Faltou sustância!
É preciso dizer que A dama de ferro (The iron lady, ING 2011) não dá conta da complexidade da personagem principal, a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher (Meryl Streep). Isso em virtude de três aspectos que estão intimamente relacionados. O primeiro deles é que a diretora Phyllida Llyod não só não esconde sua simpatia pela personagem como a sublinha com opções que modificam o caráter do filme: trata-se, afinal, mais de uma homenagem à controvertida figura de Thatcher do que uma biografia propriamente dita. O segundo ponto é a falta de perspicácia de Llyod na construção dramática da fita – demérito que precisa ser compartilhado com o roteiro preguiçoso e mal articulado. Se Llyod acerta em situar seu filme na velhice de Thatcher e, a partir desse recorte temporal, estabelecer uma comparação entre a mulher que experimentou o ápice do poder na Inglaterra e no Ocidente e a mulher que não consegue se desvencilhar de alucinações causadas pela esquizofrenia que lhe vitima, ela erra ao imprimir tom didático e quadrado na construção da personagem. Os flashbacks que mostram a admiração de Thatcher por seu pai, seu ingresso na vida política, o surgimento do amor e algumas das crises de seu governo são engessados por uma lógica narrativa pouco inventiva que, não só arrefece qualquer chance de A dama de ferro ser minimamente satisfatório enquanto cinema, como transforma o filme em um pastiche feminista mal elaborado.
Meryl Streep levanta o dedinho: não ousem estragar meu filme...
O terceiro ponto que faz A dama de ferro sucumbir ante as expectativas ensejadas é a falta de contexto histórico que lhe caracteriza. Além de não abarcar a política de maneira inteligente, de apresentar um retrato simpático e profundamente equivocado do ponto de vista histórico de Thatcher, A dama de ferro erra ao querer cobrir uma vida, e um governo, em um filme de hora e meia. Parece oportuno dizer que um recorte temporal específico talvez fosse mais fiel à essência de Thatcher enquanto personagem histórico.
A dama de ferro é um filme narrativamente pobre, com opções estéticas discutíveis e uma atriz que faz o possível para driblar as limitações da realização. Se A dama de ferro é minimamente tolerável é em virtude do trabalho de Meryl Streep. Atriz detalhista, intuitiva e que sabe chamar a responsabilidade para si.
Se se restringisse à cena inicial, em que flagra uma desorientada Thatcher impotente em um supermercado, A dama de ferro seria genial. Mas o filme segue, sem essa aptidão para a sugestão, e submete seu espectador à constatação de que existem grandes filmes e existem aquelas grandes ideias que poderiam ter resultado em grandes filmes. Meryl Streep, no final das contas, não faz milagres.
Hum, Reinaldo... Vou discordar de você em um ponto de seu texto: a simpatia de Phyllida Lloyd pela Margaret Thatcher não comprometeu o filme, uma vez que o retrato sobre os bons e os maus momentos dela no poder estão aqui, sem disfarces. O que mais me incomodou nesse filme foi a edição histriônica que, pra mim, não combina com a sobriedade que essa história pedia.
ResponderExcluirBeijos!
Kamila: Ka, acho que comprometeu no sentido de que é um retrato bem parcial de Thatcher. Além do que provê um contexto pobre de seu legado político e do cenário político-econômico da época de seu governo. O único momento em que ela é mostrada como a "tirana" que ficou conhecida foi naquela reunião em que destrata seu chefe de gabinete. E mesmo esse momento autoritário não é bem contextualizado. Enfim, um filme bem fraco mesmo na minha avaliação. O único acerto é Meryl Streep.
ResponderExcluirBjs
Eu acho incrível como Meryl Streep e sua atuação poderosa conseguem sair incólumes da tosquice que é "A Dama de Ferro".
ResponderExcluirElton: Pois é... Divindade da atuação é outra história...
ResponderExcluirAbs