Muito respeito temperado com alguma ousadia!
A ideia de colocar um papa recém eleito, mais do que com crise vocacional, no centro de um dilema existencial é, por si só, suficientemente atraente para render um bom filme. Se a proposta encorpar, ainda, um confrontamento entre os dogmas católicos e a retidão do pensamento psicanalítico, melhor ainda. É esse o painel pincelado pelo cineasta italiano Nanni Moretti em Habemus papam (ITA 2011), filme que integrou a seleção oficial do último festival de cinema de Cannes. Contudo, Moretti não entrega tudo que promete com o início desestabilizador de seu filme. A comédia certeira e inteligente que se anuncia, com forte propensão à ridicularização da instituição Vaticano, não se concretiza no curso da fita. O fluxo narrativo alterna um drama existencial, uma comédia nonsense e algum senso crítico nunca levado às últimas consequências. Não que essa oscilação resulte em um filme irregular ou decepcionante. Moretti domina a encenação de tal maneira que a alternância de gêneros ocorre organicamente, porém, não esconde o fato de que Habemus papam não chega a seus limites. Primeiro porque o confronto entre percepções psicanalíticas e religiosas não ocorre – exceto por uma genial cena que apresenta o terapeuta vivido pelo próprio Moretti e que se estabelece como referencial para as potencialidades do filme. Segundo porque a crise existencial vivida pelo papa, magnanimamente interpretado pelo ator francês Michel Piccoli, não é tangenciada em todas as suas possibilidades dramáticas. Moretti opta por ater-se à crise e menos às suas interjeições religiosas, o que, indubitavelmente, diminui o impacto de Habemus papam.
Moretti e Piccoli na melhor cena do filme: fluxo de gêneros e atores em plena forma
Entretanto, Moretti apresenta algumas gags geniais, como a partida de vôlei entre cardeais, a queda de energia tão logo tem início o conclave e a invasão dos pensamentos dos cardeais, flagrando-os rogando a Deus que não sejam os escolhidos para o mais alto posto clerical.
O desfecho aventado pelo cineasta é pertinente não só ao comentário que objetiva fazer com seu filme, como a toda a construção dramática intrínseca a ele. É, também, uma demonstração, ainda que aparentemente canhestra, de respeito à instituição Igreja católica. A humanização do Vaticano, orquestrada por um diretor afoito em afrontar instituições, não seria consolidada com um final diferente.
Coincidência, meu texto sobre o filme publico amanhã, hehe, concordo plenamente com a promessa não cumprida. E a mim, isso decepcionou um pouco, pois estava com muita expectativa em relação a isso. De fato, o filme não é ruim, mas perdeu uma boa oportunidade de ser genial.
ResponderExcluirP.S. Agora a partida de vôlei, achei um exagero... Preferi as piadas sutis com a Bíblia e a depressão, ou todo aquele início genial.
bjs
Sua crítica é mais resumida, mas com uma opinião muito parecida com o texto que li da Amanda sobre esse mesmo filme. Eu continuo muito interessada em assistir, especialmente porque acho a trama interessante e o Moretti sempre tem um tom crítico ótimo.
ResponderExcluirBeijos!
Amanda:Pois é, o filme poderia ser genial, mas o Moretti se conformou em ser bom, né?
ResponderExcluirBjs
Kamila: O filme é mesmo muito interessante.
Bjs