terça-feira, 5 de abril de 2011

Crítica - Vips

Um filme vip!


O primeiro filme de Toniko Melo, baseado no livro Vips –histórias reais de um mentiroso da jornalista Mariana Caltabiano, recria a trajetória de Marcelo Nascimento Rocha – falsário que ganhou fama nacional após passar-se pelo empresário Henrique Constantino, um dos filhos do dono da empresa aérea Gol. Vips (Brasil, EUA 2011) não é exatamente uma biografia dessa figura, ainda que se esmere na reconstituição de alguns eventos reais. É um imaginativo retrato de um homem em busca de identidade. Melo e os roteiristas Bráulio Mantovani e Thiago Dottori se interessam por desvendar um personagem que impressionava tanto pela habilidade de dissimular, como pelo despeito de levar suas simulações às últimas consequências. E bolam ótimas metáforas para fazer da experiência de se assistir Vips mais prazerosa. Referências a peixes e touradas (visuais ou verbais) se ajustam à via dramática cruzada pelo personagem de Wagner Moura no filme. Tudo com muita eficiência. A busca pela identidade é algo que fica muito claro na composição de Moura, aquele tipo de ator que ajuda a construir o sentido de um filme.


Wagner Moura na pele de Marcelo: farsante em busca da própria verdade


O elaborado estudo de personagem não evita a romantização da figura de Marcelo. Aí se encontra uma influência forte do cinema americano dos anos 70 e, mais intimamente, com o praticado na década anterior no Brasil (O bandido da luz vermelha de Rogério Zganzerla é uma referência óbvia). Surgiu nesse período a necessidade quase orgânica do cinema nacional purificar personagens de moral desviada. A essa tentação, Vips resiste. Nesse sentido, o filme guarda muitas semelhanças com um dos melhores Spielberg dos últimos anos, Prenda-me se for capaz. A dramaturgia de Vips e o coração de Marcelo (sua relação com o pai, a adoração pelo ofício de pilotar, entre outros) remetem diretamente ao filme estrelado por Leonardo DiCaprio.
O que Toniko Melo busca com seu filme é mimetizar a força de um homem que, a sua maneira, foi importante. Criando realidades e apossando-se de outras, como aponta a genial cena final, o Marcelo de Toniko Melo e Wagner Moura foi o alguém que sua mãe (Gisele Fróes), a cabeleireira com recortes de celebridades no espelho, sonhou. E foi além. Convenceu muita gente de que era muitos alguéns. É tão triste quanto especial. É essa beleza envergonhada que Vips anuncia com a devida percepção.

11 comentários:

  1. Eu adorei.
    Apesar de ter me surpreendido com o final inesperado(todo filme é assim:eu sempre acho que não estava na hora do filme acabar,rs),parando para relembrar depois,o final é genial mesmo.
    E o Wagner Moura é sensacional...

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Gosto bastante do resultado também, Reinaldo. Acho que o filme conseguiu dosar bem os fatos e nos envolver nesse universo de Marcelo. Fora aquela cena final que é ótima.

    bjs

    ResponderExcluir
  3. Acho que vou esperar em DVD. Gosto de Wagner Moura, mas ele está com tanto status e moral que acabei ficando um pouco enjoado, hihihihi

    ps: eu olho pra sinopse e não paro de pensar "prenda-me se for capaz versão brazuca?" mesmo sabendo que a história é verídica. Enfim...

    ResponderExcluir
  4. Ótima crítica Reinaldo, indagando O Bandido Da Luz Vermelha que é uma obra prima do cinema marginal e Prenda-me Se For Capaz, um Spielberg travesso.

    Quero conferir a fita ainda. Moura tem uma forte presença..cada vez mais. Um V.I.Actor.

    Abs.
    RODRIGO

    ResponderExcluir
  5. Gostei muito do texto: você sempre consegue colocar em palavras coisas que pra mim ficam suspensas como meras sensações e abre a janela de outras que eu mal esboçava.

    Tb achei que o filme tinha uma pegada de "Prenda-me se for capaz" e que aquela mãe dele era muito, muito louca, rsrs De certa maneira, a gente sempre está tentando atender às expectativas de nossos pais.

    Beijos,
    Aline

    ResponderExcluir
  6. Ainda acho que o Selton Mello é o unico ator brasileiro que consegue convencer, mas tenho que admitir que o Wagner Moura tem encarado bem seus papeis. De qualquer modo, ainda tenho que ver Vips, me entusiasmou mais ainda com a comparação feita ao filme do Spielberg que realmente é um dos melhor ultimamente do diretor.

    ResponderExcluir
  7. O Wagner Moura é o ator perfeito pra interpretar o Marcelo, porque ele é mesmo camaleônico e a gente acredita que ele é todas aquelas pessoas mesmo. Foi justamente a dualidade em torno deste personagem principal que mais me atraiu à obra. Por isso, acho que "VIPs" acaba sendo bem satisfatório. Agora, confesso que senti pena do Marcelo. Alguém que acha melhor ser outros que ele mesmo não deve ser feliz...

    ResponderExcluir
  8. Olá Reinaldo, o Cinema Atemporal recebeu o Selinho, e como partes das regras indiquei cinco blogs que penso merecer também, e o seu blog foi um deles, esse é o link pra pegar o selo.

    http://cinemaatemporal.blogspot.com/2011/04/selo-de-qualidade.html

    abraços

    ResponderExcluir
  9. Pat: A cena final é onde o filme é de grande poesia. Viabiliza de forma imaginativa a grande dicotomia que é esse personagem Marcelo. Uma grande cena.
    Bjs

    Amanda: Um dos melhores finais de filme do ano. Se é que tem alguém contando... Bjs

    Alan: É... Prenda-me se for capaz, só para aproveitar o ensejo, ainda é mais filme... Abs

    Rodrigo: É um V.I actor sem dúvida alguma. Valeu pelos elogios. Abs

    Aline: Valeu Aline, obrigado pelo elogio. O filme, em certa medida, me surpreendeu positivamente. Bjs

    Kamila: Agregaste valor à minha crítica Ka. Por isso te sou grato. Bjs

    Diego: Valeu pela lembrança Diegão. Fico feliz pela deferência. Já coletei o selo. E, bem, acho que vc vai curti Vips...
    Abs

    ResponderExcluir
  10. Ótimo texto, Reinaldo. É sempre bom ler pontos de vistas diferentes, por isso o cinema é tão bom de ser discutido. A minha impressão com "VIPs" foi um pouco diferente - escrevi recentemente dele no blog.
    A seleção de fatos do roteiro para contar o trajeto de Marcelo acaba sucumbindo outras tão ou mais interessantes. E acredito que a humanização do personagem, com referência ao seu pai etc., acaba soando um pouco prosaico e até desnecessário sondar tanto esse ponto da "busca pela identidade". A sutilidade fala tudo e a cena magistral em que Moura se olha no espelho com aquele olhar opaco - que ator! - já diz tudo. "Tenho muitas identidades... menos a minha". BINGO!

    mas a trajetória de Marcelo é extraordinária. Cinematográfica mesmo. O cara é da minha cidade, é um "ícone" daqui rs, por isso a minha exigência.

    Achei que o filme teve um resultado legal, mas tinha muito mais potencial a ser explorado. Uma sequência / prequência é descartada porque o ofuscamente ocorrou justamente no meio da caminho, entre ser o herdeiro da GOL e o líder do PCC.

    Enfim, mas é um bom entretenimento. E a cena final, como tu bem pontuou, é mesmo excelente!


    abraço! o//

    ResponderExcluir
  11. Elton: Valeu pelo comentário meu caro. Acho que suas queixas não deixam de apresentar alguma legitimidade. Mas o filme é um bom entretenimento e tem essa cena genial que fecha o fita que nos incita a condescendência... rsrs
    Aquele abraço!

    ResponderExcluir