Indicado a sete Oscars, vencedor de três Globos de ouro entre outros prêmios, Quanto mais quente melhor (Some like it hot, EUA 1959) é a melhor concepção de cinema de vanguarda. A fita de Billy Wilder é categórica em apresentar um tipo de comédia que conjuga elementos maliciosos, introduzindo noções sexuais em uma ambientação casta, e elementos tão pudicos quanto inocentes. Quanto mais quente melhor é, em uma análise mais encorpada, um filme agudo no que se propõe. Ironias veladas e subtextos profundos.
É sintomático que o filme se passe na época em que a lei seca redefiniu hábitos e costumes americanos. Esconder era preciso e Wilder inscreve seu filme em prestigiada posição nos arquétipos da manipulação de bastidor. Tudo emula o disfarce. Os músicos vividos com brilho por Jack Lemmon e Tony Curtis precisam se travestir de mulheres para escapar à forca que um proeminente gangster de Chicago lhes acena. Eles também vivem de simular para postergar as dívidas que contraem e tentam, por meio de simulação, seduzir a loira sensual Sugar (Marilyn Monroe). Dissimular e simular, em suas similaridades e diferenças, eram a ordem do dia. E é da nuvem de fumaça dessa consternação que Wilder tira a graça de seu filme. Com diálogos ágeis e uma câmera sempre curiosa, Wilder tira ótimas performances de seu trio de protagonistas.
Quanto mais quente melhor está para a comédia americana como o arroz está para o feijão no principal prato da cozinha brasileira. Foi nesse filme que os cânones do gênero foram definitivamente estabelecidos. Gente como Charles Chaplin, Buster Keaton e o próprio Wilder já tinham patenteado o humor como expressão de arte, mas é em Quanto mais quente melhor que esse humor ganha contornos mais sofisticados ao embutir tabus que durariam anos em cenas antológicas e festejadas até mesmo por quem não as entendia por completo. O poderoso arremedo sexual presente na fita de Wilder não se limitava a presença de Monroe ou ao descalabro de colocar dois homens vestidos como mulheres. Quanto mais quente melhor trazia muito mais subversão em seu entorno. A homossexualidade, talvez, seja o tema mais óbvio observado de hoje. Mas havia outros. A descompostura feminina ante certos rigores da época parece interessar particularmente a Wilder aqui. Um diretor que não tinha medo de ridicularizar certas instituições e dogmas sociais, mas que o fazia com tamanha sofisticação que arrancava aplausos até de quem com ele não compactuava.
Ótimo texto Reinaldo. É bom ler um clássico aqui no Claquete.
ResponderExcluirO filme é um clássico absoluto da comédia, quando ela era muito mais inteligente na época censura ferrenha.
Além de Wilder citou aí outros gênios: Chaplin e Keaton. Não poderia discordar de você amigo.
Abs.
RODRIGO
Ah, que bom ler sobre este filme aqui no Claquete. Talvez este seja uma des minhas comédias favoritas. Wilder está ótimo com suas ironias e "cutucadas" rs. Além do mais, o filme tem um charme incrível... ainda mais com MM em cena!!
ResponderExcluirExcelente texto!
abs.
O Billy Wilder é um dos meus diretores favoritos, então sou muito suspeita para falar dele. Mas, "Quanto Mais Quente Melhor" é simplesmente genial como comédia e como filme também! Desde às atuações, passando pelo roteiro, às clássicas cenas. Um filme inesquecível!
ResponderExcluirBelo texto, Reinaldo e boa idéia de trazer esse clássico aqui. Billy Wilder merece mesmo, adoro seu humor irônico.
ResponderExcluirbjs
Rodrigo Mendes: Obrigado Rodrigo. Seu apoio, sem dúvida, torna esse Claquete repercute mais especial. Abs
ResponderExcluirAlan: Valeu meu brother. É um filme muito charmoso mesmo. Tb é uma de minhas comédias favoritas. E Marilyn nunca esteve tão voluptuosa...
abs
Kamila: Inesquecível. Taí uma boa palavra para classificar este filme... Bjs
Amanda: Nós adoramos o humor de Wilder.
bjs