terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Crítica - Tudo pelo poder

O declínio do idealismo

É inegável que a política é uma arte. Fascinante e assustadora desde os tempos de Shakespeare, onde George Clooney foi buscar referências para Tudo pelo poder (The ides of march, EUA 2011). Mas o mais venerado dramaturgo da história da humanidade não é a única referência que serve como base para o texto de Clooney, Grant Heslov e Beau Williams, este último adaptando a própria peça “Farragut north”. Recentes escândalos que marcaram a política americana servem como parâmetro para o filme que, mais do que adentrar o jogo de bastidores que pauta o jeito de se fazer política, visa observar a queda do idealismo. Isso ocorre, argumenta Clooney com seu filme, em qualquer ofício; mas é inescapavelmente mais rápido e aterrador em um ambiente político. A fraqueza humana, a sedução do poder e as bifurcações entre corrupção e ambição são bem delineadas em um filme que não se furta a apresentar o cinismo como uma das maiores chagas de nossos tempos.
O personagem de Paul Giamatti, Tom Duffy, adverte Stephen Meyers (Ryan Gosling) em um dado momento: “Saia enquanto há tempo. Antes de você virar um cínico”. Meyers, fatalmente, simboliza Clooney no que tange à falência de certos ideais. O poder corrompe a todos que toca e a transformação sofrida por Meyers no decorrer da fita abaliza esse argumento. É impossível dissociar Obama de Mike Morris, o presidenciável democrata vivido brilhantemente por George Clooney em Tudo pelo poder. Desde os cartazes cuidadosamente inspirados em Obama que marcam a campanha de Morris, até o próprio espírito do discurso do candidato. Contudo Morris é, na verdade, um amálgama de muitos presidentes e presidenciáveis democratas (Bill Clinton é outro que salta aos olhos). Clooney, com seu filme, reconhece que os republicanos são melhores do que os democratas em realizar campanhas políticas, em "brigar na lama". Mas não imuniza os democratas. Atira, também, na hipocrisia que reveste o americano médio. “Você pode começar uma guerra, quebrar o país, mas não pode dormir com a estagiária. Eles te pegarão por isso”, é um dos vértices do diálogo mais incendiário da fita.

Hoffman e Clooney em cena de Tudo pelo poder: uma crônica sobre a derrocada do idealismo


O comentário mais importante de Clooney enquanto realizador versa sobre o esfacelamento do idealismo. Aquilo que nos move avante. Nesse sentido, o filme é de uma força extraordinária. O que incorre em uma crítica à forma como vem sendo percebido. Há, embora sejam minoria, acusações de que Clooney soe ingênuo ao apresentar Tudo pelo poder como se fosse algo novo ou expressivo das coisas da política. Basta um pouco de senso crítico para perceber que não é o caso aqui. Trata-se de um filme bem dirigido, magnificamente interpretado, com um texto primoroso e com um norte bem claro: desmistificar. Não há ponderação que se sobreponha à imagem de Ryan Gosling, ator que nunca esteve tão expressivo, em meio às sombras, antes dos créditos subirem.
Tudo pelo poder não é um gracejo político de Clooney, um democrata convicto, mas sim uma carta aberta a todos aqueles que esperam por redenção. Ela não virá de um palanque. 

7 comentários:

  1. Tenho um blog recém-criado de cinema, gostaria de propor um acordo de anúncio mútuo, eu anúncio seu blog e você o meu
    Se tiver interesse meu blog é cultcinematografico.blogspot.com e meu e-mail é cavgustavomadeira@hotmail.com

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  2. Estou doida para assistir a este filme, especialmente porque o George Clooney sempre me parece se sair muito bem com essas tramas mais politizadas. Parabéns pelo texto!

    Beijos!

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  3. Estou doido pra ver. A temática me interessa bastante. Sem contar que gosto bastante de Clooney (:

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  4. Uau! Nossa, depois da sua crítica o filme me parece mais pertinente e interessante do que eu imaginava antes - ah, quero muito vê-lo! Entrará na minha lista cinematográfica 2012 rsrsrs

    Bjs,
    Aline

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  5. Excelente filme, entrou no finalzinho do tempo regulamentar na minha lista dos melhores do ano, que publiquei hoje:
    http://cambioedesligo.blogspot.com/2011/12/os-melhores-filmes-de-2011.html

    Abraço!

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  6. Bela análise, Reinaldo. Trouxe a essência do filme, e, de fato, Clooney pode ser tudo, menos ingênuo. E nos deu um belo filme para pensar.

    bjs

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  7. Gustavo: vou visitar o seu blog sim Gustavo. Quem sabe não vira o display?
    Abs

    Kamila: Ele se sai muito bem com essas tramas politizadas.
    Bjs

    Alan: Somos dois que gostamos. E vc vai adorar o filme que é excelente.
    Abs

    Aline:rsrs. Certeza que vc vai gostar.
    bjs

    Diego: Tava sumido daqui hein doutor? Tradição nossa essa das listas né? Vou lá conferir a sua.
    Abs

    Amanda: Obrigado. Verdade verdadeiríssima querida colega.
    bjs

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