Quebrando alguns tabus
Michael Fassbender vive um homem viciado em sexo no segundo longa-metragem de Steve McQueen e entrega a atuação mais elogiada de sua promissora carreira. Mas Shame, além de oferecer o ator em pêlo, tem outros objetivos e Claquete os apresenta
Rodou Hollywood nos idos de janeiro e fevereiro a ‘pratical joke’ de que Michael Fassbender ficou de fora dos finalistas da disputa pelo Oscar de melhor ator em virtude do tamanho de seu pênis, que aparece em Shame – filme no qual interpreta um executivo viciado em sexo e com sérios problemas de relacionamento. O diretor Steve McQueen, em entrevista a um programa de tv americano, ofereceu uma análise menos brincalhona e mais incendiária: “Michael não foi indicado porque os americanos temem o sexo”. Ele não disse que há hipocrisia. Não falou em moralismo e nem em puritanismo. Falou em medo mesmo.
Shame acompanha um homem que não consegue desenvolver nenhum tipo de relação em sua vida que não tenha como meta sexo. “Mas não é um filme sobre prazer sexual”, acrescentou Michael Fassbender em entrevista à revista Total Film. “É um filme sobre nosso tempo”, defendeu o New York Times à época da premiere do filme no festival de Veneza 2011, de onde saiu com o Leão de ouro de ator para Fassbender.
McQueen, que além de cineasta é artista plástico, disse em Veneza que Shame é um filme tão político quanto seu elogiado drama de estreia (Hunger) – também estrelado por Michael Fassbender. “Aquele era sobre uma prisão na Irlanda do Norte, esse é sobre como a liberdade de alguém pode aprisioná-lo e ele precisa de um vício para atenuar uma dor”.
O crítico de cinema Pablo Villaça desenvolve raciocínio intercambiável com a explanação de McQueen: “se a expressão ‘viciado em sexo’ parece estranha, já que normalmente não pensamos em dependência quando lidamos com algo que soa tão natural e prazeroso, é porque muitas vezes nos esquecemos de que esta é precisamente a natureza do vício: transformar o prazer em obsessão”. Para o principal crítico do portal Cinema em Cena, Shame é um filme muito bem urdido por seu diretor que apresenta um personagem “que parece experimentar um misto de dor e tristeza ao buscar mais um orgasmo”.
McQueen orienta Carey Mulligan e Fassbender: a atriz disse, em uma conflituosa descrição, que o diretor foi "cruel" e "generoso" com ela |
“Shame é um minucioso retrato de nosso tempo”, estipulou o jornal San Francisco Chronicle em sua resenha do filme. A busca por uma conexão real, de fato, parece estar em pauta no cinema. De filmes como Drive até Os descendentes, a questão é colocada em camadas e tonalidades diversas, mas o que Shame propõe é uma reflexão muito mais profunda e interiorizada.
Há muito sexo em Shame, mas McQueen optou por não erotizar as imagens. “Brandon (Fassbender) não é um mulherengo”, argumenta o diretor. “Seria uma forma de distrair o público do foco do filme”. McQueen acrescenta que escolheu a cidade de Nova Iorque como cenário do filme (Shame, vale lembrar, é uma produção britânica) por ser a big apple a capital do mundo. “Além do fato de todo mundo ser um pouco solitário em Nova Iorque ”, apontou em entrevista à GQ americana, deixando transparecer que Shame também fala sobre solidão. “São novas compulsões as que a internet estabeleceu”, filosofou em Veneza.
Sexo, vício, política, solidão, internet... Shame reúne muitos tabus sob seu jugo. Quebrá-los todos de uma vez, como teorizou McQueen ao comentar a esnobada de Fassbender pela academia, é um desafio inquebrantável.
Sigo curiosa quanto a este filme.
ResponderExcluirbjs
Eu estou verdadeiramente ansioso para assistir "Shame", não tanto pelas expectativas em relação ao filme, mas pelo curiosidade acerca dos comentários positivos que o filme tem recebido.
ResponderExcluirÉ um trabalho vigoroso de todos os envolvidos.Gostei muito Reinaldo!
ResponderExcluirFassbender e Mulligan estão totalmente entregues. Não só Fass, mas acho que a Carey nas cenas de nudez, também se expõe de maneira tensa. Ainda mais com um diretor que adora diálogos longos em um único take.
Eu gostei do resultado. É um filme reflexivo e trágico e realmente não chega a ser erótico, pode até soar sensualidade para algumas pessoas, mas de fato não é o foco do filme.
E concordo com o McQueen quanto aos americanos. Não é a primeira vez que isso acontece com um filme que mostra um assunto tão íntimo e polêmico.
Aguardo a sua crítica!
Abs.
"Shame" é um daqueles filmes que eu quero muito assistir, porém tenho a leve suspeita de que será mais um daqueles a ficar de fora da lista de lançamentos dos cinemas da minha cidade.
ResponderExcluirBeijos!
Amanda:Vc vai ser arrebatada por esse belo filme.
ResponderExcluirBjs
Luís: O filme é ótimo Luís.A crítica será publicada nesta segunda (20)no blog.
Abs
Rodrigo Mendes: Cara, se te disser que "Shame" é o segundo melhor filme do ano lançado até aqui, vc acredita? Acho que Fassbender está soberbo e Carey tb está fantástica. Filme cheio de sugestões, provocações, ilações... Poderosíssimo! A crítica nesta segunda.
Abs
Kamila: Pois é Ka, isso é mesmo uma pena. Mas o importante é vc poder assisti-lo, mesmo que mais para frente...
Bjs
Muito bom!!! Intrigante, Sensual, Corajoso. Cada cena guarda uma surpresa!
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