Na cova dos leões!
Entretenimento sagaz, crítica inteligente e diálogos de alta voltagem em um exemplo de cinema bem feito
Muitos podem dizer que Oliver Stone está se repetindo com Wall street- o dinheiro nunca dorme (Wall street- Money never sleeps, EUA 2010) ou que este segundo filme, lançado 23 anos depois do primeiro, não tem a urgência nem a primazia que fizeram do primeiro Wall street um acontecimento cinematográfico de tanto apelo quanto um crash financeiro. Não deixa de ser uma afirmação legítima. Não há nada no novo filme que já não estivesse delimitado no primeiro. O que Stone faz aqui é ampliar, com invejável dose de cinismo, seu comentário. “Alguém me lembrou que certa vez eu disse que a ganância é boa. Agora ela é legalizada”, a frase certeira disparada por Gordon Gekko em uma palestra em que promove seu mais recente livro captura brilhantemente o espírito do novo filme. Stone volta-se novamente para a mais volátil e cruel das selvas. A dos homens que simplesmente não conseguem se satisfazer.
O novo filme começa com Gekko saindo da prisão e Stone não economiza nem mesmo aí. Mapeia logo para seu público que os tempos são outros (reparem no tamanho do aparelho celular de Gekko). Antes de limusine, Gekko se vê um usuário do transporte público. Não é apenas em cima do célebre personagem que Stone destila sua verve crítica; Bretton James (Josh Brolin em inspirada atuação), Jacob Moore (Shia Labeouf) e Lou Zabel (Frank Langella) são todos facetas de um mesmo sonho. O novo Wall street se assenta mais sobre alguns princípios financeiros do que o primeiro, mas Stone é tão hábil em repercuti-los quanto o fora no original. Diferentemente do primeiro filme, a moral de Stone é apresentada logo de cara. O diretor não deixa-nos esquecer do “risco moral” (para usar um termo em voga no filme) de nos afeiçoarmos àquele mundo. Um mundo em que todo o sentido se resume a competição. Há muito no novo filme para ser digerido, mas antes disso, salta aos olhos o entretenimento fino que O dinheiro nunca dorme é.
Jacob Moore se aproxima de Gekko após o suicídio de Zabel, cuja empresa faliu devido a intervenções especulativas de Bretton James. O objetivo primal de Jacob é vingança. O segundo é estabelecer uma nova relação mentor e protegido, tal qual tinha com Zabel e como vimos no filme original entre Gekko e Bud Fox (Charlie Sheen). Em certo ponto, os propósitos de Jacob se alinham aos de Gekko.
O vigor da fita é impressionante. Sejam os diálogos matadores ou as situações invariavelmente inacreditáveis (e justamente por isso críveis) que testemunhamos no exercício que Stone se propõe de reconstituir o legado de Wall street para a presente geração.
Nada como um dia após o outro: Em Wall street, como na vida, tudo é ciclíco...
O aspecto visual também chama a atenção. A música é alentadora e ajudar a montar o painel elegante que o diretor objetiva. Se há um porém em O dinheiro nunca dorme é a súbita vontade de Stone em redimir seus personagens (especialmente Gekko). Algo que não ocorrera no primeiro filme.
Entretanto, não se pode negar que Stone tenha sido mais enfático em sua mise en scène. Contudo é, também, inegável que ele continua vislumbrado com os mecanismos e a dinâmica do sistema. Não à toa seu filme começa com a câmera zanzando pelos arranha –céus de Wall street e termina com algumas bolhas soltas pelo ar. Não há forma mais enfática de externar a fissura diária que se dá em Wall street.
Esse título que é fascinante
ResponderExcluir!!!
Vontade de redimir Gekko? hummm, sei não, hehe. Ele apenas é um ser humano e, como todos, tem sentimentos pela filha. Mas, na hora H ele mostra bem a que veio.
ResponderExcluirEu continuo achando que o que falta no filme é focar mais no personagem Gekko e sua relação com genro e filha. Ele sai um pouco do foco para ficar Jacob, vingança pela morte de Zabel e Bretton James. Mas, um bom filme, sim.
bjs
Ainda não assisti ao filme, por isso pulei sua crítica. Mas, assim que eu ver "Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme", volto aqui!
ResponderExcluirAinda não vi o filme, mas primeiro terei que assistir o primeiro.
ResponderExcluirBeijos! ;)
Moço, parabéns pela resenha! Ficou muito boa!
ResponderExcluirGostei muito do filme - há diálogos particularmente inspirados. Achei legal ele fazer os gráficos seguindo o contorno dos edifícios - parece tão óbvio depois q a gente vê, mas eu não tinha pensado nisso ainda, rsrrs
Achei o personagem Jacob um pouco mais ingênuo do que o aceitável para um "Wall Street guy", mas ok. Não lembro de ter visto outros filmes com o Josh Brolin - gostei dele e tb do personagem do Eli Wallach.
Kamila, pode ler a resenha, o Reinaldo não colocou spoilers, rsrsrs
Bjs,
Aline
Marcelo: Ô se é... abs
ResponderExcluirAmanda: A diferença para Stone é que aqui ele pegou um ícone que é esse Gordon Gekko. No primeiro Wall street Gekko não era um ícone. Ele não podia ser implacável com o personagem. Ele sabe que 70% do cinema admira o personagem. Sendo assim, ele lhes dá Gekko em sua natureza e depois mostra como vc disse que ele é humano... mas se 8 anos de prisão não o fizeram pensar diferente, não vai ser o ultrassom do netinho que fará...
Penso que o filme focou em Gekko e sua relação familiar o necessário. Aliás, tanto o roteiro quanto o ritmo (a montagem) para mim são um primor... bjs
Kamila: Ka, Ka, já cansei d ete dizer que minhas críticas não contém spoilers...rsrs. bjs
Mayara:Vc pode ver este e curtir bastante sem ter visto o primeiro. Embora a experiência seja mais rica para quem assistiu o Wall street original... bjs
Aline: Obrigado Aline. Pois é, o filme tem quase tantos diálogos bons quanto o original. Mas tem algumas frases que entrarão facilmente para os anais da história do cinema...
Quanto a Josh Brolin, o pulo do gato dele foi em 2007. Quando estrelou o western dos irmãos Coen Onde os fracos não tem vez. Depois disso, sua carreira entrou em uma grande espiral de ascendência. Antes disso, ele vivia à sombra da mulher (Diane Lane) e coadjuvava em filmes como O Homem sem sombra.
Bjs
Michael Douglas tá esculachando nesse filme. Ele é demais. Dá vontade de socar a cara dele, de tão cínico !
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