Oliver Stone ainda é polêmico?
Existem artistas cuja expressividade remete a determinados períodos da história. Lennon e seu libelo antibélico (Imagine) no calor do Vietnã é um exemplo óbvio. Oliver Stone, por sua vez, perseguiu a fama de polemista e a conquistou. Tentou enquadrar a história americana em seu caledoscópio fílmico por diferentes perspectivas. Seja pelo ponto de vista político (Nixon, JFK – a pergunta que não quer calar), do patriótico (Nascido em quatro de julho), do potencial de fabricação midiático dentro da sociedade do espetáculo (Assassinos por natureza), desnudando ídolos (The doors), pelo escopo capitalista (Wall street –poder e cobiça e Um domingo qualquer) ou através de seus traumas (Platoon e As torres gêmeas). Oliver Stone desenhou para si mesmo uma glória improvável. Virou o biógrafo dos presidentes americanos no cinema. Já abordou Kennedy, Nixon e Bush. Os últimos presidentes a ocupar destaque (por boas ou más razões) na história do país e da humanidade. Envaidecido com o alcance de seu cinema e com a disposição que a classe intelectual tem de pensá-lo, o diretor cedeu ao capricho e fez uma biografia da vida de Alexandre –o grande. Alexandre (EUA 2004), talvez seja o primeiro indício de que Stone é, hoje, uma sombra de si mesmo. Um resquício do que um dia fora conteúdo, inquietação e ousadia.
Stone, o grande, orienta Angelina nos sets de filmagens de Alexandre: da expectativa ao ridículo
Oliver Stone foi o primeiro a mexer no vespeiro do Vietnã. É possível ver o impacto de Platton ainda hoje. Quando produções acerca da ocupação americana no Iraque e seus efeitos lá e dentro de casa pipocam nos cinemas com um Iraque ainda em efervescência política e com um conflito armado ainda em aberto. Platoon estabeleceu Hollywood como porta voz da esquerda liberal, embora nem sempre aja dessa maneira. O filme ajudava a construir perspectiva e dava embasamento para críticos da guerra e das políticas americanas, ainda que fosse só um filme. Em menor escala, foi o que se viu com a aceitação quase unânime a Guerra ao terror este ano.
Oliver Stone abraçou o personagem que criou para si mesmo e elegeu-se o questionador número 1 dos Estados Unidos da América. Levado mais a sério do que Michael Moore, outro que se tem em grande estima, Stone toca diversos projetos paralelos que tem a América (em diversos momentos da história) como foco. Em The secret history of America, um documentário que produz para o Showtime (canal a cabo americano), Stone especula que seriam os EUA os mentores do nazismo e os responsáveis por sua deflagração (a ascensão de Hitler). Ano passado o diretor lançou o documentário chapa branca Ao sul da fronteira (confira a resenha deste filme no próximo domingo em Claquete documenta) em que mostra o “sonho” da América Latina tocado por Hugo Chavez e seguido pelos “irmãos” Lula, Evo Morales e Cristina Kirchner. Após a crise financeira deflagrada em 2008, resolveu voltar ao mundo de Wall street com Wall street – o dinheiro nunca dorme.
O primeiro erro de Oliver Stone foi seguir as diretrizes que questionava nos seus primeiros filmes. Ao se anunciar como portador de uma verdade absoluta (ainda que a mesma seja visivelmente relativa), Stone cai diante de si mesmo. Sua credibilidade se esvazia e sua ressonância se resume a polêmica que um dia foi assertiva. Hoje é só barulhenta.
Como era verde o meu vale: Oliver Stone ganhou dois Oscars de direção no espaço de 4 anos e depois secou a fonte
Bacaníssimo seu site Reinaldo, PARABÉNS!
ResponderExcluirRodrigo Duarte
Acabei de ver nesse fim de semana Assassinos Por Natureza, que maluquice né????????? Um soco na mente !Fiquei curiosa pra ver esses documentário, vou ver se consigo achar!
ResponderExcluirBeijos
Pois é Reinaldo, Alexandre foi um filme diferente para Oliver Stone, mas ele continua sendo um diretor de primeira linha.
ResponderExcluirNão vi apenas o filme sobre o Bush. Josh Brolin está bem ultimamente.
Provavelmente não há diretor americano que tenha abordado tantos filmes de primeira linha sobre política, mídia e o patriotismo dos EUA como ele, mas acho que ele se gaba muito por sua medalha de guerra. Um cara que hoje procura atalhos pra fazer bilheteria e que já foi melhor (apesar de seus filmes serem produções muito bem feitas).
Meus favoritos são: 'Reviravolta' com Sean Penn e obviamente 'Assassinos Por Natureza', ambos muito parecidos com narrativa de videoclipe.
Abraços
Rodrigo
Rodrigo Duarte:Obrigado. Fico feliz pelo reconhecimento. Espero ver vc por aqui mais vezes. Grande abraço!
ResponderExcluirLaís:Maluquice total!rsrs. Fique ligada porque Assassinos por natureza será um dos filmes abordados em Panorama este mês. Fique sem pressa para Ao sul da fronteira pq é bem ruinzinho. Domingo tem a resenha dele aqui em Claquete.Beijão.
Rodrigo: Grande Rodrigo. Pude reparar que estamos na mesma calibragem em relação a Oliver stone. Meus preferidos dele são Reviravolta, Wall street e JFK. Abs
Vou ver se assisto aos filmes de Stone que ainda não vi, por exemplo o elogiado "Reviravolta" e "Assassinos Por Natureza".
ResponderExcluirNo mais, li que Stone também ficou revoltado com o resultado de "Alexandre", parece-me que não o permitiram participar da edição do longa. Confirmas isto?
Abraço!
;)
Cássio: É verdade. Ele entrou em frequentes atritos com alguns produtores do longa. Ele, inclusive, desautorizou a versão final do filme.Mas só depois de confirmado o fracasso de público e crítica. Ele queria se lançar mais no aspecto psicológico de Alexandre, no que o estúdio (a Warner) temeu que isso afugentasse o expectador. Afinal, eles estavam vendendo um épico e Stone, definitivamente, não rodou um épico. Enfim, apesar dos pesares, Stone participou da promoção do filme e se não foi o filme que ele queria entregar, é possível depreender que foi um filme mais palatável do que ele queria entregar.
ResponderExcluirAssista Reviravolta e Assassinos por natureza. Vc vai gostar!
Abs