Não é preciso louvar a proposta de Amor? (Brasil 2010) para distingui-lo dentro da cena cinematográfica nacional. Um filme que, embora traga alguns atores globais em seu elenco, se vê imbuído de causas mais nobres: pensar o cinema enquanto representatividade do real e renovação da linguagem cinematográfica. Pode-se argumentar que essas não são as prioridades do filme, que ele se debruça de maneira desarmada e leal nas histórias que leva às telas. Embora seja tentador enveredar por essa afirmação, seria simplista demais fazê-lo.
Em Amor?, João Jardim reúne oitos histórias de anônimos que tiveram casos de amor marcados por episódios de violência. Jardim leva essas histórias a intérpretes para que eles as apresentem ao público. O híbrido de verdade e ficção proposto por Jardim com o seu filme assume contornos imponderáveis e, por isso mesmo, apaixonantes. As atuações são repletas de verdade e carinho. Não há maniqueísmo no registro e os personagens pensam por si. As histórias, fortes, imprevisíveis e cativantes, nunca parecem encenadas. Ao colocar atores como Eduardo Moscovis e Lilia Cabral para contar, de cara para a platéia, histórias amorosas duras e áridas, Jardim quer provocar o espectador em suas expectativas. A verdade do documentário sobrepõe a liberdade da ficção ou seria o contrário? Ou elas coexistem harmonicamente em um efeito que independe da proposta do filme?
As respostas ainda não estão amadurecidas, mas a inquietude de Jardim como cineasta deve apressá-las.
Ao espectador cabe observar a riqueza do filme propriamente dito. Histórias de amor são contadas em uma investigação inerme da realização. Aguçada por atores que se oferecem ao julgamento do público e que apresentam, enraizados em si, comoção genuína. O frescor de Amor? em termos de linguagem e narrativa, em certa aspecto, contrapõe-se a aridez do tema abordado: sobre os limites do amor em níveis emocional, físico e psicológico.
Jardim deslumbra mais com os resultados ocultos do que com os manejos visíveis. Amor? é dos poucos filmes que serve à divagações à beira da cama e em uma sala de aula.
Amanhã tem pré-estreia aqui e não posso ir porque estou no último dia de um curso... Mas, vai ficar em pré até dia 22 quando estreia mesmo, vou tentar ver no fim de semana.
ResponderExcluirbjs
Crítica mais profunda Reinaldo. Ainda vou assistir. A idéia de unir formatos hibridizando a premissa é de longe interessante.
ResponderExcluirVocê aponta os atores com o adjetivo "Globais". É um incômodo? Ainda é um rótulo nosso, me parece. Já me peguei dizendo isso quando vejo Lilia ou Julia em cena (ou qualquer outro ator/atriz da emissora). O que no fundo é tolo não?
Abs.
RODRIGO
Amanda:Boa sorte! Bjs
ResponderExcluirRodrigo: Não é incômodo para mim Rodrigo. Muito pelo contrário.Diferentemente de muitos, reconheço que os melhores atores brasileiros estão a serviço da Globo e o são melhores justamente por estar a serviço da Globo. Tento desarmar as expectativas de um leitor/espectador que ache que um filme que tenha elenco global já começa perdendo. Repare como o primeiro parágrafo da minha crítica se presta a esse intuito.
Esse rótulo se não fosse pejorativo não teria problema. Como quando classificamos algum texto como shakesperiano. Acontece que se costuma maldizer um filme estrelado por "globais". Quis, na verdade, desarmar essa impressão.
Abs
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirAcredito que é possível harmonizar a ficção com o documentário, mas até agora não vi nenhum trabalho como esse maravilhoso do João Jardim, que é um filme todo impregnado de poesia, de afeto mas ao mesmo tempo tão árduo nas histórias de violência. Eu acho que nem todo cineasta conseguiria fazer o que ele fez. Ele é um inovador de lingugagem cinematográfica, do contrário não faria um trabalho tão único como esse, até mesmo colocando em discussão: O que é amor? Afinal... o amor é violento? Quem ama bate e apanha? Que ama provoca violência, aceita a violência? Enfim, são várias indagações que fazem o público sair de lá para discutir isso mesmo.
Eu acho que as pessoas se identificarão com o filme porque quando a gente gosta muito de alguém, a fronteira entre o amar e o odiar, aquele ódio por um acesso de cíumes ou fúria, nem que seja por segundos, é muito próxima ao bem querer. Estou lembrando aqui do relato da Lilian Cabral, que também provocou o parceiro.
Bj
MaDame
Ótima reflexão sobre o muito reflexivo Amor? de João Jardim madame.Reflexivo tanto sobre os limites do amor como sobre as fronteiras do cinema.
ResponderExcluirBjs