É oficial. Estamos em mais uma corrida pelo Oscar. Neste estágio inicial são muitos os pretendentes e 2011 sugere que a corrida será intensa. Em parte pelas novas diretrizes da academia e, também, pelo alto nível de muitos dos concorrentes: Steven Spielberg, Clint Eastwood, David Fincher, Martin Scorsese, David Cronenberg, George Clooney, Meryl Streep, Brad Pitt, Michelle Williams e por aí vai.
Esta semana que se encerra abriu oficialmente a temporada de premiações no cinema. Na terça-feira foram anunciados os concorrentes ao Indenpendent Spirit Awards, evento que premia os filmes independentes e tradicionalmente entregue na véspera do Oscar. No mesmo dia, a associação de críticos de Nova Iorque revelou sua escolha dos melhores do ano. E ontem foram anunciados os vencedores do National Board of Review (NBR), prestigiada associação de críticos, acadêmicos e historiadores de cinema. A mais antiga instituição a outorgar prêmios na sétima arte.
É precoce apontar tendências e favoritos, contudo, um painel com algumas certezas e outros questionamentos já se eriça. A opção da associação de críticos de Nova Iorque de antecipar o anúncio dos seus escolhidos (tradicionalmente ocorre na terceira semana de dezembro) não deve ter nenhum outro efeito que não a maior atenção midiática que recebeu. Historicamente a crítica de Nova Iorque diverge muito do Oscar e dos principais prêmios da temporada. Com exceção do ano passado em que elegeu A rede social o melhor filme do ano – algo que só na seria chancelado pelo Oscar. No entanto, a escolha do francês The artist – que ganhou como melhor filme e direção – pode ser o sinal de que filmes mais tradicionais (em estrutura e narrativa) poderão ser protagonistas da temporada. Sugere, ainda, combinada com a escolha do NBR, que a percepção que se tem da produção cinematográfica em 2011 é de que não houve muita coisa digna de nota. O vencedor do NBR é um filme que, até pouco tempo atrás, analistas não colocavam como sério candidato na corrida pelo Oscar.
A vitória de A invenção de Hugo Cabret atesta que o filme alimenta fortes chances no Oscar. Nos últimos dez anos, todos os vencedores do NBR foram indicados a melhor filme. Em metade dessas vezes, saiu com o Oscar de melhor filme.
Outro importante ponto a se observar é a lista dos dez melhores filmes do ano divulgados pela instituição. O NBR sempre teve um aproveitamento muito bom em antecipar os futuros concorrentes ao Oscar.
As escolhas do NBR
Não deixa de ser surpreendente a vitória de Hugo. Martin Scorsese é um dos favoritos do NBR. Venceu por Os infiltrados em 2006, quando também ganhou como diretor, e no ano passado teve o seu Ilha do medo incluído entre os dez melhores filmes do ano. A opção por Hugo, e a inclusão de filmes como The artist, Cavalo de guerra e A árvore da vida entre os dez melhores, denota uma predileção por um cinema mais clássico – ainda que esteticamente inquieto.
George Clooney foi eleito o melhor ator do ano por Os descendentes e caracterizou um recorde para a NBR. Foi a terceira vitória de Clooney em cinco anos. Ele venceu por Conduta de risco (2007) e Amor sem escalas (2009). Clooney teve ainda seu Tudo pelo poder escolhido como um dos dez filmes do ano. Mais uma demonstração de que ele será um dos protagonistas da temporada de premiações. Outro forte protagonista deverá ser Os descendentes, que embora não tenha ganhado o principal prêmio, faturou três troféus (ator, atriz coadjuvante e roteiro adaptado) e foi incluído entre os dez melhores filmes do ano.
A atriz Tilda Swinton, cuja performance em Precisamos falar sobre Kevin é muito elogiada, foi escolhida a melhor atriz do ano. Os desempenhos coadjuvantes louvados foram os de Christopher Plummer (Toda forma de amor) e Shailene Woodley (Os descendentes).
George Clooney e Shailene Woodly, nomes quentes na corrida pelo Oscar, em cena de Os descendentes: com três prêmios em cinco anos, Clooney é um dos favoritos do NBR
Outras duas escolhas interessantes e que devem reverberar na temporada foram Michael Fassbender que recebeu a distinção de “destaque do ano” já que apareceu, e bem, nos filmes Shame, Jane Eyre, X-men: primeira classe e Um método perigoso; e J.C. Chandor escolhido melhor diretor estreante por Margin Call – o dia antes do fim, filme independente que deve fazer bonito na temporada.
Melhor Filme: Hugo
Melhor Diretor: Martin Scorsese (Hugo)
Melhor Ator: George Clooney (Os Descendentes)
Melhor Atriz: Tilda Swinton (Precisamos Falar Sobre Kevin)
Melhor Ator Coadjuvante: Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Melhor Atriz Coadjuvante: Shailene Woodley (Os Descendentes)
Melhor Roteiro Original: Will Reiser (50/50)
Melhor Roteiro Adaptado: Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash (Os Descendentes)
Melhor Animação: Rango
Revelação: Felicity Jones (Like Crazy) e Rooney Mara (Os Homens que Não Amavam as Mulheres)
Melhor diretor estreante: J.C. Chandor (Margin Call – O Dia Antes do Fim)
Melhor Elenco: Histórias Cruzadas
Melhor Filme Estrangeiro: A Separation (Irã)
Melhor Documentário: Paradise Lost 3: Purgatory
Os 10 melhores filmes do ano: The Artist, Os Descendentes, Drive, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, Harry Potter e as Relíquias da Morte - parte 2, Tudo Pelo Poder, J. Edgar, A Árvore da Vida, Cavalo de Guerra.
Os 5 Melhores Filmes Estrangeiros: 13 Assassinos, Tropa de Elite 2- o inimigo agora é outro, Footnote, Le Havre, Point Blank.
Os Melhores Documentários: Born to be Wild, Buck, George Harrison: Living in the Material World, Project Nim, Senna.
Os 10 melhores filmes independentes: 50/50, Another Earth, Toda Forma de Amor, A Better Life, Cedar Rapids, Margin Call, Shame, O Abrigo, Precisamos Falar Sobre Kevin, Win Win.
As escolhas da crítica de Nova Iorque
Se existe uma certeza que move qualquer avaliação dos premiados pela crítica de Nova Iorque é de que Harvey Weinstein é um cara popular por lá. Ele conseguiu os principais prêmios para filmes que distribui (A dama de ferro e The artist). Mas, curiosamente, o filme que mais pode ganhar impulso com as escolhas de Nova Iorque não são nenhum desses dois. É O homem que mudou o jogo, que recebeu o troféu de melhor roteiro – escrito pelos papas Aaron Sorkin e Steve Zaillian – e teve Brad Pitt eleito melhor ator.
Os críticos, aliás, atribuíram à vitória de Pitt seu desempenho em A árvore da vida. Assim como fizeram com sua companheira de cena, Jessica Chastain, eleita melhor atriz coadjuvante pelos filmes O abrigo, Histórias cruzadas e A árvore da vida.
O iraniano A separation, que brilha internacionalmente desde o festival de Berlim, foi escolhido o melhor filme estrangeiro. A mesma escolha foi feita pelo NBR.
As escolhas de Nova Iorque, tradicionalmente, repercutem pouco pelos outros prêmios. Um necessário aparte às categorias de atuação. A chancela desse colegiado à atuação de Meryl Streep em A dama de ferro, portanto, pode ser entendida como mais um aval da crítica à atriz. Contudo, em um ano com ótimos desempenhos femininos alinhavados, ainda é cedo para dizer se Meryl Streep chega forte ao Oscar. Ou mesmo se chega.
Certo é que a fotografia de Emmanuel Lubezki por A árvore da vida, salvo algum desencontro inexplicável, deve seguir como favorita ao Oscar. Talvez seja o único aspecto do filme de Terrence Malick realmente merecedor de prêmios.
Melhor filme: The artist
Melhor Diretor: Michel Hazanavicius (The Artist)
Melhor Roteiro: Steven Zaillian e Aaron Sorkin (O Homem Que Mudou o Jogo)
Melhor Ator: Brad Pitt (O Homem Que Mudou o Jogo e A Árvore da Vida)
Melhor Atriz: Meryl Streep (The Iron Lady)
Melhor Ator Coadjuvante: Albert Brooks (Drive)
Melhor Atriz Coadjuvante: Jessica Chastain (A Árvore da Vida, O Abrigo e Histórias Cruzadas)
Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezki (A Árvore da Vida)
Melhor Filme de Estréia: Margin Call – O Dia Antes do Fim
Melhor Documentário: Cave of Forgotten Dreams
Melhor Filme Estrangeiro: A Separation (Irã)
Brad Pitt, premiado pela crítica de Nova Iorque, em cena de A árvore da vida: apesar do entusiasmo inicial, o filme só deve chegar ao Oscar na disputa por categorias técnicas
Os concorrentes ao Spirit
A primeira grande surpresa da lista apresentada pelo Spirit foi a elegibilidade de The artist para as categorias principais. O que não ocorreu com Shame e Melancolia que ficaram restritos à disputa pelo troféu de filme estrangeiro. O estatuto do Spirit Awards exige que o filme seja parcialmente rodado nos EUA ou que tenha, pelo menos em parte, financiamento americano. Ocorre isso com The artist. Ainda que de forma bem modesta e, obviamente, discutível. Influências de Harvey Weinstein à parte, as outras grandes surpresas da lista do Spirit Awards – que o leitor confere abaixo – foram as ausências de George Clooney entre os atores, de Glenn Close entre as atrizes e a falta de “carinho” com Meia noite em Paris, um virtual favorito que ficou apenas na indicação para ator coadjuvante.
Dos concorrentes a melhor filme, Os descendentes, The artist e Drive apresentam indicações sólidas. Mas a fita francesa surge como uma concorrente mais encorpada.
Melhor filme
50/50
Toda Forma de Amor
Drive
O Abrigo
The Artist
Os Descendentes
Melhor Diretor
Mike Mills (Toda Forma de Amor)
Nicolas Winding Refn (Drive)
Jeff Nichols (O Abrigo)
Michel Hazanavicius (The Artist)
Alexander Payne (Os Descendentes)
Melhor filme de Estreia
Another Earth
In the Family
Margin Call – O Dia Antes do Fim
Martha Marcy May Marlene
Natural Selection
Melhor Roteiro
Joseph Cedar (Footnote)
Michel Hazanavicius (The Artist)
Tom McCarthy (Win Win)
Mike Mills (Toda Forma de Amor)
Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash (Os Descendentes)
Melhor Atriz
Lauren Ambrose (Think of Me)
Rachel Harris (Natural Selection)
Adepero Oduye (Pariah)
Elizabeth Olsen (Martha Marcy May Marlene)
Michelle Williams (Uma Semana com Marilyn)
Melhor Ator
Demian Bichir (A Better Life)
Jean Dujardin (The Artist)
Ryan Gosling (Drive)
Woody Harrelson (Rampart)
Michael Shannon (O Abrigo)
Melhor Atriz Coadjuvante
Jessica Chastain (O Abrigo)
Anjelica Huston (50/50)
Janet McTeer (Albert Nobbs)
Harmony Santana (Gun Hill Road)
Shailene Woodley (Os Descendentes)
Melhor Ator Coadjuvante
Albert Brooks (Drive)
John Hawkes (Martha Marcy May Marlene)
Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
John C. Reilly (Cedar Rapids)
Corey Stoll (Meia-Noite em Paris)
Melhor Fotografia
Joel Hodge (Bellflower )
Benjamin Kuh-Sulk (The Off Hours)
Darius Kond-Jee (Meia-Noite em Paris )
Gui-omme Shiffman (The Artist)
Jeffrey Waldron (The Dynamiter)
Melhor Documentário
An African Election
Bill Cunningham New York
The Interrupters
The Redemption of General Butt Naked
We Were Here
Melhor Filme Estrangeiro
A Separation
Melancolia
Shame
O garoto da bicicleta
Tiranossauro
Christopher Plummer, um dos bem cotados da temporada, e Ewan McGregor em cena de Toda forma de amor, já disponível nas locadoras brasileiras
Kevin Spacey e Zachary Quinto fazem parte do estrelado Margin Call, que debutou no último festival de Sundance e pode chegar ao Oscar com relativo destaque
Dez certezas que a semana trouxe para a temporada de premiações:
1-Será uma disputa mais intensa do que a dos últimos dois anos e as mudanças propostas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem tudo a ver com isso
2-Dificilmente Albert Brooks (Drive) e Christopher Plummer (Toda forma de amor) ficam fora da disputa pelo Oscar de ator coadjuvante
3- George Clooney pode não ser o líder na corrida pelo Oscar de melhor ator
4- Os filmes independentes podem ser os grandes protagonistas da temporada
5-O iraniano A separation desponta como favorito ao Oscar de filme estrangeiro
6-O cultuado Drive pode surpreender
7-Glenn Close (Albert Nobbs) e Viola Davis (Histórias cruzadas), diferentemente de prognósticos precipitados, ainda não se garantiram como líderes na briga por indicação ao Oscar de atriz
8- O brasileiro Tropa de elite 2: o inimigo agora é outro, incluído entre os principais filmes estrangeiros pelo NBR ganha um gás em um importante momento da corrida por uma indicação ao Oscar
9- O filme Margin Call – o dia antes do fim, fita independente presente nas três premiações, pode ser um dos azarões do Oscar
10- Aaron Sorkin (vencedor do Oscar por A rede social) será mais uma vez forte concorrente na categoria de roteiro adaptado por O homem que mudou o jogo
Aeee, Oscar Watch 2012 oficialmente aberto! o// Um dos melhores endereços na net para se acompanhar a temporada de prêmios é aqui, modéstia à parte, viu! =]
ResponderExcluirBelo diagnóstico, Reinaldo, acho que "Drive" tá vindo para surpreender mesmo, achei que o estilo "violência estilizada" não iria passar de pequenas lembranças, mas ele está se fortalecendo nas premiações, e isso é ótimo.
Agora, não acho que Clooney será "o homem do ano" como ele foi em 2006. O líder do Oscar 2012 acho que tem tudo para ser Steven Spielberg. O cara produziu milhões de filmes esse ano rs, e ainda dirige 2 que vêm fortes: "Cavalo de Guerra", aposta na categoria principal, e "Tintin", aposta em animação. Veremos... esse Oscar 2012 tá mais com cara de 94 hehe.
E quanto a "A Árvore da Vida", o filme merece muito mais louros do que apenas a fotografia para Lubezki. Chastain levita no filme, os efeitos são magistrais e a própria direção de Malick, sutil e rica em simbologias, merece distinção. Filmaço, ficaria muito feliz se chegasse lá, mas tenho minhas dúvidas...
Legal que "The Artist" e "Hugo", dois dos filmes que mais tenho curiosidade de ver, deram a largada com prêmios. Que vença o melhor!
abs!
Por que não há um 'Melhor Música' de uma categoria de filme? Se houvesse, eu recomendo a música da cena musical viu em 'Terra Outro'. Você pode ouvi-la no site do compositor http://www.scottmunsonmusic.com/news/music-in-film-another-earth-soundtrack
ResponderExcluirA briga será bastante acirrada no ano que vem! "Hugo" e "The Artist" são filmes que me surpreenderam neste sentido. Não imaginava que ambos teriam força para ganhar os festivais.
ResponderExcluirReinaldo, também comecei um Pré-Oscar lá no blog, podemos trocar figurinhas durante o mês! rsrs
ResponderExcluirFalando sério, não acreditei quando vi que Hugo venceu o NBR! Achei que era um filme despretensioso, mesmo tendo Scorsese por trás dele, que não chegaria forte para as premiações, e pelo visto em enganei!
Fiz uma matéria sobre as chances de Harry Potter chegar ao Oscar, e venho perguntar o que tu acha: HP chega lá ou não??
Abçs
Elton: Obrigado pela deferência pelo reiterado voto de confiança meu amigo. Acho que "Drive" pode ser impulsionado justamente pelos prêmios da crítica e, quem sabe, pela "liberalidade" da HFPA.
ResponderExcluirOlha, acho que Clooney vai fazer bonito sim. Talvez não na mesma envergadura de 2006, mas não descartaria indicações para Tudo pelo poder. E Clooney me parece a única certeza momentânea na corrida entre os atores.Agora, diferentemente de 2006, pode ser q ele não ganhe nada...
Acho que Tintim não vem como favorito em animação (o posto é de Rango) e que Spielberg, apesar de forte, não deve repetir 94. Mas vamos aguardar! São impressões preliminares.
Agora, discordo muito de vc em relação "A árvore da vida". Acho que o filme merece distinções apenas nas categorias técnicas sim. Acho q seria muito injusta uma indicação de direção para Malick. E "Hugo" e "The artist" são filmes que eu estou curiosíssimo para assistir.
Abração!
Michele: Valeu Michele.
Alan: Eu já sabia que "Hugo" seria coia boa. É Scorsese, né? Mas ainda será necessário observar um pouco mais para saber a real dimensão da função de "Hugo" nessa oscar season e o pq do filme ter dado a largada. Quanto a "the artist", por melhor que o filme seja, a razão da força é Harvey Weisntein.
Abs
Eri Jr: E eu vou lá conferir o seu especial!
E anota aí o que eu vou te dizer: Scorsese pode fazer pelo 3D tudo o que o James Cameron sonhou e não conseguiu.
Vou fazer uma matéria sobre as chances de HP. Já a programei para depois das indicações do Globo de ouro. Não acho que HP tenha grandes chances no Oscar não. Se fossem dez filmes garantidos, talvez, mas como a nova regra exige que para ser indicado a melhor filme, a produção tenha 5% da preferência do colegiado, a coisa fica mais difícil...
E caso chegue lá, ao contrário do que alguns circundam. O filme não tem estofo para ganhar o Oscar. Mas falarei mais sobre isso adiante. Fique por perto.
Abs
É, foi dada a largada, fico ainda mais curiosa em relação a Hugo. Vamos acompanhando as apostas, hehe.
ResponderExcluirE adorei ver que não esqueceram Rango, mesmo estreando no início do ano, para mim foi a melhor animação do ano mesmo.
bjs