Em uma reportagem exclusiva, Claquete desvenda porque Amor?, o novo filme de João Jardim, incomoda tanto quanto agrada
Eduardo Coutinho, reconhecidamente um dos melhores documentaristas do Brasil e do mundo, relativizou de vez a verdade dos documentários com o soberbo Jogo de cena. Antes dessa constatação contingencial é necessário frisar que o gênero documentário no Brasil vive um momento de ebulição. Há poucos dias, em entrevista para o site UOL, o jornalista e fundador do festival É tudo verdade, Amir Labaki, admitiu que os documentários estão mudando. Estão mais sofisticados e carregam forte nos arquétipos, até então, exclusivos da ficção. O que pode ser facilmente diagnosticado em Senna, do britânico Asif Kapadia. No filme, a trajetória do piloto brasileiro é reconstituída obedecendo aos alicerces da trajetória do herói, fundamento semiótico tão caro a filmes como O rei leão, por exemplo.
Amor?, do documentarista João Jardim, avança a questão proposta por Eduardo Coutinho combinada com a apropriação vislumbrada em Senna. Amor? é um filme difícil de definir em sua amplitude temática, mas ainda mais difícil de definir em sua estruturação. Jardim selecionou, tal qual Coutinho para seu filme, histórias de pessoas anônimas e as colocou na tela sob os cuidados de atores. Só que João Jardim, diferentemente de Coutinho, não quer subverter a linguagem cinematográfica. Quer renová-la. Foram escalados atores famosos e sabe-se de antemão que são atores vivendo aqueles personagens. Não há o choque da descoberta. Jardim reconstitui através desses atores, então, as oito histórias selecionadas para seu filme.
A atriz Lilia Cabral se prepara para gravar seu segmento, que abre o filme, em que vive uma mulher que se reconcilia com o marido após vivenciar um episódio de violência física
Onde acaba o amor?
A matéria prima da fita é o amor. Mas não só ele. O que liga as oito histórias é a incidência da violência. Ainda que em escalas e conjunturas distintas, a violência é tão significativa quanto o amor na proposição de Jardim. É dessa bifurcação que surge a grande questão do filme, antecipada pelo ponto de interrogação presente no título. Jardim direciona a pergunta para a platéia em um filme pensativo e original.
Desde o slogan o espectador é convidado à introspecção: “O mais irritante no amor é que se trata do tipo de crime que exige um cúmplice”. A frase de Charles Baudelaire sublinha o paroxismo que a fita de Jardim tenta capturar.
A fita, uma co-produção da Copacabana Filmes e do canal GNT, estréia no dia 15 de abril nos cinemas brasileiros. O elenco conta com Lilia Cabral, Eduardo Moskovis, Letícia Collin, Cláudio Jaborandy, Silvia Lourenço, Fabiula Nascimento, Mariana Lima, Ângelo Antônio e Júlia Lemmertz.
Fotos: divulgação
Estou louca para ver esse filme, pena que só chega aqui dia 22. Dia 15 tem até pré-estreia, mas não vou poder ir... O jeito é esperar.
ResponderExcluirÓtimo texto, Reinaldo. Essa mistura de documentário e ficção, essa discussão, experimentação é ótima.
bjs
A idéia me cativou Reinaldo e espero que o resultado também.
ResponderExcluirA fronteira com a ficção faz de um documentário uma ótima sessão e mais agradável. Já assistiu aquele doc. sobre a Bruxa De Blair? Que explora de forma inteligente e documental (aqueles feitos pra TV) sobre a lenda local e o desaparecimento dos atores que encenavam eles mesmos na fita. Rs! É ótimo e bem divertido esta fronteira. Tudo bem que isso foi num enredo de terror. Verei agora se com a palavrinha mágica responderá esta interrogação.
Ótimo texto!
Abs.
RODRIGO
Ao menos Lixo Extraordinário é extraordinário!
Vi algumas pessoas falarem, mas sinceramente não me interessei... até ler o seu texto. Aliás, qualquer filme que esteja na mesma sentença de um "Jogo de Cena" a sessão é obrigatória, não é mesmo? Do Jardim, só vi a co-direção dele no recente "Lixo Extraordinário", que é emocionante, mas têm problemas que me incomodaram demais.
ResponderExcluirquero conferir esse "Amor?", mas sabe Deus quando vai chegar por aqui... SE chegar =)
abs, Reinaldo! o/
Você me ganhou quando fez a comparação com "Jogo de Cena". Fiquei curiosíssima em relação ao filme!
ResponderExcluirMaravilha, rapaz.
ResponderExcluirAcabei de linkar teu blog aqui, nas "Outras Ebulições", e já estou te seguindo também. Siga-nos também, sim?
Gostei bastante das colunas com as quais você trabalha por aqui.
Amanda: Valeu Amanda. Vc vai gostar do filme. É dos mais interessantes de 2011 até aqui... bjs
ResponderExcluirRodrigo: Achei horrível A bruxa de Blair.rsrs.Sério mesmo. Cansativo, enganador, falho e tasca adejetivo ruim aí... Totalmente diferente da experiência proporcionada por Amor?. Mesmo que vc tenha curtido, reconhecerá que aqui a proposta, além de ser mais sofisticada,o resultado é melhor.
Abs
Elton: Pô cara, valeu pelo plus desse comentário. Lixo estraordinário é inferior a esse filme enquanto cinema. Pode apostar.
Abs
Kamila: Que bom! Bjs
Luiz Santiago: Valeu meu caro. Não é plim plim, mas a gnt se vê por aqui.
Abs