segunda-feira, 24 de maio de 2010

Repercutindo Cannes 2010

O triunfo tailandês, além de imprevisto, soou indisgesto na crítica internacional


E nesta segunda-feira a imprensa mundial pôs-se a repercutir o resultado de Cannes 2010. A crítica, mais perplexa, ainda procura se situar e entender o sentido por trás de uma premiação totalmente imprevisível e revestida de critérios discutíveis, uma vez que o filme vencedor não despertou o menor interesse de grande parte da crítica.
Essa afirmação não implica que a fita tailandesa seja ruim, apenas relativiza sua qualidade. Lung Boonmee Raluek chat, diferentemente de longas como Outrage e Poetry, que despertaram reações difusas, mas enfáticas da crítica, não superou a pecha de banal. Teve pouco destaque na imprensa internacional e não provocou o menor otimismo da crítica. Muito pelo contrário, as reações diversas ao filme só surgiram depois da confirmação da vitória. A Folha de São Paulo, que garantiu uma das melhores coberturas do festival na imprensa brasileira, escreveu nesta segunda que Cannes privilegiou um cinema mais autoral em detrimento de uma lógica mais industrializada. De certa forma, comungou com o pensamento do presidente do júri. Burton justificou a Palma de ouro para Lung Boonmee Raluek chat da seguinte maneira: “O mundo está ficando menor, e os filmes estão ficando mais ocidentalizados ou hollywoodizados. Para mim, este foi um filme que eu senti que estava assistindo de outro país, de outra perspectiva”. No entanto, é inescapável a clara conotação política que o prêmio carrega. A Tailândia atravessa grave crise institucional e o país está às vésperas de uma guerra civil, a visibilidade que a Palma de ouro acarreta, portanto, é importantíssima para dar voz aos dramas do país na imprensa internacional.

Amalric recolhe sua Palma pela direção de Tournée, ao lado de integrantes do elenco de seu filme: imprensa francesa foi a mais feroz, apesar de três prêmios entregues a franceses


Contudo, no geral, o prêmio para o filme tailandês não foi bem recebido. Especialmente na Europa. O jornal francês Le Figaro destacou em manchete “Palma do tédio”, para o diário francês, a vitória do filme tailandês no festival reflete uma “esquizofrenia criativa” de Cannes. Já o Le Monde foi mais diplomático. Lembrou que os franceses foram bem contemplados com as vitórias de Juliette Binoche e do diretor Mathieu Amalric, além do grande prêmio do júri para Des hommes et dieux. Contudo, o jornal lembra que a vitória da fita tailandesa deixa clara a inferioridade da seleção desse ano em comparação aos anos anteriores, em especial 2009. A imprensa italiana também destacou a vitória tailandesa de forma negativa. O jornal Corriere della sera vaticinou: “ Imperdoável!” Para o diário, não é compreensível a vitória tailandesa com filmes consideravelmente mais fortes em disputa. “Another year e Biutiful são produções mais encorpadas”, sublinhou o jornal.

Javier Bardem foi uma das poucas certezas da noite: o espanhol (na foto ao lado do Elio Germano com quem dividiu o prêmio) fez declaração de amor a sua namorada, Penelope Cruz

A Variety classificou a vitória de Lung Boonmee Raluek chat como “surpreendente”. Diferentemente da maior parte da crítica americana, preferiu não polemizar. E qualificou a fita tailandesa como boa, embora com a ressalva: “Mas, talvez, não merecesse o principal prêmio.”

5 comentários:

  1. Exatamente. Pelo que andei lendo, o prêmio ao filme tailandês, além de ter desagradado geral, foi uma surpresa total. pra mim, sinceramente, interessa saber mais o que os prêmios de atuação para Bardem e Binoche significam para os dois em termos de Oscar.

    Beijos!

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  2. Kamila: Particularmente achei o resultado de Cannes este ano uma decepção. Acho que objetivando zelar pela arte, o júri acabou por desprezá-la. A cada dia que passa a rejeição da crítica especializada pelo resultado da premiação aumenta e ganha corpo. Quanto a Bardem e Binoche,acho que Bardem reúne mais chances, devido a seu bom momento no cinema americano ( em agosto estréia Comer, rezar e amar ao lado de Julia Roberts) e tb por que Iñarritu é melhor cineasta do que Kiarastomi. Contudo, o fato do filme ser em espanhol e da categoria de ator ser sempre a mais concorrida, sua chance pode não vingar. Já Binoche fica por aqui. Uma premiação circunstancial.Salvo um ano terrível para as mulheres, o que não é uma possibilidade distante.
    Bjs

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  3. Gostei do argumento do Tim Burton e acho que Cannes é mesmo uma outra reflexão diferente da de Hollywood, por isso, nem tendo assistido a fita respeito o prêmio concedido a ele. E agora surgiu uma dúvida... será que Javier Barden vai ser o Heath Ledger de 2008 e Waltz de 2009 quando foram o papa-tudo? Aguardemos.

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  4. Nunca acompanhei o festival de Cannes, mas este ano, acompanhei bastante (devido ao Claquete), e achei surpreendente, mas nem tanto. Cannes é conhecido por premiar filmes de pequeno porte (comparado com algums produções hollywoodianas), mas que sejam arrebatador em sua forma de expressão, diria até poético.
    Bem, acho que seria isso. rs
    Apesar de tudo, gostei do resultado, mesmo não tendo visto ennhum filme! xD

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  5. Fernando: Olha Fernando, esse argumento do Burton, embora legítimo, não é novo. E todo presidente do júri em Cannes evoca quando dispara um veredito contraditório. Como foi o caso. Respeito tb. acho muito dificil o filme ser ruim. Mas tb acho muito difícil ser o melhor em competição. Senão,a crítica teria se deixado prender pelo filme. Algo que, como atesta a repercussão negativa como há muito não se via, não aconteceu.
    ABS

    Alan:Obrigado mais uma vez pela força e pelo reconhecimento Alan. Cannes preza pelo artístico e isso já pré-requisito para compor a seleção oficial, mas acho que a decisão desse ano não teve nada a ver com isso. Sinceramente.
    É preciso reconhecer que em Cannes tb é exibida muita porquaria a pretexto de arte. Afinal, a maioria dos filmes ainda não estão finalizados quando surge o convite para participar do festival.
    Justamente por isso, por Cannes ser uma premiere mundial, não tem como assistirmos os filmes antes da competição. É torcer para chegar aqui. Esse tailandês por exemplo, não chegaria, nem mesmo participando de Cannes. A Palma pode garantir distribuição aqui. Pode.Vamos aguardar!
    ABS

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