quarta-feira, 5 de maio de 2010

TOP 10 Especial: Discursos/ Monólogos do cinema

4 - "Now, imagine she´s white!", Matthew McConaughey em Tempo de matar

Se há algo que os americanos adoram é serem moralistas. Se há um tema que o moralismo americano abraça com gosto é o preconceito. Principalmente o racial. É inegável, porém, o apelo humanístico inerente a esses filmes e a força dramática de algumas cenas que reverberam no inconsciente cinéfilo e encontram algum respaldo sociológico. Queiramos admitir ou não. Uma dessas cenas é o tradicional “closing arguement” de um tribunal de júri no filme Tempo de matar (1996). Um jovem, e ainda não ingresso nas comédias românticas, Matthew McConaughey vive com expressividade um jovem advogado idealista e pobretão. O tipo clichê vinha a calhar no filme de Joel Shumacher. Havia muitos outros clichês ali também. Mas McConaughey, que possivelmente terá essa como a melhor cena de sua carreira como ator, injeta passionalidade e transforma uma cena bem escrita e moralista em um grande momento do cinema. Um advogado que se envolveu demais, que se desapaixonou pela profissão, que errou, que acertou, que foi chamuscado pela causa que defende e que tem, ao mesmo tempo em que proporciona ao público e aos jurados, uma epifania.
Tempo de matar, como muitos dramas de tribunal, tem grandes cenas, grandes personagens, diálogos irrepreensíveis e monólogos memoráveis. Contudo, poucos se assentam em tamanha simplicidade arrasadora. Essa cena é matadora porque não pretende emular a verdade, ela se apropria da verdade com descomunal veracidade.
No filme, o personagem de McConaughey defende um homem negro (Samuel L.Jackson) que matou os estupradores brancos de sua filha que estavam prestes a serem inocentados por um júri. Levado a julgamento, em uma cidade segregada, ninguém esperava um julgamento justo. O monólogo do advogado, no entanto, desmonta expectativas.

5 comentários:

  1. Olá Reinaldo,
    Acredita não assisti a esse filme? Mas o argumento é interessante, e a questão da verdade poderosa que toma conta do julgamento. Falta isso ao meio jurídico do Brasil. bjs!

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  2. Belíssimo texto, Reinaldo. Mas, eu sou muito mais os argumentos finais que, por exemplo, encontramos em "O Sol é Para Todos". :)

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  3. Madame: é um filme muito bom madame. Merece ser visto. Um bom Samuel L. Jackson, um prazeroso Kevin Spacey e uma iniciante Sandra Bullock já seriam boas razões, mas o filme vai muito além. Todo tribunal é um teatro. Os bons advogados sabem disso e dominam essa verdade.
    Bjs

    Kamila: Tb gosto muito de O sol é para todos Ka. Porém, tive de me render a contundÊncia dessa cena e como o personagem expõe o ponto de vista esfacelando um jogo de aparências que os jurados desenvolviam mesmo que de forma incosciente. O sol é para todos é um filme muitíssimo superior a esse aqui (esse filme inclusive emula o drama estrelado por Gregory Peck), mas essa cena é reluzente em seu esplendor. Bjs

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  4. Lúcido comentário "todo tribunal é um teatro". É isso mesmo!

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  5. Tenho que aplaudir... Estou no inicio do Curso de Direito e me apaixono a cada dia... O filme é uma explosão de sentimentos. é o Direito Natural em conflito com o Direito Positivo. Aquil o que é correto ao coração de um Pai e "errado" ou "certo" aos olhos de um Julgamento. E de um juri como o do filme em particular

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