quarta-feira, 8 de setembro de 2010

TOP 10

Tudo mundo comenta os péssimos títulos nacionais que filmes estrangeiros recebem por aqui. Claquete já perpassou o assunto em diferentes ocasiões. Dessa vez, a proposta é diferente, embora intercambiável. O TOP 10 dessa semana lista os 10 filmes com nomes filosoficamente acurados em suas encarnações originais. É um outro ponto de vista para medir a pobreza das traduções nacionais e para perceber como um título pode dizer muito sobre um filme (e as vezes lhe botar uma baita de uma pressão). Com vocês Os 10 nomes originais de filmes que são filosoficamente acurados



10 – There will be blood
(no Brasil, Sangue negro)
Poucos filmes tiveram títulos tão assertivos quanto este western rude e vanguardista de Paul Tomas Anderson. O filme que mostra a construção da América ao confrontar a religião com o crescente poder econômico (nas figuras do pastor vivido por Paul Dano e do prospector de petróleo vivido por Daniel Day Lewis), tem em seu enunciado o dogma social que ainda aflige nossa era. O filme pode até não corresponder a força de seu título, mas a gana dos personagens não faz por menos.

9 – The expandables
(no Brasil, Os mercenários)
Poucos filmes adotam um título que diga tudo sobre o filme. Que remeta ao estado de spírito dos protagonistas e que tenha sentido dentro da trama apresentada (mesmo que a trama em questão seja rasa feito um pires). Este é um caso. Goste você ou não de The expandables, é preciso reconhecer a soberania de seu título. Os descartáveis. A verdade poética do título emula o que o filme também significa para o público. Um triunfo.

8 – The unbearable lightness of being
(no Brasil, A insustentável leveza do ser)
A despeito da carga dramática e da beleza que a combinação de palavras propõe, é plenamente compreensível o por que de ter-se traduzido literalmente este título. É auto imposto. A divagação do enunciado fica com a gente. Clama uma ponderação e se firma como interesse primal. A vida tem sua porção do insustentável e nessa trama de época estrelada por Daniel Day Lewis, esse aspecto não chega a impressionar tanto quanto as infinitas possibilidades sugeridas pelo título.

7 – About a boy
(no Brasil, Um grande garoto)
O filme que traz a performance mais elogiada da carreira de Hugh Grant é uma perola do humor britânico. É também um filme sobre a improvável amizade entre um garoto em busca de uma figura paterna e de um playboy endinheirado que fora privado de uma. O brilho do título sai justamente dessa interposição de figuras. O garoto do título pode tanto ser o desajeitado personagem de Hugh Grant ou o menino que o elege para pai informal.

6 – From Rússia with love
(no Brasil, Moscou contra 007)
Foi aqui que os filmes de 007 começaram a zelar por títulos auspiciosos e charmosos. O título da segunda aventura de James Bond é certeiro em capturar o clima da guerra fria e em emular o fraco do espião britânico por mulheres. Tamanha sagacidade foi jogada no lixo com o título banal aventado em terra brasilis.

5 – Charles Wilson´s war
(no Brasil, Jogos do poder)
Se existe um título sensacional em sua simplicidade é este. A guerra de Charles Wilson é cabal porque a guerra no Afeganistão só parecia interessar, nos EUA, ao congressista Charles Wilson. O título também é pontual em levantar a peteca para o inusitado. Afinal, fora a guerra de Charles Wilson que colocou Israel, Arábia Saudita e Palestina no mesmo time. Há, também, o agridoce componente da guerra de Charles Wilson ter desembocado nessa desastrada guerra ao terror que nos deparamos hoje em dia. No Brasil, optou-se por um título burocrático perfeito para quem tem preguiça de pensar.

4 – Road to perdition
(no Brasil, Estrada para a perdição)
Outro caso de título mantido. O que foi positivo para a trajetória do gangster que cruza a América com seu filho em busca de vingança. A jornada de perdição tem uma metáfora fácil, porém bem vinda, com a rua em que se passa o clímax do filme que divide o nome com a fita.
Tanto a vida quanto aquela estrada levam a memórias e arrependimentos incontornáveis, mas também a doces lembranças.

3- Into the wild
(no Brasil, Na natureza selvagem)
Se o objetivo é entrar em contato com a liberdade, nada melhor do que se livrar de amarras sociais. É o que nos antecipa esse romântico título do filme biográfico dirigido por Sean Penn. Adentrar a vastidão selvagem de nós mesmos e do mundo é algo que não pode ser tomado como fácil, mas tem sua beleza. E o singelo título do filme contribui para essa percepção. Não é preciso dizer que essa sutileza não foi capturada pelo título nacional.

2 - No country for old men
(no Brasil, Onde os fracos não tem vez)
O xerife vivido por Tommy Lee Jones logo diz que já não entende mais o mundo. Mundo em que a violência ganhou status e razão social. O personagem não é fraco, mas é de uma geração um tanto quanto extinta no filme dos irmãos Coen. Um filme em que a questão geracional se revela um componente de inadequação mais forte do que qualquer outra coisa. Essa sutileza foi negligenciada pelo título nacional que prefere travestir o denso e soturno western dos Coen como um faroeste banal.

1-Up in the air
(no Brasil, Amor sem escalas)
O péssimo trocadilho do título nacional confunde um espectador desavisado. Não se trata de uma comédia romântica, tão pouco de um romance ambientado em um aeroporto. Up in the air é um drama existencial de espírito moderno. O título da fita emula o estado de suspensão de seu protagonista fazendo uma bem sacada comparação com sua predileção por viver em trânsito aéreo. O amor até está em pauta, mas em momento algum ele se recusará a fazer escalas.

10 comentários:

  1. "The Unbearable Lightness of Being" é um título totalmente poético! ADORO!

    Outro que eu AMO: "Children of a Lesser God". :)

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  2. Gostei bastante desse post. Dar título a um filme é uma arte que o Brasil ainda precisa treinar, uma besteira muda o sentido de tudo como About a boy para um grande garoto.

    bjs

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  3. Muito bacana e original o post!
    Gostei bastante do primeiro lugar, pois mesmo o título nacional sendo piegas e etc, ele tem a ver com a história, pois no fim, o que estava em pauta era o amor e sua "disponibilidade". Enfim, tem a ver.
    Mas, meu favorito é "Na natureza Selvagem"!!!

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  4. Em hora! Adorei as tuas considerações acerca destes títulos, Reinaldo!

    Entre todos prefiro "There Will Be Blood", além de tudo, pela bela sonoridade de sua pronúncia. Este título, assim como a trilha sonora destoada composta para o referido filme, funcionam simbolicamente como personagens dentro do filme. Personagens que antecipam os acontecimentos da trama, por isso mesmo, personagens oniscientes! Sublime...

    Quanto às versões brasileiras de títulos internacionais, a única totalmente descartável que, do ano anterior, agora relembro é "Tá Chovendo Hambúrguer" (originalmente, "Cloudy, With A Chance Of Meatballs") . Desta vez tratava-se de um filme, como o seu título, descartável, mas o que dizer de outra animação que perdeu muito de seu simbolismo, falo de "A Viagem de Chihiro" (originalmente, "Sen To Chihiro No Kamikakushi")?!

    Esses maus "taxonomistas" deveriam conhecer, e nunca esquecer, a máxima de Saramago:

    "Com as palavras todo cuidado é pouco, mudam de opinião como as pessoas."

    Mas a verdade, é que há vários outros fatores envolvidos. Como sempre, as mesmas forças invisíveis, de que tratam Camus ou Sabato em sua literatura, a controlar nosso mundo...
    Os investidores, a economia global, o capitalismo, enfim... Coisas de que nem a Arte é capaz de se limpar!

    Um abração, Reinaldo.
    ;)

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  5. Wow! Que post legal e criativo. No começo eu não entendi muito bem rs, mas depois fiz uma força e percebi que tu falava dos títulos originais e tal. Legal foi o leve balanço que tu fez com as traduções que recebemos aqui - aliás, uma sugestão de Top 10 seria listar os filmes cujas traduções no Brasil acabaram completamente com o "espírito" do filme. "Amor sem Escalas", sem dúvida, é um deles.

    Ótimas escolhas! O caso de "about a Boy" me lembrou o francês "A Criança", que é basicamente a mesma situação de interpretação de títulos e confesso que prefiro a tradução "Samgue Negro" a "There Will Be Blood". Acho muito mais ponderado e elegante =)


    abs, R! o/

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  6. Oi Reinaldo..td bem?

    Parabens pela postagem...adorei a ideia....um filme que causou um pouco de desconforto e até afastamento em quem não gosta de filmes de terror esse ano foi A Ilha do Medo, que, no inglês, é Shutter Island, ou seja, apenas o nome da ilha, o que fez com que algumas pessoas deixassem de ver essa obra maravilhosa...uma pena!!

    Abrs

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  7. É a mesma coisa quando os pais discutem e fazem listinha com a família pra decidir o nome do rebento que está por vir, rs!

    A tradução do segundo James Bond ficou na verdade Moscou Contra 007 ( o que é pior) e não 'Rússia Contra 007' mas pelo menos não saiu do mapa, rs! Este que é o capítulo da cinesérie e o livro mais excitante de Ian Fleming. Seria um charme mesmo: 'Da Rússia Com Amor', a Moneypenny guardou o postal do James, rs!

    Meu filho vai se chamar: "Júnior"(lembrei daquela bobagem do Ivan Reitman com o Schwarzenegger, rs). Assim será traduzível para todas as línguas, rs!

    Ótimo post!
    Abraço
    Rodrigo

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  8. Eu sou contra "títulos nacionais". Acho que a tradução deveria sempre preservar o título original, apesar de exitirem títilos nacionais melhores que os originais. Parabens pela postagem. Abraço.

    http://omundodoscinefilos.blogspot.com/

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  9. Kamila: Pois é! Filhos do silêncio! Esqueci de incluir esse filme. Um título realmente soberbo... bjs

    Amanda: Valeu Amanda. bjs

    Alan: Acho que vc não entendeu bem a natureza do top 10... rsrs. Abração!

    Marcelo: Você ainda não viu???! Corra para a locadora! Abs

    Cássio: Obrigado pelas considerações e pela bom e super bem vindo complemento (sempre elegante) que fez ao post. Saramago em toda a sua excelência nos despe antes mesmo de que tenhamos vontade de tirar a roupa. Grande abraço!

    Elton: Que bom que vc pescou a ideia. É sutil msm. Já fiz um Top 10 com dez péssimos títulos nacionais. Um dos próximos TOP 10 que teremos são de títulos nacionais que "explicam" melhor o filme do que os originais. Aguarde!
    Discordo da sua preferência por Sangue negro. Não acho o nome nacional nem um pouco compatível com a obra. Mas entendo as razões que te levaram a achar... abs

    Gui Barreto:Obrigado. é verdade. Shutter Island é outro filme que ganhou um título genérico. Mas não vejo esse componente filosófico no título do filme de Scorsese... abs

    Rodrigo: Comi bola aí mesmo. Estava com o impactante título original na cabeça e suavizei o horrendo título nacional. rsrs. Valeu pelo toque. Abs

    PS: Júnior é legalzinho vá...rsrs

    Leonardo: Valeu meu brother. Penso parecido contigo. Abs

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