Falando de amor
Bruno Barreto quer um Oscar. Ele talvez seja o brasileiro do
meio do cinema que tenha mais desejo pela estatueta dourada. Um dos mais
prolíficos representantes do clã Barreto, família que confunde sua história com
a do cinema nacional, Bruno Barreto já concorreu ao Oscar com O que é isso
companheiro? (1997) e por muito tempo ostentou a marca de campeão de bilheteria
do cinema nacional com versão cinematográfica de Dona Flor e seus dois maridos
(1976).
Experimentado no cinema internacional, Barreto não emplaca
um sucesso desde O casamento de Romeu e Julieta (2004), versão da peça de
Shakespeare temperada pela rivalidade futebolística que une (ou separa)
palmeirenses e corintianos. Neste segundo semestre de 2013 ele ataca em duas
frentes. Na comédia popular, com Super Crô – o filme, que resgata o celebrado
personagem vivido por Marcelo Serrado na novela "Fina estampa", e Flores raras,
reconstituição da história de amor entre a arquiteta brasileira Lota de Macedo
Soares e a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop nos idos do Rio de Janeiro
dos anos 50. O filme, falado quase que integralmente em inglês e estrelado por
Glória Pires e Miranda Otto, estreia nesta sexta-feira (16) nos cinemas do
país.
Em busca do Oscar
Em entrevista coletiva em São Paulo para
divulgação do filme, Bruno Barreto não escondeu sua ambição para o filme.
Comparou o drama a Brokeback Mountain – célebre filme sobre uma paixão
homossexual entre dois vaqueiros na América dos anos 60 – e disse que o momento
é muito favorável ao mote do filme, a homossexualidade. "É uma história
universal e o fato da apresentadora do Oscar do próximo ano ser a Ellen De
Generes (comediante assumidamente gay) pode agir a favor (do filme no
Oscar)”. Barreto, ao portal UOL, disse que até mesmo as atrizes têm
boa chances na disputa. “Não é fácil achar cinco papéis femininos fortes para
concorrer ao prêmio e esse filme tem dois”. A ministra da Cultura, Marta
Suplicy concorda. Ela inclusive ligou para Glória Pires para transmitir essa
percepção de que Flores raras pode levar o Brasil novamente à briga pela
estatueta dourada. À revista Serafina, Glória disse que buscou entender as
motivações da personagem e se disse feliz pelo filme ter demorado a ser realizado. “Se fizesse no final dos anos 90, quando fui convidada para o projeto,
não ficaria tão bom. Não estava madura o suficiente como intérprete para viver
Lota”. Na coletiva em São
Paulo , Glória acrescentou que o filme “desmistifica o
universo gay” e que poder lançá-lo neste momento, 17 anos depois de adentrar ao
projeto, “é um presente”.
Barreto seguiu a carga de elogios à atriz dizendo que “sabia
que Glória era um monstro em português, mas não sabia que era em inglês também.
É incrível o comando que ela tem!”.
Bruno Barreto no set de filmagens orientando Miranda Otto e Glória Pires: história universal e falada majoritariamente em inglês
História universal
O apelo universal da obra tem motivado a equipe por trás do
filme a expandir o alcance da produção. Além de já ter passado por diversos
festivais ao redor do mundo, como Berlim, Sundance e Gramado, o filme já tem
distribuição garantida em países como Alemanha e Coréia do Sul, além de alguns
países europeus. Fato raro para um filme nacional não testado comercialmente em
seu país. Barreto acredita que seu filme fale com todo o público: “é uma
história de amor, sobre perdas”.
A preocupação com o apelo do filme para plateias
internacionais era tamanho que cogitou-se mudar o nome da fita, que advém do
livro “Flores raras e banalíssimas”, de Carmen Lúcia de Oliveira, que se
debruça sobre o relacionamento entre essas duas mulheres e dá base à
dramaturgia erguida por Barreto. Por um breve momento, o filme esteve batizado
“Eu não sei dizer eu te amo”. Independentemente do título, o sentimento parece
estar no lugar certo.
Ótima matéria meu caro. Sinceramente, não fiquei com tanta vontade de conferir Flores Raras, mas o farei de qualquer forma e de fato, Barreto não emplaca um sucesso. "Última Parada 174" foi na média, um filme que eu esperava mais. Seus clássicos dos anos 70-80 (meu predileto é aquele com a Regina Duarte, Além Da Paixão), ainda continuam melhores que sua passagem em Hollywood e de todos os recentes nacionais. Veremos esse aí. Tb adoro a Miranda Otto, mas ainda tenho um pé atrás com o projeto. E acredito que o oscar seja uma missão impossível. Meirelles ou Salles, se até pra eles, os mais merecidos, acho difícil...
ResponderExcluirAbs.
Rodrigo Mendes: Obrigado meu caro. Acho que a penetração política da família Barreto valerá mais uma chance para Bruno tentar o Oscar, mas concordo que será difícil. Há filmes melhores por aí dando sopa...
ResponderExcluirAbs
Oscar de filme estrangeiro? Mesmo sendo quase todo falado em inglês? Pode isso?
ResponderExcluirÉ possível anônimo, ainda que seja atípico. Já no Globo de ouro não seria viável; isso porque na Hollywood Foreign Press Association a categoria prevê filmes em língua não inglesa e não necessariamente estrangeiros. Por isso concorreram recentemente na categoria "Cartas de Iwo Jima" e "Na terra do amor e ódio", produções americanas mas faladas em outros idiomas. No Oscar, afora produções britânicas, todos os países (e muitos falam inglês) inscrevem seus filmes para concorrer como produção estrangeira. Doravante, não há nenhum impedimento para o filme de Barreto se credenciar. O fato de ser falado em inglês pode até ser um ponto favorável. Agora, o grande ponto em favor do filme é que, diferentemente de outros anos, não há fortes favoritos declarados na disputa. Ano passado, por exemplo tínhamos "Amor" e no ano anterior "A separação". Mas não sei se esse, a despeito das expectativas de Barreto, é o tipo de filme que teria alguma chance de ser indicado ao Oscar. Vamos ver no que dá!
ResponderExcluirGrande abraço!
Valeu pela resposta! Não sabia pq nunca tinha visto um filme falado em inglês concorrendo na categoria de estrangeiros. Acho que "O Som ao Redor" seria o melhor para representar o Brasil esse ano, mas não sei se ele se enquadra nas regras. É melhor levar um filme que já obteve um bom reconhecimento da crítica americana do que se deixar levar por política. Lembra do filme do Lula, né...
ExcluirAnônimo: Já tiveram alguns que usavam o inglês, mas não majoritariamente como no caso de "Flores raras". De qualquer forma, não acho que o filme chegue ao Oscar. Mesmo sendo o escolhido pelo Brasil. Há muita coisa boa nesse ano e acho que sua percepção sobre "O som ao redor" está corretíssima.Vamos acompanhar!
ResponderExcluirAbs