terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Crítica - Os descendentes


Ebulição interna!
O quê há de excepcional em Os descendentes (The descendants, EUA 2011)? A resposta para essa pergunta seria nada. Nem o final, encantador em sua simplicidade eloquente, nem a fantástica atuação de George Clooney – que revela ainda mais fragilidade e sutilezas do que já o havia feito em filmes como Amor sem escalas.
O grande mérito do quinto longa-metragem de Alexander Payne é apossar-se de um tema espinhoso (a preparação para o luto) e inflá-lo com outros temas igualmente desestabilizadores (infidelidade, caos familiar, etc) e entregar um filme leve, maduro e sutil.
Uma nova atitude: coma da esposa tira Matt King da letargia
Em Os descendentes, George Clooney vive Matt King. Ele precisa lidar com suas filhas após a esposa Elizabeth ficar em coma. Soma-se a essa situação duas notícias desestabilizadoras que Matt recebe em relação a sua esposa quase que em sequência: uma de sua iminente morte e a outra, da boca de sua filha mais velha (interpretada com força e afeição pela estreante Shailene Woodley), que sua mulher lhe era infiel.
Payne acompanha a forma um tanto desencontrada e insegura que King confronta essa nova realidade a qual foi submetido. Está no processo de ebulição interna do personagem a força de Os descendentes. No curso do filme, King irá se tornar um homem completamente diferente do que se imaginava. Sentirá raiva, perdoará a si mesmo e a esposa e se aproximará das filhas, entre outras coisas.
Acompanhar esse processo de descoberta em um filme tão elegantemente realizado é um prazer.
Payne se mostra menos sarcástico, é verdade; mas a história pedia relevo menos melodramático. O objetivo do filme não é ser sobre crises e sim sobre soluções. Por isso, o humor é um tempero tão discreto. As crises estão lá sim, mas para serem superadas. Talvez por isso não haja nada de excepcional nesse filme; a não ser o fato de iluminar o melhor em seus personagens e, também, em quem lhes deu o sopro da vida.

[Meme] Atualização 6

Item 27 - Porrada (melhor cena de violência)
Não sei dizer se é a melhor cena, mas pelo menos foi uma que me causou grande impacto e aflição quando a vi pela primeira vez. Falo de um filme baiano, de um diretor interessantíssimo chamado Sergio Machado. Cidade baixa tem um epílogo avassalador quando os dois amigos, interpretados pelos amigos Wagner Moura e Lázaro Ramos, se engajam em uma briga crua, destemperada e vicejada por sentimentos que o filme tão bem construiu em seu curso. Existem, é verdade, cenas de violência mais chocantes. Quentin Tarantino e Martin Scorsese precisam ser lembrados nesse departamento. Mas poucas vezes o cinema tangenciou tamanha gana e urgência em um rompante de violência.



Item 28 - Quente e úmido (melhor sequência de sexo)
São tantas cenas de sexo marcantes no cinema que chega ser excitante e broxante (um paradoxo mesmo) ter que escolher apenas uma. A quem recorrer? Almodóvar com seu fetichismo em cores vivas? Adrian Lyne, um pornógrafo contido?  Gaspar Noé, o pornógrafo nada contido? Fico com Marc Foster, que tangenciou tão bem o turbilhão representativo que é o sexo em A última ceia. Uma cena crua, que funciona como catarse para dois personagens tão opostos e tão ligados quanto os de Billy Bob Thorton e Halle Berry no filme de 2001. Não há muito espaço para sensualidade aqui, mas é uma cena bem carnal. 


Item 29 - Saída pela esquerda (melhor sequência de perseguição)
Daniel Craig fez sua estréia como 007 em grande estilo em Casino Royale. A cena de abertura é uma perseguição de tirar o fôlego, com a participação de um corredor profissional, que formaliza que são novos tempos para o espião mais querido do cinema. Talvez não seja a cena de perseguição mais memorável, mas pelo aspecto surpreendente é a mais magnética.

Ele corre porque Bond está atrás dele...




Item 30 - Nunca mais (filme mais traumático)
Sou da opinião que todo filme merece ser visto em sua totalidade para que receba uma opinião bem fundamentada. Pois bem. Me orgulho de dizer que nunca abandonei um filme. E nem planejo fazê-lo. Meu amor pelo cinema é mesmo transcendental. O filme que mais me fustigou para que abrisse mão dessa “meta” foi Jefferson em Paris. Co-produção entre Inglaterra, França e EUA, a fita (com 140 min) tem pedigree. É dirigida por James Ivory e conta com um elenco formado por Nick Nolte, Gwyneth Paltrow, Thandie Newton e Gárard Depardieu.
O filme abusa da prerrogativa de ser chato. Fui obrigado a assisti-lo em três dias. Dou-lhe um desconto porque ainda era criança, devia ter meus 12 ou 13 anos quando o vi, mas ainda não tive coragem de voltar a ele.


Item 31 - Minha vida em três sequências
Esse talvez seja o item mais difícil de todos. Não à toa, fecha o desafio. Como a vida ainda está toda pela frente, fica difícil elaborar momentos diversos pela ótica do cinema. Eles acabam interiorizados por questões de foro íntimo.
Um primeiro momento que preciso citar é a cena final do filme Estrada para perdição, que já foi citado neste Meme. O filme fecha com um momento pungente em que o real significado do drama dirigido por Sam Mendes emerge com força extraordinária.





Outra cena que sempre me faz chorar é de outro filme que eu já citei aqui. O momento da morte de Mufasa em O rei leão é um verdadeiro convite às lágrimas. Eu e minha família, foi um filme que vi com minhas irmãs e meus pais, nos debulhamos no cinema em uníssono. Pura catarse cinematográfica. A lembrança dessa comunhão e cumplicidade é tão forte quanto a cena em si.






Confesso que não sei dançar muito bem, mas a cena do tango em Perfume de mulher me inspira e me ajuda a ver mais brilho na vida. Paixão, determinação, beleza... é uma cena de muitos predicados e que exige poucas justificativas para ser lembrada aqui.   



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Crítica - Os homens que não amavam as mulheres

Um colosso de filme!
Os homens que não amavam as mulheres (The girl with the dragon tattoo, EUA 2011) é daqueles filmes que te acompanham depois da sessão. Por algumas vezes, você vai se pegar pensando nele. Não só porque a fita conta com uma das personagens mais cativantes da atualidade, a hacker Lisbeth Salander – aqui defendida com garra e devoção pela excelente Rooney Mara – mas porque David Fincher sobeja na arte de contar bem uma história. 
Filmes que te fazem pensar são uma raridade. Filmes que te fazem pensar após a sessão, no entanto, não são uma raridade para David Fincher. O diretor americano realiza uma façanha com essa versão americana para o best-seller sueco da trilogia Millennium; melhora, e muito, o resultado em relação ao material original.
Pelas mãos de Fincher, não só a história de mistério que congrega perversões, nazismo e toda sorte de fetiches ganha relevo dramático, como a relação entre os dois personagens principais se transforma em um poderoso elemento narrativo.

Rooney Mara como Lisbeth Salander: uma atriz que se doa intensamente a uma personagem fascinante


Nesse sentido, algumas opções de Fincher se provam certeiras. Manter a história na Suécia foi crucial, já que o forte frio é elemento vital na trama, bem como o fato da família Vanger ser européia. O tom acinzentado que predomina na fotografia é um acerto que acresce à atmosfera obscura que Fincher convenciona para seu filme; que parece destinado a ser pop e cult, talvez em maior escala do que se podia imaginar de uma versão americana para um livro sueco.
Outro acerto de Fincher foi Rooney Mara, atriz que reclama qualquer traço de autoria de Lisbeth Salander para si. Desinibida quando necessário expor a fragmentação emocional de sua personagem e frágil quando preciso sublinhar sua vulnerabilidade, Mara é a perfeita síntese do fascínio que sua personagem exerce. Uma entrega tão avassaladora que um Oscar seria pouco para lhe fazer justiça.
Daniel Craig, que não foi a primeira opção de Fincher, traz leveza e sofisticação a seu Mikael Blomkvist – características tão díspares daquelas que lhe são atribuídas. Uma prova a mais do quão bom ator é.
Ambos respondem muitíssimo bem aos estímulos de Fincher para que a relação entre os personagens – mesmo quando ainda não se conhecem – seja o cerne de Os homens que não amavam as mulheres. Por isso a construção inicial, onde Fincher parcimoniosamente apresenta Blomkvist e Salander para a platéia em eventos paralelos com pouca relação entre si, é tão importante. Não falta ao diretor à perspicácia de incutir em seu público a exata noção de quem são aqueles personagens. Por mais indecifrável que Lisbeth Salander possa ser, a cena final (genial em sua sutileza incontida) a torna mais próxima de todos nós.
Os homens que não amavam as mulheres não tem a importância histórica de A rede social ou sua genialidade narrativa, mas – ainda assim – é um colosso de filme. 

Oscar Watch 2012 - Cenas de cinema (SAG)

Eles ganharam três
Foi a consagração de Histórias cruzadas no 18º Screen Actors Guild, o prêmio concedido pelo sindicato dos atores aos melhores do ano. A constatação não escapou a Shailene Woodley que, assim que Brad Pitt anunciou que o elenco do filme foi o escolhido como o melhor de 2011, se virou para George Clooney (companheiro de cena em Os Descendentes) e com cara de surpresa sinalizou com os dedos: três.
Foi uma vitória até certo ponto maior do que se imaginava. O filme recebeu os prêmios de atriz, atriz coadjuvante e elenco.

No flagra, Shailene desacredita: "Pô, três?"


Jean Djardin, o romântico
Não dá  para dizer que foi uma surpresa, mas a vitória do francês Jean Dujardin na categoria de melhor ator foi o mais próximo disso. Dujardin, a exemplo do que ocorrera no Globo de ouro, foi encantador em seu discurso de agradecimento. Disse não acreditar está em meio a tantas estrelas e disse que sempre foi um sonhador. Lembrou, inclusive, que seu apelido na infância era “Jean da lua” e finalizou:  “ainda estou sonhando”!

Jean Dujardin, o nervoso
O ator, no entanto, diferentemente do Globo de ouro, transpareceu nervosismo. Talvez por não acreditar que fosse capaz de triunfar sobre George Clooney e Brad Pitt, com os quais não concorreu nos globos. Talvez porque tenha faltado álcool ou, talvez, como admitiu posteriormente, pelo fato de estar sentindo a pressão.

O sonho dourado do galã francês está cada vez mais próximo... 


“Atores não entram para esse negócio preocupado com prêmios. Se fossemos assim, não duraríamos cinco minutos”, Christopher Plummer ao ganhar o primeiro SAG de sua carreira, aos 82 anos, por Toda forma de amor


A segunda profissão mais antiga do mundo
Christopher Plummer, que está levando todos os prêmios possíveis para casa pela atuação em Toda forma de amor, anda se especializando nos discursos de agradecimento. Começou agradecendo pelo reconhecimento a segunda profissão mais antiga do mundo (todo mundo sabe qual é a primeira, certo?), citou a esposa de longa data e encerrou dizendo que “ser honrado pelos atores é como ser tocado pelo Santo Graal”. There´ll go Plummer! 


Scorsese, a piada da noite
Tudo começou com uma brincadeira das meninas de Missão madrinha de casamento e, graças a Steve Buscemi, se tornou a melhor piada da noite. Elas estipularam uma brincadeira em que sempre que a palavra “Scorsese” fosse ouvida, era preciso “entornar” o copo de bebida. Buscemi, que venceu como ator em série dramática por Boardwalk Empire, levou seu copo de vinho para o palco, mas teve a taça confiscada por Tina Fey. Ele não perdeu tempo: Obrigado por pegar meu copo tina, porque eu tenho que agradecer ao nosso produtor executivo Martin Scorsese”. Tina virou o copo e o público veio abaixo em gargalhadas.

Tina Fey vira a taça de vinho após o brado "Scorsese": a piada ficou melhor com o improviso...


“Eu adoro levar homens para casa”, de Octavia Spencer ao receber o SAG (que tem o formato de um homem) de melhor atriz coadjuvante por Histórias cruzadas


No love for Clooney
Não deixa de ser interessante o fato do SAG resistir a George Clooney. Sim, eles já deram um prêmio especial ao ator por seu trabalho humanitário (e Clooney foi o único a receber tal distinção do SAG) e vira e mexe ele é indicado. Mas jamais ganhou. Até mesmo esse ano, em que era tido como favorito, o ator foi preterido.Vale lembrar, ainda, que o excelente trabalho de elenco de Tudo pelo poder (dirigido por Clooney) foi lembrado por todas as associações que premiam elenco, menos pelo SAG.


O discurso era tão lindo que...
A homenageada da edição 2012 do evento foi a veterana atriz Mary Taylor Moore, atualmente na série Hot in Cleveland. Moore fez um discurso emocionado em que lembrou do começo da carreira em que lhe foi sugerido que mudasse o nome. Ela contou que hesitou. “O que meu pai diria? Afinal, era o nome dele também. Não, as pessoas irão me conhecer pelo meu nome. Meu pai ficou feliz, o SAG ficou feliz e, hoje, depois de tantos anos, eu estou feliz”. Tão lindo que Moore entrou em uma espécie de catatonia que precisou ser socorrida pelo amido Dick Van Dyke para sair do palco. 

Discurso lindo que acabou, mas não acabou... e agora produção?


“Aprender inglês. É difícil, meu inglês é meio enferrujado. Mas, quem sabe, eu não sou profeta, outro filme mudo na América”, de Jean Dujardin na sala de imprensa quando perguntado quais são seus próximos projetos


Por essas e outras ...
Existe aquela lenda (que pode ser verdadeira) que a academia não gosta de Leonardo DiCaprio. Desconsiderando o risco iminente às especulações, o mesmo não pode ser dito do SAG. Eles sempre prestigiaram DiCaprio, e muito. Em 2007, inclusive, até o indicaram duplamente (fato raro no SAG) por Os infiltrados e Diamante de sangue. Em 2012, ele foi lembrado por J.Edgar, filme geralmente esquecido. Contudo, o ator não compareceu a cerimônia. Certo de que não ganharia, não fustigou seu espírito esportivo e faltou ao evento. Diferentemente de seu colega de elenco Armie Hammer. Vale lembrar que em 1998, DiCaprio se engajou em uma discussão pública com setores da academia por se negar ir ao Oscar ressentido de sua não indicação por Titanic (as colegas Kate Winslet e Gloria Stuart haviam sido nomeadas). O tempo passou, outras indicações vieram e pensou-se que DiCaprio havia amadurecido no tocante a esses assuntos. Em 2012, porém, ele plantou a sementinha da dúvida.


“É estranho ganhar de Meryl Streep. É como se eu tivesse ganho algum tempo estragar completamente meu próximo trabalho”, de Viola Davis ao ganhar o prêmio d emelhor atriz por Histórias cruzadas


“Eu sou o que sobrou de Dick Van Dyke”, o próprio antes de começar a introduzir a homenageada da noite, Mary Taylor Moore

domingo, 29 de janeiro de 2012

Questões cinematográficas - A importância de Steven Spielberg para um negócio chamado cinema

É preciso foco quando há predisposição em discutir Steven Spielberg e seu significado para o cinema. Contudo, ao ater-se demais a certas especificidades incorre-se no risco de não tangenciar satisfatoriamente o legado que Spielberg construiu. Isso seria um erro. A proeminência da figura de Spielberg é tão grande que desconsiderar alguns aspectos de sua trajetória poderia resultar em um comprometimento fatal de qualquer análise. Por isso a pergunta: Qual a importância de Spielberg para o cinema?
Dessa maneira, com o cinema enquanto negócio fazendo às vezes de fio condutor do raciocínio, é possível fazer justiça à figura desse artista, empreendedor e empresário que sobeja em influência.
O cinema americano via o colapso da era das estrelas no alvorecer dos anos 70. Era um momento de crise em que o sistema de estúdios estava sendo posto à prova. A concorrência com a tv nunca estivera mais melindrosa e era preciso desbravar novos rumos. Foi justamente nessa época que um grupo de cineastas americanos emergiu e redefiniu o conceito de se fazer cinema na terra do tio Sam, influenciando não só a indústria americana como toda a produção cinematográfica dali para a frente em todo o planeta. Estamos falando, é claro, de George Lucas, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian de Palma e... Steven Spielberg.
Foi Tubarão (1975), apenas o segundo filme de Spielberg para o cinema, que realinhou perspectivas para a indústria e a modificou para sempre. Além de ser um baita filme, Tubarão se provou um entretenimento que só poderia ser perfeitamente apreciado nas telas de cinema. Estava criado o conceito de blockbuster. Em pensar que Spielberg, por várias vezes, quase foi ejetado do filme por produtores desesperados com as contas que não fechavam. George Lucas abalizou o conceito viabilizado por Spielberg dois anos mais tarde com o lançamento de Guerra nas estrelas (hoje, simplesmente, Star Wars).

Spielberg e, talvez, sua criação mais famosa: a década de 80 foi dele, mas os Oscars só vieram nos anos 90


Foi nessa época que a ficção científica experimentou seu momento de maior prestígio no cinemão e Spielberg, com filmes como Contatos imediatos de terceiro grau (1977) e E.T (1982) foi fundamental nesse sentido.
Depois de ser o responsável pelo salvo conduto dos estúdios de cinema, Spielberg ajudou a encorpar um outro conceito à léxica hollywoodiana: a matinê. Aqueles filmes descompromissados e formatados para toda a família.  Encaixam-se nesse perfil os filmes da série Indiana Jones que dirigiu ao longo da década de 80 (e retomou no final da década passada) e filmes que produziu como a trilogia De volta para o futuro, Os goonies, Gremlins e Fievel-um conto americano. É impossível discordar que os anos 80 foram a era de Spielberg. Ele moldou um tipo de cinema que, ainda hoje, alimenta a industria.
Foi no final desta década que Spielberg quis mostrar que também era um diretor sério. A cor púrpura foi um filme que recebeu duras críticas em uma sociedade ainda muito segmentada racialmente. As críticas condenavam o fato de um diretor branco e judeu contar uma história sobre racismo no início do século. Mas A cor púrpura mostrava um cineasta com talentos até então ocultos. Os talentos, no entanto, foram sendo revelados no curso da década de 90. Vieram os esperados Oscars e mais algumas curvas revolucionárias, a maior bilheteria da carreira (Jurassic Park: o parque dos dinossauros) e a consolidação da grife Spielberg. No final da década, Spielberg se juntou ao amigo e executivo Jeffrey Katzenberg para fundar o estúdio DreamWorks. A nova empresa rapidamente se firmou como uma das gigantes de Hollywood com vitórias no Oscar (Beleza americana, Gladiador, Uma mente brilhante) e grandes sucessos de bilheteria (a série Shrek, a série Transformers, entre outros).  

Nos sets de Transformers conversando com o diretor Michael Bay: um produtor ainda mais eficiente do que se poderia imaginar 


Nesse contexto, é possível vislumbrar que Hollywood, enquanto indústria, deve muito a Spielberg. Não se discute o valor artístico de seus filmes ou mesmo os efeitos do tempo sobre eles. A qualidade de seu trabalho como homem de cinema excede avaliações rasteiras e mal direcionadas. Spielberg, em uma conjuntura tão ampla quanto seus feitos, pode ser considerado o mais importante diretor da história do cinema. Senhor de uma boa narrativa, entusiasta e patrocinador dos avanços tecnológicos, mentor intelectual de novos talentos e empreendedor ousado, Spielberg merece a alcunha de mestre. Sua história, no final das contas, se confunde com a evolução da sétima arte.

Oscar Watch 2012 - #Oscarfacts


- A categoria de melhor filme apresenta como favoritas, tradicionalmente, produções adaptadas de obras já existentes. No entanto, nos últimos anos essa máxima não se aplicou. Os dois últimos Oscars foram vencidos por filmes com roteiro original (Guerra ao terror e O discurso do rei)

- Apesar de não ser considerado um grande diretor de atores, é a terceira vez consecutiva que David Fincher garante indicação de atuação para seu protagonista. Em 2009, Brad Pitt concorreu ao Oscar de melhor ator por O curioso caso de Benjamin Button; em 2011, Jesse Eisenberg foi nomeado por seu desempenho em A rede social e em 2012, Rooney Mara disputa o Oscar de melhor atriz por Os homens que não amavam as mulheres.

- É a sétima indicação ao Oscar de direção recebida por Martin Scorsese. Ele já concorreu por Touro indomável (1981), A última tentação de Cristo (1989), Os bons companheiros (1991), Gangues de Nova Iorque (2003), O aviador (2005) e ganhou por Os infiltrados (2007). Scorsese também já foi indicado pelos roteiros de Os bons companheiros e A época da inocência (1994).

- Em 2012, por A invenção de Hugo Cabret, é a primeira vez que Scorsese concorre como produtor.

- Das sete indicações de Scorsese ao prêmio de diretor, quatro se concentram nesta década

- É a terceira indicação ao Oscar de Michelle Williams. A segunda consecutiva para a categoria de atriz. Ela concorreu como coadjuvante por O segredo de Brokeback Mountain (2006) e foi contemplada no ano passado por sua performance em Namorados para sempre.


Quem é mais canastrão?
O mexicano Demian Bichir e o francês Jean Dujardin são os elementos exóticos entre os finalistas ao Oscar de melhor ator em 2012


- Por Meia-noite em Paris, Woody Allen recebeu sua 14ª indicação ao Oscar como roteirista.


- Pelo mesmo filme, ele concorre pela sétima oportunidade como diretor


- Com as duas indicações conquistadas em 2012 ele supera Billy Wilder em matéria de indicações ao Oscar como roteirista e diretor. Vale lembrar que Allen também já concorreu como ator por Noivo neurótico, noiva nervosa


- O cinegrafista Robert Richardson recebeu sua sétima indicação ao Oscar por A invenção de  Hugo Cabret. É a segunda vez que ele é indicado por uma colaboração com Martin Scorsese. Na outra oportunidade, ganhou pela fotografia de O aviador.
A outra vitória de Richardson foi conquista pela fotografia de JFK – a pergunta que não quer calar (1992).


- É a terceira indicação ao Oscar de Nick Nolte. A primeira como coadjuvante. Antes de ser nomeado pela performance em Guerreiro, o ator concorreu por Temporada de caça (1997) e O príncipe das marés (1991)


- Se Woody Allen e Martin Scorsese ostentam longas filmografias, os cineastas Alexander Payne e Terrence Malick apresentam filmografias curtas, mesmo com longas carreiras. Cada um tem cinco filmes lançados como diretor e ambos receberam em 2012 a segunda nomeação ao Oscar da categoria. Já o francês Michel Hazanavicius, com 11 longas no currículo e a menor carreira em anos entre os cinco, debuta no Oscar.


- Kristen Wiig e Annie Mumolo são as únicas mulheres concorrendo na categoria de roteiro por Missão madrinha de casamento. Bridget O ´Connor, que divide o crédito de O espião que sabia demais com Peter Straughan, faleceu no fim de 2010.


- A última vez que uma mulher ganhou o prêmio de roteiro foi em 2008 quando Diablo Cody triunfou em roteiro original com Juno

- Diablo Cody não conseguiu nomeação este ano pelo filme Jovens adultos que a reuniu com o diretor de Juno, Jason Reitman

Lenda Viva
Meryl Streep ampliou o recorde de indicações para intérpretes. Por A dama de ferro, obteve sua 17ª nomeação ao Oscar


- Stephen Daldry não conseguiu sua quarta indicação ao Oscar por seu quarto filme (Tão forte e tão perto), mas emplacou a candidatura de melhor filme. Continua, portanto, detentor de um dos melhores aproveitamentos nos prêmios da academia

- É quarta vez em seis anos que George Clooney é indicado ao Oscar em categorias de atuação. Ele venceu em sua primeira candidatura como coadjuvante por Syriana – a indústria do petróleo (2006) e voltou à disputa na categoria principal por Conduta de risco (2008), Amor sem escalas (2010) e Os descendentes (2012).

Clooney no Oscar: ano sim, ano não...


- É o terceiro ano seguido que a figurinista Sandy Powell concorre à estatueta. To total são dez indicações e três vitórias por Shakespeare apaixonado (1998), O aviador (2004) e A jovem rainha Vitória (2010). Em 2012, ela concorre por A invenção de Hugo Cabret


- Brad Pitt não vai mais concorrer ao Oscar 2012 em três categorias. Como A árvore da vida tem muitos produtores, e apenas três podem ser nomeados, Pitt foi excluído da disputa em favor de produtores de maior proeminência na realização do filme


- Bélgica, Irã, Israel, Polônia e Canadá são os países que têm fitas indicadas para o Oscar de filme estrangeiro. Desses países, a Polônia é que detém o maior número de vitórias na categoria


- Em 2012, é a primeira vez que apenas duas canções concorrem ao Oscar da categoria


- O polonês Janusz Kaminski recebeu em 2012 sua quinta nomeação ao Oscar de fotografia por Cavalo de guerra. A única indicação recebida por um trabalho não feito com Steven Spielberg foi em 2008 pela fotografia de O escafandro e a borboleta. O polonês já tem duas vitórias por A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan


- O compositor Howard Shore tem um desempenho notável em matéria de Oscar. Foram 3 indicações e três vitórias pelas trilhas sonoras de O senhor dos anéis: a sociedade do anel e O senhor dos anéis: o retorno do rei e pela canção deste último. Em 2012, ele obteve a quarta indicação pela trilha sonora de A invenção de Hugo Cabret

Howard Shore e seus Oscars: invencibilidade posta à prova em 2012 

Filme em destaque - Os descendentes

Tudo tem seu tempo
O diretor de As confissões de Schmidt cria outro personagem cativante na figura de Matt King, que pode valer o segundo Oscar da carreira de George Clooney. Em Os descendentes, o ator - com visual havaiano - vive um homem forçado a tomar difíceis decisões 


Existe um momento em Os descendentes que Matt King, personagem que George Clooney vive com um misto de fragilidade e angústia, diz para suas filhas enquanto vislumbra parte do imenso terreno que há décadas pertence à família que “tudo tem seu tempo”. Talvez mais do que qualquer outra coisa esse seja o tema primal do quinto longa-metragem de Alexander Payne. “Não esperava tantas indicações ao Oscar”, disse o diretor ao site do Hollywood Reporter após tomar ciência de que seu filme foi contemplado nas categorias de filme, direção, roteiro adaptado, montagem e ator. A surpresa da Payne está relacionada ao fato de que Os descendentes não é um filme evento, como Os homens que não amavam as mulheres, um épico, como Cavalo de guerra, ou um exercício de nostalgia como O artista.
“É sobre um homem que precisa se reconectar com suas filhas e com sua própria essência”, explicou George Clooney na premiere americana do filme. O ator já ganhou os prêmios do National Board of Review, do Critic´s Choice Awards e o globo de ouro pelo papel. King, que mora no Havaí, é advogado e herdeiro, junto com outros familiares, de mais de 25 mil acres de terra. Enquanto precisa conciliar opiniões divergentes dentro da família a respeito da possível venda das terras, ele precisa enfrentar a angústia de ver sua mulher em coma. Não obstante a avalanche de culpa por ser um marido ausente, King precisa reconquistar espaço na vida de suas filhas e aprender como exercer autoridade sobre elas. É durante essa consternada situação que ele descobrirá que sua mulher lhe era infiel. O turbilhão de emoções que King enfrenta daí para frente é o pilar do drama, refinado com humor, de Alexander Payne.

Descobertas
O humor, por sinal, é ponto vital na trama. É ele quem provê perspectiva às ações de King e faz com que uma história áspera e dura seja apresentada de maneira leve e revigorada. Payne tem o dom de escrutinar seus personagens sem desorientá-los. Matt King, no curso do filme, descobre que precisa ser melhor pai do que é e, precisa também, reavaliar os próprios erros na condução de sua vida familiar. O coma da esposa Elizabeth serve como catarse familiar e possibilita aos familiares a noção de que tudo tem seu tempo. O grande préstimo desse filme com incrível gosto agridoce.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Filme em destaque - Os homens que não amavam as mulheres

Perversões, psicologia e uma nova estrela

David Fincher volta a falar de mistérios, serial killers e obsessões em Os homens que não amavam as mulheres. Claquete apresenta os bastidores do filme que apresenta o talento de Rooney Mara para o mundo



Quando o diretor David Fincher foi anunciado como o responsável pela versão americana de Os homens que não amavam as mulheres, a expectativa tomou conta da indústria, de cinéfilos e  dos fãs da obra original do sueco Stieg Larsson. Isso porque Fincher celebrizou sua fama de perfeccionista e cerebral com tramas de serial killer (Seven, Zoadíaco) e contemporaneidade irresoluta (Clube da luta e A rede social).
O diretor ainda estava envolvido na pós-produção de A rede social, filme produzido por Scott Rudin e pela Sony Pictures, os mesmos responsáveis pela produção do primeiro filme da franquia Millenium. “A ideia de ter Fincher a bordo deste projeto me parecia natural”, justificou Rudin à época do anúncio da produção do filme. O diretor emendou um trabalho no outro e um dos primeiros movimentos de Rudin foi tentar garantir a quarta colaboração entre Brad Pitt (o ator favorito de Fincher, segundo o próprio) e o diretor. Mas Pitt bateu o pé que só assinaria contrato depois de ter acesso ao roteiro (que ainda não estava finalizado quando o processo de casting teve início) e a parceria consagrada em Seven, Clube da luta e O curioso caso de Benjamin Button permanece circunscrita a esses três filmes.
Mas havia a necessidade de um “ator de prestígio” nas palavras do produtor executivo Ryan Kavanaugh, para viver o jornalista decadente Mikael Blomkvist. Foi aí que Daniel Craig, o atual James Bond, entrou no projeto. Craig não tinha a mesma restrição que Pitt quanto ao roteiro e estava ávido por trabalhar com Fincher, a quem comparou, em entrevista recente, a Hitchcock. Como a Sony queria o filme para o natal de 2011 e o anúncio da produção só foi feito em novembro de 2010, era imperativo que a pré-produção fosse concomitante com a elaboração do roteiro.
Com Craig a bordo, faltava a principal peça do elenco de Os homens que não amavam as mulheres: Lisbeth Salander. A personagem, uma cyberpunk bissexual, implosiva, violenta e desconfiada catapultou a carreira da intérprete original, a atriz sueca Noomi Rapace. Fincher estaca ciente de que precisava, mais do que uma atriz capaz de transformar-se em Lisbeth, de uma que desaparecesse completamente na personagem.
Mara como Lisbeth: sensualidade e
introspecção na medida certa

Scarlett Johansson, sugestão dos produtores, foi considerada pelo diretor, mas – conforme o próprio revelaria em entrevista posterior em Cancun no México – a atriz era sexy demais para a personagem. Sorte de Rooney Mara. Com carreira curta, a atriz de 26 anos – filha de milionários donos de times de futebol americano – impressionou Fincher na cena de abertura de A rede social – em que dá um fora no Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg. Fincher sugeriu um teste. E não um teste qualquer. Uma cena de estupro. Mara impressionou ainda mais. “Eu e David conversamos muito. Ele realmente queria sentir se eu estava entendendo a personagem”, disse Mara em entrevista ao O Estado de São Paulo, sobre sua preparação para viver a personagem. O processo incluiu voltas de moto pelas gélidas ruas suecas para que Mara se aclimatasse com o ambiente e com o perfil de Lisbeth Salander.

A história
São muitos os componentes que atraem na trilogia Millennium. David Fincher declarou em entrevista ao UOL Cinema que “o pervertido" o atrai. O diretor afirmou que se sente confortável investigando patologias no cinema. Para o cineasta, a obra de Larsson é rica nesse sentido. Rooney Mara se mostrou mais interessada na psicologia dos personagens e Daniel Craig salientou que admira o idealismo de seu personagem. Craig, aliás, declarou que entende mais o jornalismo após a experiência de dar vida a um jornalista no filme.
Na trama, o jornalista vivido por Craig, um tipo um tanto sensacionalista, é contratado por um magnata (Christopher Plummer) para aclarar as circunstâncias do desaparecimento de sua neta em 1966. São das necessidades aventadas pela difícil investigação que os caminhos do jornalista e da hacker interpretada por Rooney Mara se cruzam. “Acho que o forte do filme é o relacionamento desses dois seres tão antagônicos”, afirmou Rooney Mara.


Não é material para o Oscar
Em setembro, David Fincher admitiu ser improvável que Os homens que não amavam as mulheres fosse indicado ao Oscar. Na concepção do diretor, se trata de um filme ambíguo e violento demais para os padrões da academia. Mas a enxurrada de críticas positivas e as indicações para os prêmios dos sindicatos dos produtores e diretores sinalizavam o contrário.    
No fim das contas, Os homens que não amavam as mulheres foi indicado para cinco Oscars (atriz, montagem, fotografia, mixagem de som e edição de som), mas se viu fora das prestigiadas categorias de filme, direção e roteiro.

O grosso das filmagens foi na Suécia e por muitas vezes foram necessárias interrupções nas gravações por causa do forte frio


O filme, que tem classificação para maiores de 18 anos, se transformou em grande sucesso de público nos EUA. Já rendeu U$ 100 milhões e a Sony já anunciou as duas continuações (A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar). Daniel Craig e Rooney Mara já estão contratualmente assegurados para ambos os filmes. Resta saber se Fincher, que tem notória resistência a sequências, dará mais uma chance ao pervertido.

[Meme] Atualização 5

Item 22 - So you think you can dance (melhor musical)
Moulin Rouge – amor em vermelho. Sem pestanejar. O musical de Baz Luhrmann não só revigorou o apreço pelos musicais no cinema como demonstrou fôlego e inventividade na forma como o fez. A fita é apaixonante. Os números musicais, uma extravagância. Os personagens são os mais perfeitos arquétipos românticos a ter vez nos cinemas e Luhrmann demonstra firmeza na misè-en-scene. Contudo, o que mais impressiona em Moulin Rouge é a originalidade dos mashups propostos que juntam David Bowie, Elton John, Madonna, U2, entre outros.



Item 23 - Melhor DR

Poderia citar alguma cena de um filme e são muitas as ótimas cenas a embarcar drs. Das mais explosivas (como Clive Owen e Julia Roberts em Closer) às mais sutis (Jake Gyllenhaall e Heath Ledger em O segredo de Brokeback Mountain), mas momentaneamente a melhor indicação me parece ser Namorados para sempre. O filme inteiro é uma DR que consegue ser apaixonada e desapaixonada ao mesmo tempo. Vai lidar com uma dicotomia dessas.


Item 24 - Melhor par romântico

Julia Roberts e Richard Gere? A dama e o vagabundo?Rock Hudson e Doris Day? Leonardo DiCaprio e Kate Winslet? A bela e a fera? Nenhum deles! Sou muito impressionável em matéria de casais cinematográficos. Vivo variando meus preferidos. O melhor que posso fazer é apontar o que mais me cativa no momento: Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway em Amor e outras drogas.

Química, beleza, sensualidade... Jake e Anne merecem o seu voto!


Item 25 - Meu Vilão Favorito nos Filmes

Não tem jeito. Ninguém tem vilões como Batman. Por mais tentador que possa ser apontar Darth Vader ou Hannibal Lecter, o ensandecido e, ainda assim, incrivelmente genial coringa de Heath Ledger em Batman - o cavaleiro das trevas é uma imagem da qual não se pode desvencilhar. 


Item 26 - Unha e Carne (Melhor Amizade)
São muitas as amizades que nos comovem no cinema. Mas, talvez, a que mais tenha me marcado é a que une Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover) na franquia Máquina mortífera. Quando você desarma uma bomba com teu amigo na privada, é sinal de que a amizade chegou a níveis irrevogáveis.

Riggs e Murtaugh já passaram por poucas e boas na quadrilogia  Máquina mortífera

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Oscar Watch 2012 - Primeiras impressões sobre a lista do Oscar

É inegável que, como todo ano, a lista dos indicados ao Oscar gerou algumas controvérsias. O que o Oscar 2012 tem, que os anteriores em período recente não tiveram, é uma profunda divisão na concepção de cinema que a academia anualmente propõe à indústria. Não é novidade que a academia é uma instituição conservadora. Mas como enquadrar nessa definição as indicações ao Oscar de filme e direção para A árvore da vida? Filme esquecido pelos sindicatos e lembrado apenas por uma ou duas associações de críticos. Filme de profundo viés filosófico que rachou a crítica por onde quer que tenha passado. Esse filme encabeçou, ao menos, 5% dos votos de todos os membros da academia (já que os indicados a melhor filme são escolhidos por todos os votantes).
Ainda que haja toda a máquina de Harvey Weinstein por trás de O artista, é preciso louvar o desprendimento de contemplar um filme francês, praticamente mudo e em preto e branco com dez indicações. O artista pode se tornar o primeiro filme mudo vencedor do Oscar de melhor filme em 80 anos. Não é pouca coisa. A invenção de Hugo Cabret, por sua vez, pode se tornar a primeira produção em 3D a receber tal honraria. São passos, notadamente, progressistas.

Jean Dujardin em cena de O artista: o destaque concedido ao filme já é uma ousadia; premiá-lo seria uma ousadia maior ainda...


Mas como enquadrar a exclusão absoluta de filmes tidos “difíceis” como Um método perigoso, Shame e Precisamos falar sobre o Kevin. Ou mesmo a exclusão de Os homens que não amavam as mulheres (um entretenimento adulto e pensante) das duas principais categorias? São manobras reacionárias de uma ala que ainda se incomoda com determinadas liberdades narrativas. O mesmo pode ser aferido da exclusão de As aventuras de Tintim da categoria de melhor animação. O departamento de curtas e animação da academia ainda resiste ao Motion Capture e não aceita a nova tecnologia como mais um recurso para animar um filme. A Fox fez pesada campanha para que Andy Serkis fosse indicado ao Oscar de coadjuvante por seu trabalho em Planeta dos macacos: a origem. A indicação não veio, muito em parte pela mesma percepção – dessa vez no colegiado de atores. Não se discute os méritos dos trabalhos em si, apenas o alcance deles nesse contexto específico.


(In) coerências
Não surtiram o efeito esperado as novas regras anunciadas pela academia para a escolha dos candidatos a melhor filme. Além de manter o inchaço (foram nove filmes ao invés dos dez dos últimos dois anos), filmes duramente criticados conseguiram vagas. Histórias cruzadas (4 indicações), Tão forte e tão perto (2 indicações) e A árvore da vida (3 indicações) passaram longe de ser unanimidades junto à crítica. O baixo número de indicações, e a pouca consistência delas, atesta que os novos critérios ainda não foram satisfatoriamente depurados pelos acadêmicos.
Cavalo de guerra, apesar de ostentar seis indicações, é um que parece caído de pára-quedas na categoria principal. Sem nenhuma indicação para categorias de atuação, roteiro ou direção, o filme de Spielberg deve confirmar as expectativas e fazer figuração na noite do dia 26 de fevereiro.
As categorias de roteiro demonstram uma crise em particular. Tudo pelo poder, um excelente drama político de alta voltagem, só foi lembrado na categoria de roteiro adaptado e ganhou a companhia de O espião que sabia demais, outro filme que poderia ter maior atenção. Candidatos a melhor filme ficaram sem indicação nessa categoria, casos de Histórias cruzadas, Tão forte e tão perto e o já citado Cavalo de guerra.
É o caso de Missão madrinha de casamento, comédia contemplada na categoria de roteiro original e que, supostamente, deveria ser a décima concorrente a melhor filme.
As categorias de roteiro nunca estiveram tão desencontradas da de filme quanto nesses últimos anos e, especialmente, em 2012.
Outra nota curiosa diz respeito ao filme Pina, de Win Wenders. A produção estava na última lista de candidatáveis ao Oscar de filme estrangeiro e foi parar na categoria de documentário. Enquanto isso, o favorito absoluto, Project Nim (um dos filmes mais elogiados do ano), não conseguiu uma indicação. O detalhe mais interessante é que Pina foi rodado em 3D e abre margem para a possibilidade da melhor ficção e  do melhor documentário do ano serem ambos produções 3D.

Brad Pitt e Jonah Hill, ambos indicados ao Oscar, em cena de O homem que mudou o jogo: com seis indicações (filme, roteiro adaptado, ator, ator coadjuvante, montagem e som), a fita de Bennett Miller é um dos raros casos de candidaturas consistentes ao Oscar de melhor filme


França, estúdios e símbolos
Não há como negar que esse Oscar tem certo sotaque francês. Três dos principais concorrentes estão intrinsecamente vinculados ao país presidido por Nicolas Sarkozy. Um deles, inclusive, conta com a esposa do dito cujo no elenco. O artista é uma produção francesa sobre Hollywood; Meia-noite em Paris é uma nostálgica viagem de Woody Allen ao momento definidor de Paris e A invenção de Hugo Cabret apanha o surgimento do cinema na França. Mas a França também está presente na categoria de animação (A cat in Paris) e pode ser consagrada em muitas outras categorias. Michel Hazanavicius goza de certo favoritismo entre os diretores. Apenas Scorsese, premiado recentemente, lhe oferece certo risco. Jean Dujardin já ganhou Palma de ouro, Globo de ouro e pode completar a trinca com o Oscar. Seria o primeiro europeu a triunfar na categoria principal de atuação desde Roberto Benigni, se desconsiderarmos - é claro - os ingleses Daniel Day Lewis e Colin Firth. Berenice Bejo também pode prevalecer entre as atrizes coadjuvantes. Ludovic Bource parece uma aposta segura entre os compositores e há mais chances para artistas franceses em outras categorias.
É interessante observar que, além dessa invasão francesa (de deixar os sempre prestigiados britânicos enciumados), a nostalgia parece mover este Oscar – conforme prognósticos em Claquete já apontavam.
Esqueça os três filmes já citados e se concentre, por exemplo, na categoria de ator coadjuvante. Com exceção de Jonah Hill, são todos atores consagrados (e bem veteranos) que jamais receberam um Oscar.
Há, ainda, filmes como Sete dias com Marilyn, Cavalo de guerra e A dama de ferro que podem ser observados sob o mesmo prima.
Fitas como Histórias cruzadas, O homem que mudou o jogo e Tão forte e tão perto atendem àquela demanda pelo drama com histórias de superação e força emocional.

Berenice Bejo no tapete vermelho do último Globo de ouro: ela pode ser mais uma francesa a desbancar americanas. A última foi Marion Cottilard


Outra curiosidade dessa edição do Oscar é que os filmes de maior força na disputa são produções independentes: O artistaOs descendentes e Meia- noite em Paris.
Mas os estúdios, no entanto, parecem mais alinhados do que de costume. A Paramount emplacou A invenção de Hugo Cabret e a Sony conseguiu indicação para O homem que mudou o jogo. Bem verdade que o estúdio esperava uma trinca com Tudo pelo poder e Os homens que não amavam as mulheres. A DreamWorks de Spielberg também colocou dois filmes entre os finalistas: Cavalo de guerra e Histórias cruzadas.
Resta saber se todos esses filmes terão o boom que alguns dos destaques do Oscar passado (O discurso do rei, Cisne negro e O vencedor) tiveram após as nomeações.

Oscar Watch 2012 - Cenas de cinema (indicações ao Oscar 2012)

Conservadora pero no mucho
Como sempre a academia dá demonstrações de conservadorismo. Deixou de fora os elogiados Drive e Os homens que não amavam as mulheres (violentos demais?), não lembrou de Um método perigoso e Shame (subversivos demais?) e não reconheceu excelentes filmes estrangeiros da temporada (Melancolia, A pele que habito, A separação) na categoria principal. No entanto, a academia indicou um filme francês mudo e em preto e branco para o Oscar de melhor filme; indicou um ator parcialmente desconhecido (Demian Bichir) para o Oscar de melhor ator e reconheceu um trabalho francamente progressista em matéria de cinema (A árvore da vida) na categoria de melhor filme. São sinais de que a academia, em sua atual configuração, passa longe da uniformidade de pensamento que muitos lhe atribuem.

Todos os indicados ao Oscar podem ser conferidos aqui.  


A crônica do Oscar recente
Tilda Swinton que já era tida como certeza entre as concorrentes a melhor atriz no Oscar acabou de fora da disputa. Por uma razão muito simples. Ganhou um Oscar há pouco tempo, por Conduta de risco (2008). Bem sabemos que a academia tem essa estranha e controversa política de compensação. Dessa maneira, preferiu nomear a novata Rooney Mara e a veterana há muito esquecida Glenn Close. Esse mesmo raciocínio permite intuir que para Meryl Streep continuar sendo indicada, é melhor que o terceiro Oscar não venha tão cedo.


Deixaram o Fincher de fora
Raciocínio semelhante se aplica à exclusão de David Fincher entre os diretores. Após concorrer duas vezes em quatro anos, o grupo de diretores da academia deve ter achado que nomear Fincher pelo segundo ano consecutivo seria demais. A academia reconheceu seu filme (Os homens que não amavam as mulheres) em várias categorias, mas não o colocou nas duas principais (filme e direção).  Será que isso tem mais a ver com David Fincher ser chato ou com o filme ser violento e adulto demais?   

David Fincher e Rooney Mara nas gravações de Os homens que não amavam as mulheres: o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, mais do que três filmes que concorrem a melhor produção do ano                      



Porém...
Michelle Williams foi indicada no ano passado por Namorados para sempre e foi novamente contemplada este ano por Sete dias com Marilyn. Será que essa indicação vai só na conta do Harvey Weinstein?


Bonitões?
Fica para as mulheres a palavra final. Mas a lista de candidatos ao Oscar de melhor ator acabou menos bela do que se anunciava. Não que Demian Bichir e Gary Oldman sejam desprovidos de beleza, mas não chegam assim a ser um Ryan Gosling ou Leonardo DiCaprio.

Bechir, a surpresa latina: entre Javier Bardem e Antonio Banderas...


Multiculturalismo
Todo ano surgem reclamações. “Não há negros entre os indicados”, “Não há latinos concorrendo” ou “Da Europa só os ingleses são lembrados”. Pois bem. As categorias de atuação não poderiam ter sido mais democráticas em 2012. Há dois ingleses concorrendo (Gary Oldman e Kenneth Branagh), um sueco (Max Von Sydow), dois franceses (Berenice Bejo e Jean Dujardin), duas negras (Viola Davis e Octavia Spencer), um latino (Demian Bichir) e até mesmo dois gordinhos (Melissa McCarthy e Jonah Hill). 


Shame on you!
Michael Fassbender, cuja cotação vinha crescendo nas últimas semanas, não conseguiu vaga entre os finalistas do Oscar. Shame, aliás, acabou completamente fora da premiação; fato que pode prejudicar sua distribuição nos cinemas brasileiros.


Ele morreu na praia novamente!
Já era até certo ponto esperado que Leonardo DiCaprio não fosse indicado ao Oscar de melhor ator por J.Edgar. Dito e feito. O ator até resistiu a saraivada de críticas negativas que o filme recebeu e conquistou um punhado de indicações a prêmios, mas não chegou ao Oscar.


Incoerências
A ideia da nova regra para a categoria de melhor filme era deixar o Oscar com mais cara de Oscar. Bem, com nove indicados não é bem o que acontece. Assim como em 2009 quando Um sonho possível só teve duas indicações ao Oscar – sendo uma delas para melhor filme do ano – o mesmo aconteceu com Tão forte e tão perto. A fita de Stephen Daldry foi indicada apenas nas categorias de filme e ator coadjuvante.
O mesmo pode ser dito de A árvore da vida, que fisgou três indicações (filme, direção e fotografia). Apesar dessa indicação para direção legitimar a candidatura do filme, fica patente um ar de desencontro na elaboração dos candidatos.

Cena de Tão forte e tão perto, o Um sonho possível da vez...


Índice Claquete
Muita gente se surpreendeu com a inclusão do veterano ator sueco Max Von Sydow por Tão forte e tão perto entre os coadjuvantes. Na verdade, Claquete já havia alertado para essa possibilidade no início de dezembro. Muito antes das primeiras listas de indicados serem divulgadas.


Secular!
Atores veteranos sempre têm vez Oscar. Mas a categoria de ator coadjuvante em 2012 caprichou. Juntos, Nick Nolte (70 anos), Max Von Sydow (82 anos), Christopher Plummer (82 anos) e Kenneth Branagh (51 anos) somam 285 anos. Contra esse time, o que podem fazer os 28 anos de Jonah Hill?


Eu tenho e vocês não tem!
Janet McTeer, indicada ao Oscar de coadjuvante por Albert Nobbs, pode se vangloriar de ser a única na categoria a já ostentar uma indicação ao Oscar. Suas companheiras, Octavia Spencer (Histórias cruzadas), Jessica Chastain (Histórias cruzadas), Berenice Bejo (O artista) e Melissa McCarthy (Missão madrinha de casamento) são marinheiras de primeira viagem. Tudo leva a crer, no entanto, que uma delas possa tirar um sarro a partir de 26 de fevereiro com McTeer.


É chato ser John Williams
Enquanto Jim Carrey se comisera, para John Williams ser indicado ao Oscar é coisa banal do dia a dia. O compositor, que já ostenta 45 indicações em sua carreira, conquistou mais duas para o Oscar 2012. Ele concorre pelos dois trabalhos em colaboração com Steven Spielberg (As aventuras de Tintim e Cavalo de guerra). Vale lembrar que, quando indicado por um trabalho feito com o parceiro de Tubarão, Williams assume certo favoritismo. Foram 14 indicações e três vitórias.

John Williams já não era indicado ao Oscar desde 2006, mas isso é um detalhe menor...


Pitt 3 X 2 Clooney
Não é que George Clooney não tenha se saído bem na fita. É que Brad Pitt se saiu melhor. Os amigos mantêm uma rivalidade saudável com seus filmes, seus trabalhos humanitários e suas presenças em listas de homens mais sexy do mundo. Só que em matéria de cinema, Clooney que já tem Oscar, 3 globos de ouro e outros prêmios, vinha ganhando de lavagem. Esse era o script para o Oscar 2012. Mas Pitt inverteu a lógica. O marido de Angelina Jolie foi indicado a melhor ator por O homem que mudou o jogo e concorre duplamente como produtor pelos filmes A árvore da vida e O homem que mudou o jogo. Clooney, por sua vez, foi indicado a melhor ator por Os descendentes e concorre pelo roteiro de Tudo pelo poder.


O Oscar dos desaparecidos
Não é nenhum absurdo supor que será o Oscar em que haverá menos candidatos ao prêmio de direção presentes. Malick é um notório recluso e, quando indicado em 1999 por Além da linha vermelha, não compareceu. Já Woody Allen só foi à cerimônia do Oscar uma única vez: para prestar uma homenagem a Nova Iorque em 2002, primeira edição do Oscar após os atentados terroristas que derrubaram as torres gêmeas. Nem quando ganhou (em 1978 com Noivo neurótico, noiva nervosa), Woody compareceu.

De volta ao jogo...
E Woody Allen não disputava o Oscar de direção desde 1994 quando foi nomeado por Tiros na Broadway.

Back on the game: Woody Allen recuperou o prestígio de outrora junto ao Oscar e seu Meia-noite em Paris detém quatro indicações aos prêmios da academia


Quem pode com Rango?
Não restam dúvidas. Sem a força da Pixar (que fica fora da disputa pelo Oscar de animação pela primeira vez desde a criação da categoria) e com As aventuras de Tintim fora do páreo, fica difícil contemplar outro filme premiado que não Rango. Mas o francês A cat in Paris (e parece ser o ano da França no Oscar), pode ser o estraga prazeres.


É do Brasil...
E o Brasil está tomando gosto de concorrer ao Oscar sem concorrer de fato. Explica-se. Enquanto produções do país ficam pelo meio do caminho, profissionais e figuras de expressão brasileiras são reconhecidos. Um ano após o documentário Lixo extraordinário, produção inglesa co-dirigida pelo brasileiro João Jardim, concorrer ao Oscar da categoria, o Brasil surge novamente nas entrelinhas. Undefeated é uma produção americana sobre o lutador brasileiro de MMA Anderson Silva. A ginga brasileira está ainda mais presente na categoria de canção original, na qual concorrem Sérgio Mendes e Carlinhos Brown pela composição de “Real in Rio”, da animação Rio.


A caminho da extinção
E por falar na categoria de canção original, os dois únicos concorrentes (o outro é Man or muppet, de Os muppets) atestam de uma vez por todas que a categoria já viu dias melhores. Longe dos megahits dos anos 80 e 90, as canções a cada ano vão decaindo de qualidade e minguando até mesmo em quantidade.


Exércitos de um homem só
O que Alexander Payne, Michel Hazanavicius, Woody Allen, George Clooney e Brad Pitt têm em comum? Todos eles foram indicados em múltiplas categorias. Hazanavicius e Payne, por exemplo, concorrem como produtores, diretores e roteiristas.


Atenção à montagem
Eis uma categoria de suma importância que em 2012, inadvertidamente, garimpa ainda mais a disputa pelo Oscar de melhor filme. Dos cinco indicados (Os descendentes, Os homens que não amavam as mulheres, A invenção de Hugo Cabret, O artista e O homem que mudou o jogo), quatro estão concorrendo na categoria de melhor filme. Três têm seus diretores indicados. Desse grupo de três, dois também têm indicações para o elenco. São eles Os descendentes e O artista, justamente os vencedores do Globo de ouro. Essa combinação (filme, direção, montagem) é um forte indicativo de Oscar de melhor filme. Apenas quatro vezes uma produção foi sagrada a melhor do ano sem ter uma indicação sequer em categoria de atuação. Foram elas O senhor dos anéis: o retorno do rei, Quem quer ser um milionário?, Coração valente e O último imperador. No entanto, todas venceram em montagem e direção. Portanto, ainda há esperanças para A invenção de Hugo Cabret.

Cena de A invenção de Hugo Cabret: o campeão de indicações do ano (11 no total) não é exatamente o favorito ao Oscar de melhor filme...


Cinco roteiros
Prova maior da inconsistência das indicações que não foi corrigida com a nova regra para escolher os concorrentes na categoria de melhor filme, são os finalistas em roteiro.
Apenas cinco dos nove filmes candidatos a melhor do ano estão incluídos entre os dez melhores roteiros. Antes da mudança que colocava dez concorrentes a melhor filme, era praxe supor que os filmes lembrados na categoria de roteiro que não disputavam o prêmio de melhor filme seriam extra-oficialmente o 6º, 7º, 8º,9º e 10º melhores filmes do ano. Essa impressão não só foi esculachada pela academia, como a cada ano que passa, fica mais difícil precisar que filmes são genuinamente admirados pela academia enquanto instituição cinematográfica. Em 2012 essa “imprecisão” ficou mais clara do que nunca.