quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Filme em destaque - Os homens que não amavam as mulheres

Perversões, psicologia e uma nova estrela

David Fincher volta a falar de mistérios, serial killers e obsessões em Os homens que não amavam as mulheres. Claquete apresenta os bastidores do filme que apresenta o talento de Rooney Mara para o mundo



Quando o diretor David Fincher foi anunciado como o responsável pela versão americana de Os homens que não amavam as mulheres, a expectativa tomou conta da indústria, de cinéfilos e  dos fãs da obra original do sueco Stieg Larsson. Isso porque Fincher celebrizou sua fama de perfeccionista e cerebral com tramas de serial killer (Seven, Zoadíaco) e contemporaneidade irresoluta (Clube da luta e A rede social).
O diretor ainda estava envolvido na pós-produção de A rede social, filme produzido por Scott Rudin e pela Sony Pictures, os mesmos responsáveis pela produção do primeiro filme da franquia Millenium. “A ideia de ter Fincher a bordo deste projeto me parecia natural”, justificou Rudin à época do anúncio da produção do filme. O diretor emendou um trabalho no outro e um dos primeiros movimentos de Rudin foi tentar garantir a quarta colaboração entre Brad Pitt (o ator favorito de Fincher, segundo o próprio) e o diretor. Mas Pitt bateu o pé que só assinaria contrato depois de ter acesso ao roteiro (que ainda não estava finalizado quando o processo de casting teve início) e a parceria consagrada em Seven, Clube da luta e O curioso caso de Benjamin Button permanece circunscrita a esses três filmes.
Mas havia a necessidade de um “ator de prestígio” nas palavras do produtor executivo Ryan Kavanaugh, para viver o jornalista decadente Mikael Blomkvist. Foi aí que Daniel Craig, o atual James Bond, entrou no projeto. Craig não tinha a mesma restrição que Pitt quanto ao roteiro e estava ávido por trabalhar com Fincher, a quem comparou, em entrevista recente, a Hitchcock. Como a Sony queria o filme para o natal de 2011 e o anúncio da produção só foi feito em novembro de 2010, era imperativo que a pré-produção fosse concomitante com a elaboração do roteiro.
Com Craig a bordo, faltava a principal peça do elenco de Os homens que não amavam as mulheres: Lisbeth Salander. A personagem, uma cyberpunk bissexual, implosiva, violenta e desconfiada catapultou a carreira da intérprete original, a atriz sueca Noomi Rapace. Fincher estaca ciente de que precisava, mais do que uma atriz capaz de transformar-se em Lisbeth, de uma que desaparecesse completamente na personagem.
Mara como Lisbeth: sensualidade e
introspecção na medida certa

Scarlett Johansson, sugestão dos produtores, foi considerada pelo diretor, mas – conforme o próprio revelaria em entrevista posterior em Cancun no México – a atriz era sexy demais para a personagem. Sorte de Rooney Mara. Com carreira curta, a atriz de 26 anos – filha de milionários donos de times de futebol americano – impressionou Fincher na cena de abertura de A rede social – em que dá um fora no Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg. Fincher sugeriu um teste. E não um teste qualquer. Uma cena de estupro. Mara impressionou ainda mais. “Eu e David conversamos muito. Ele realmente queria sentir se eu estava entendendo a personagem”, disse Mara em entrevista ao O Estado de São Paulo, sobre sua preparação para viver a personagem. O processo incluiu voltas de moto pelas gélidas ruas suecas para que Mara se aclimatasse com o ambiente e com o perfil de Lisbeth Salander.

A história
São muitos os componentes que atraem na trilogia Millennium. David Fincher declarou em entrevista ao UOL Cinema que “o pervertido" o atrai. O diretor afirmou que se sente confortável investigando patologias no cinema. Para o cineasta, a obra de Larsson é rica nesse sentido. Rooney Mara se mostrou mais interessada na psicologia dos personagens e Daniel Craig salientou que admira o idealismo de seu personagem. Craig, aliás, declarou que entende mais o jornalismo após a experiência de dar vida a um jornalista no filme.
Na trama, o jornalista vivido por Craig, um tipo um tanto sensacionalista, é contratado por um magnata (Christopher Plummer) para aclarar as circunstâncias do desaparecimento de sua neta em 1966. São das necessidades aventadas pela difícil investigação que os caminhos do jornalista e da hacker interpretada por Rooney Mara se cruzam. “Acho que o forte do filme é o relacionamento desses dois seres tão antagônicos”, afirmou Rooney Mara.


Não é material para o Oscar
Em setembro, David Fincher admitiu ser improvável que Os homens que não amavam as mulheres fosse indicado ao Oscar. Na concepção do diretor, se trata de um filme ambíguo e violento demais para os padrões da academia. Mas a enxurrada de críticas positivas e as indicações para os prêmios dos sindicatos dos produtores e diretores sinalizavam o contrário.    
No fim das contas, Os homens que não amavam as mulheres foi indicado para cinco Oscars (atriz, montagem, fotografia, mixagem de som e edição de som), mas se viu fora das prestigiadas categorias de filme, direção e roteiro.

O grosso das filmagens foi na Suécia e por muitas vezes foram necessárias interrupções nas gravações por causa do forte frio


O filme, que tem classificação para maiores de 18 anos, se transformou em grande sucesso de público nos EUA. Já rendeu U$ 100 milhões e a Sony já anunciou as duas continuações (A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar). Daniel Craig e Rooney Mara já estão contratualmente assegurados para ambos os filmes. Resta saber se Fincher, que tem notória resistência a sequências, dará mais uma chance ao pervertido.

7 comentários:

  1. O Filme é muito bom, já vi duas vezes, sendo que ja tinha visto o sueco umas 3...o de fincher é melhor!

    ResponderExcluir
  2. Gosto muito do filme sueco, mas pela força que a história possui em criar o clima de investigação. E Lisbeth é uma personagem complexa e interessante, a Noomi defendeu-a bem.

    Já sobre a versão que o Fincher deu, só darei uma conclusão mais concreta quando ver o filme na semana que vem.

    Beijos! ;)

    ResponderExcluir
  3. Grande Reinaldo!
    Eu gostei muito do filme. Achei que a Rooney se entrega totalmente e Craig acerta o ponto.
    Fincher foi genial nas soluções do filme.
    Comento mais adiante...
    aguardo a sua crítica!

    Abs.

    ResponderExcluir
  4. Oi, Reinaldo,

    Não criei expectativas para o filme. Ainda bem, pois a experiência foi meio decepcionante. Não que o filme seja ruim. Nada disso. Mas acho que ele vai agradar mais àqueles que não leram a trilogia ou assistiram a versão suéca.

    Abs. e parabéns pelo blog.
    Melissa

    ResponderExcluir
  5. Torço muito para que Fincher faça as continuações, o que ele fez com esse primeiro filme me agradou e muito (ao contrário da previsão de Melissa aí em cima, eu li os três livros e vi a versão sueca). Acho que ele captou a alma da obra de Stieg Larsson.

    bjs

    ResponderExcluir
  6. Tiago Brito: É bem melhor!
    Abs

    Mayara Bastos:Ma, o filme sueco - na minha opinião - fica parecendo um racsunho perto da fita do Fincher.
    Bjs

    Rodrigo Mendes: O filme é genial. Fincher prova cada vez mais ser um autor completo.
    Abs

    Melissa: Pois é Melissa. Esse é um ponto polêmico. Em julho do ano passado, Fincher já havia advertido que poderiam haver descontentes, já que ele anunciou que mudaria algumas coisas (inclusive o final) em relação ao material original e à versão sueca. No entanto, considero que a alma da obra de Larsson tenha sido preservada na versão americana e, até mesmo, potencializada.
    Bjs

    Amanda: As negociações estão avançadas Amanda.Ele tem um bom relacionamento com a Sony e Scott Rudin. Acho que pode virar sim. Vamos torcer.
    Bjs

    ResponderExcluir
  7. Nossa, gostei muito do filme e acho que Mara deveria roubar o Oscar da Meryl Streep, rsrsrs E de fato, Craig, meio que é uma escolha auto-explicativa de porquê o Blomkvist é o Zé Mayer do jornalismo sueco, rsrs Adoro o Brad Pitt, mas não senti a menor falta dele :P

    ResponderExcluir