O adeus de um imortal
Morreu no último sábado, 9 de abril, um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. O superlativismo da afirmação não é fruto de consternação momentânea ou adoração incontida. Nascido na Pensilvânia, mas com alma nova-iorquina, Sidney Lumet manteve-se ativo como cineasta até os 86 anos, idade com que partiu dessa terra –vítima de um linfoma. Lumet, tal qual cineastas do quilate de Woody Allen e Martin Scorsese, construiu seu cinema referenciando Nova Iorque. Mas Lumet tinha a seu favor algo que faltava aos outros. Foi ele quem patenteou a chamada “estética das ruas” nos anos 70. Foi com filmes como Sérpico (1973) e Um dia de cão (1975), filmados de maneira crua, sem rompantes estilísticos e com total confiança em um ator chamado Al Pacino, que foi sedimentado um novo cinema sobre alguns estratos sociais típicos de Nova Iorque. Sem meias verdades. Mas Lumet, apesar da resistência em padronizar-se como diretor, era um cineasta encorpado. Dirigiu todo tipo de filme. Das comédias (Garbo talks, Glória) aos dramas (O veredicto, Uma estranha entre nós e O homem do prego), mas foi nas ruas que se fez. Algumas de suas melhores fitas são tensos filmes policiais (Q & A – sem lei, sem justiça, Armadilha mortal e Sombras da lei). Os tribunais também lhe inspiravam. Colocou Vin Diesel em um improvável papel dramático em seu penúltimo filme como realizador, Sob suspeita (2006). O primeiro filme de Lumet data de 1957. É, até hoje, o melhor drama de tribunal da história do cinema. Ainda que se passe quase que exclusivamente na sala dos jurados. 12 homens e uma sentença é um filme vigoroso que demonstra todo o talento de Lumet para contar uma história no ritmo e intensidade que lhe interessam. Antes do clássico estrelado por Henry Fonda, Lumet já dirigia telefilmes e episódios de seriados.
Lumet orienta a atriz Charlotte Rampling nos sets de O veredicto (1982) |
Outro marco significativo na carreira do diretor foi Rede de intrigas (1976). Filme que reverberava o poder da mídia e antecipava tendências que atingem o seu ápice hoje.
Quatro vezes indicado ao Oscar como diretor e uma outra como roteirista, Sidney Lumet recebeu um Oscar honorário em 2005. Parte sem a merecida consagração da academia. Ela poderia ter vindo por Antes que o Diabo saiba que você está morto (2007), seu último filme. Um tenso, vigoroso e acachapante thriller em que dois irmãos decidem roubar a joalheria dos pais. O último filme de Lumet é uma obra prima tão demolidora e consistente quanto seu primeiro filme. Um diretor que apresentou uma obra coesa, itinerante e pensativa. Negou-se a ser maior do que seus filmes, em uma prova de amor ao cinema maior do que à própria vaidade.
O cinema perde um artista que dominava seu ofício como poucos e que deixa uma filmografia não menos que espetacular. Perguntado sobre o porque ainda fazia filmes já aos 80 anos, Lumet, singelamente, declarou: “Porque eu ainda gosto!”
Adorei a foto de 12 homens e uma sentença aí no topo do blog. Bela lembrança e homenagem. Acho esse filme o mais genial de todos. A forma como um vai convencendo os demais e como a câmera vai acompanhando a angústia deles ali naquela sala, que vai ficando apertada, quente. É lindo. Fora que sustentar um filme é uma sala não é fácil.
ResponderExcluirbjs
Grande artesão. Resumiu bem Reinaldo, ótimo texto.
ResponderExcluirAntes que o Diabo saiba que você está morto foi um dos filmes que eu revi recentemente. Um post em breve.
Apesar de alguns erros, Lumet deixou obras-primas.
Abs.
RODRIGO
Até o destino o colocou ao lado (e com um) dos melhores da história, pois ele partiu sem o reconhecimento devido da academia, bem como Kubrick, Hitckcock, Fellini, Kurosawa, não ganhou um unico Oscar, que agora um tal de Tom Hooper tem...mas enfim, vai entender ne??!!!
ResponderExcluirBela homenagem, Reinaldo! Acho que a gente lamenta mesmo a morte do Sydney Lumet não só pelo fato de ele ter sido um grande diretor, com uma gama variada de bons filmes, mas, especialmente, por estar ainda entregando bons filmes, como "Before the Devil Knows You're Dead".
ResponderExcluirCompartilho da mesma opinião da Amanda. Acho 12 Homens e Uma Sentença genial. Dirigir um filme em praticamente um único ambiente, com cenas longas e interpretações fortes não é pra qualquer um. É o meu filme preferido dele.
ResponderExcluirComo cena inesquecível dos filmes do diretor eu fico com o Al Pacino gritando "Attica! Attica!" em Um Dia de Cão. Não podia deixar de lembrar essa.
Ótimo texto como sempre. Abraço.
Amanda:Obrigado Amanda. Bjs
ResponderExcluirRodrigo:Não acho que a carreira dele tenha sido irregular como muitos gostam de apontar. O que chamamos de erros, são filmes que não são sublimes. São just ok...
Abs
Diego: Vai que o Tom Hooper vira um grande diretor... rsrs. A academia tá se previnindo agora... rsrs
Abs
Kamila:É verdade. Bjs
Vitor Batista:12 homens e uma sentença é, na minha opinião, seu melhor filme mesmo.
Valeu pelos elogios.
Abs