sábado, 8 de maio de 2010

ESPECIAL O MUNDO IMAGINÁRIO DO DOUTOR PARNASSUS - De astro teen a mito cinematográfico:um olhar sobre Heath Ledger


É difícil falar algo sobre Heath Ledger que já não tenha sido dito. A incrível jornada do ator australiano impressiona e, embora tenha partido com apenas 28 anos, deixou marcas profundas e possivelmente irrevogáveis no cinema. O início como astro teen não prometia grandes conquistas, pelo menos não em termos artísticos e longevos. Heath Ledger parecia destinado a ser uma das muitas efemeridades que Hollywood produz para capas de revistas. O arrebatador sucesso de 10 coisas que eu odeio em você (1999), sua estréia no cinema americano, ajudou a potencializar essa percepção. Seguiram-se trabalhos em que a beleza e a virilidade de Ledger eram suas maiores contribuições, como em O patriota (2000) e Coração de cavaleiro (2001). Ainda em 2001, Ledger pôde ser visto de maneira brutal e inusitada em um filme independente de prestígio. Sua participação em A última ceia foi pequena, mas poderosa. Foi suficiente para mostrar ao mundo que Ledger tinha brio e talento. Algo que ninguém ousava atribuir a sua pessoa. Honra e coragem (2002) e Ned Kelly (2003) foram produções que embora tivessem aspirações comerciais já não se ajustavam aos filmes que marcaram a estréia de Ledger em Hollywood. Apesar de serem fracassos de público e - em grande parte - de critica, eles sinalizavam que Ledger já esboçava novos rumos para sua carreira; ambicionava desafios.


Romance: chamego com Michelle Willians em um jogo de basquete. O romance engatou nos sets de filmagens de Brokeback mountain. O casamento não durou muito, mas dele surgiu Matilda; filha e grande paixão da vida de Ledger



Ao lado de Jake Gyllenhaal com quem contracenou em O segredo de Brokeback mountain: admiração mútua e amizade verdadeira



Um ator inquieto, angustiado como definiu o amigo Terry Gilliam. Outro amigo, o diretor e roteirista Briam Helgueland, que o dirigira em Coração de cavaleiro, o colocou na roubada O devorador de pecados (2003). Mas esse seria o último filme equivocado, por assim dizer, de Heath Ledger. Dali em diante, Ledger estava no controle criativo de sua carreira. Pensou seus projetos e em 2005 apresentou-se ao mundo como um ator completamente diferente daquele que se intuía. Cheio de recursos, sensível, dono de instintos aguçados e profundamente intuitivo. Esteve em quatro filmes. Na comédia de época Casanova, no semidocumental Os reis de dogtown, na fábula lisérgica Os irmãos Grimm e no neo-clássico O segredo de Brokeback Mountain. Foi neste filme que Heath Ledger desabrochou todo o seu imenso talento, abruptamente interrompido em janeiro de 2008. Uma das performances mais arrebatadoras que o cinema já viu, quase não ganha vida. Ledger estava receoso de aceitar o papel. Foram Terry Gilliam e a namorada à época, a atriz Naomi Watts, que o incentivaram a aceitar Ennis Del Mar como personagem definidor em sua carreira. O cinema independente ficou, então, como alternativa criativa para Ledger. Seguiram-se Candy (2006), filme australiano sobre dependência química, e Não estou lá (2007), hermética biografia de Bob Dylan. Este foi o último filme que Ledger participou da campanha de promoção. O grande momento do ator no cinema, ele não pôde testemunhar. Talvez nem mesmo quisesse, arriscam alguns fatalistas. Poucos acreditavam que Heath Ledger fosse capaz de criar um coringa convincente em Batman – o cavaleiro das trevas (20008). O leitor bem sabe o desfecho dessa história. Saiu o segundo Oscar póstumo da história do cinema e mais uma série de outros fatores que enobreceram e engrandeceram a visão de Ledger para o coringa.


O mito vive: Foto integrante de um ensaio exclusivo que a revista Vanity Fair publicou um ano depois da morte do ator

O sentido da morte

Heath Ledger na capa da Entertainment Weekly em dois momentos: na semana seguinte a sua morte e no aniversário de um ano, às vésperas da consagração com o Oscar



Heath Ledger não é o primeiro talento jovem ceifado tão cedo. James Dean havia sido o caso mais célebre de astro hollywoodiano a padecer no ápice da evidência. O status de mito parece algo indesviável e no caso de Ledger é plenamente justificável. Ainda mais considerando a artimanha do destino que quis que o estupendo trabalho como o coringa ficasse como seu testamento artístico. Uma composição cheia de minúcias que agiganta a admiração que o ator desperta. É tentador falar mais de Ledger, reverberar sua essência, conjecturar sobre o espetacular e marcante ator que ele se tornaria. Ledger, na verdade, já se configurou nesse artista marcante. Dono de uma filmografia curta, mas impactante, ele já inscreveu seu nome em Hollywood e, certamente, deixou fãs, cinéfilos e muitos outros apreciadores de seu talento saudosos e nostálgicos. Sua presença poderosa poderá ser revisitada, ao menos em película, sempre que a saudade apertar.



Crédito das imagens: site Heath Ledger ultimate, Vanity Fair e divulgação

6 comentários:

  1. Uma perda muito inesperada, tinha muito para mostrar ainda... :(

    Beijos!

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  2. Oi Reinaldo,
    Muito bom o seu texto, como sempre!
    Heath Ledger é para mim um exemplo daqueles grandes artistas que já nasceram trágicos tamanha a grandiosidade de seus talentos. É irônico pensar assim, mas junto com o talento de muitos nomes, vem um destino de fatalidade. Nunca pensei que ele chegaria a esse ponto, mas havia uma amargura nele que eu sentia em minha intuição de cinéfila. Ele também tinha um olhar triste mesmo quando sorria. Uma pena que a morte o deixou partir tão prematuramente, resta-nos celebrar a sua contribuição à sétima ARTE.

    Bjs

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  3. Obrigado madame. Adoro quando vc me elogia. É verdade. Inclusive, me lembro de já termos comentado sobre a tristeza do olhar de Ledger antes. É algo que também me marcava profundamente. Uma característica pessoal expressiva que lhe servia muito bem como ator. Gosto muito dele e sempre que o assisto, dá um aperto no coração. Sinto falta. É estranho, pq isso não ocorre com todos os atores/atrizes que partem né?
    Bjs

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  4. De nada, Reinaldo. Também adoro quando vc me elogia haha...isso prova que a força de nossa amizade e recíproca admiração. Com relação a Ledger e tantos outros trágicos na história do cinema é porque penso que eles têm uma característica que é comum a todo o ser humano, em menor ou maior grau, a própria tragédia diária. No fundo, a tristeza deles, tão cheios de talentos, é um espelho de muitos de nós.

    Bjs

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  5. Heath Ledger apòs o personagem curinga entraria
    para sempre no seleto grupo de astros talentosos, definidores e inspiradores.Os elogios mais sinceros ele não pode ouvir, visto que, a morte chegou,digamos, de véspera carregando um poço de talento para sempre.Fico à pensar:quantas performances brilhantes este australiano ainda nos proporcionaria.

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