. Surgia barbudo,
descabelado e fedido e falava coisas sem sentido. Era tudo um documentário exagerado
sobre o ônus da fama. O ator deixou-se filmar recebendo sexo oral e com alguém
defecando sobre ele.
Quero ser John Malkovich, em sua proposta surrealista,
Phoenix e LaBeouf revelam um mal-estar empírico, desabrido e de difícil
elaboração. LaBeourf, à distância que a avaliação permite, parece não se
reconhecer mais e mergulhado em uma melancolia que Sofia Coppola tão bem
circundou em The Bling
ring – a gangue de Hollywood.
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