terça-feira, 25 de maio de 2010

Crítica - Robin Hood

O personagem errado no filme certo

É inegável que Ridley Scott sabe fazer épicos. Assim como é inegável que ele gosta de fazê-los. Robin Hood (EUA 2010) foi uma produção conturbada desde o princípio. Troca de elenco, contestação do protagonista (Russel Crowe) - que seria velho demais para o personagem -, mudança de roteiro, de roteiristas e de argumento (o filme a princípio chamar-se-ia Nottinghan e Robin Hood e o xerife da cidade seriam a mesma pessoa).
Enfim, foram muitos os percalços superados por Scott para que lançasse seu filme na abertura do festival de Cannes deste ano. A recepção, porém, não foi boa. Os críticos presentes no festival pesaram a mão com Scott e seu filme, mas não foram faltosos com a verdade.
Robin Hood traz consigo as chagas de uma produção marcada por desvios e também a sombra do grande épico da atualidade, que calha de ter sido feito pela dupla Scott & Crowe. É bem verdade que a história deste Robin Hood pouco lembra a de Gladiador (2000), mas há a incessante busca do diretor pelo paralelo. Seja pelo uso da incessante trilha sonora que em muito faz lembrar a do filme de 2000, seja por tentar fazer o embate entre Godfrey (um ótimo Mark Strong) e Robin Hood (Russel Crowe) pessoal, ou por um conjunto de cenas que remetem diretamente ao filme vencedor de seis Oscars. Russel Crowe, ótimo ator que é, consegue distanciar-se da figura de Maximus (seu personagem em Gladiador), mas até nisso a memória daquele filme prejudica-o em sua nova composição; tendo em vista que a platéia irá, de uma forma ou de outra, forçar a comparação. Robin Hood, impreterivelmente sairá perdendo.



Preparar, apontar e...: uma das poucas vezes que Robin usa seu arco


O filme funciona maravilhosamente como entretenimento, é bom que se diga. Mas há de se questionar o esforço de Scott em fazer um filme sobre Robin Hood tão deslocado da leitura que se tem do anti-herói. Muda-se a história da Inglaterra, muda-se o perfil de Robin Hood, muda-se o contexto em que atuava e, por tabela, muda-se um pouco de suas motivações. Aproxima-se Robin Hood de um cavaleiro ou soldado, como se isso fosse necessário para legitimá-lo. Quisesse Scott fazer um épico enquadrado dessa maneira, era melhor que partisse de uma história original como fizera em Gladiador. A originalidade de Robin Hood soa falsa e ajuda a entender a resistência para com o filme. É preciso admitir também o tom pretensioso da fita. Em momento algum Robin Hood, que passa a maior parte do filme atendendo pelo nome de Robert Loxley, remete a figura clássica do personagem. Essa dicotomia também prejudica o filme. Scott, embora faça seu protagonista empunhar o arco e flecha e matar seu principal oponente com ele, tem dificuldades em convencer sua audiência de que aquele cara é Robin Hood. Ele parece mais William Wallace e, inevitavelmente, Maximus do que Robin Hood. E não importa o que se diga, esse vai ser o carma definitivo deste filme.

5 comentários:

  1. Eu senti dificuldade em me identificar com este Robin Hood. Senti falta daquela figura lendária, que já conhecemos. Não acho nem que esse filme funcionou como entretenimento. O roteiro pouco me envolveu e acho que uma coisa que foi muito prejudicial a este filme foi a sombra de "Gladiador" pairando por todas as cenas.

    Beijos!

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  2. Oi Reinaldo,
    Excelente ponto de vista sobre o filme. Eu apreciei a fita por gostar de épicos e pelo casal Crowe e Blanchett, mas assumo que esse anti-herói é deslocado, falta identidade nele, além dele ser assombrado por Gladiador... foi difícil para mim olhar Crowe e não associá-lo, neste filme, a Maximus, mesmo Robin Hood sendo um personagem "out".

    bjs

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  3. Oi, Reinaldo

    De fato este filme não prioriza uma criatividade...mas, tem força sim e interpretações boas. Creio que a Blanchett dominou muito, muitas cenas e é uma beleza assistir a seu vigor interpretativo, principalmente interpretando uma mulher de grande feminilidade e, acima de tudo, esperança em seu povo e em si própria...há bons diálogos dela, é bom de se ver.

    Crowe está menos enérgico que no Gladiador, mas eu gosto muito dele...mas, neste filme ele, às vezes, se perde e parece um coadjuvante...mas, não está ruim não.

    É um filme que realmente não inova em nada, nem as cenas de batalhas surpreende (se bem que há certas cenas que impressiona, aquela mesmo que acompanha a flecha é uma boa sacada) - mas, ainda sim, gostei do foco do roteiro no geral e das composições de Von Sydow, Oscar Isaac e Strong.

    Não acho que seja um filme "esquecível" como muitos vem dizendo por aí...mas, está mesmo longe de ser memorável.

    Abraço

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  4. Tô indo ver agora à noite, mas já tenho um ótimo panorama do filme com seu post. Valeu!

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  5. Kamila:Taí mais uma concordância Ka. A única diferença é que vc se deixou afetar mais pela incongruência interposta pelo filme. Mas nos posicionamos da mesma maneira. Bjs

    Madame:Obrigado madame.Foi exatamente isso que argumentei na crítica. Além de Scott forçar no paralelo, a platéia, invariavelmente, também faz isso. Esses vícios... rsrs
    Bjs

    Cristiano:Obrigado Cris. Entendo o seu ponto de vista. De certa forma, sua opinião se ajusta a minha, não é? Grande abraço!

    Fernando:Espero que vc goste Fernando. E já te disse como fico agradecido de vc ter minha opinião em tão boa estima?
    Valeu mesmo!

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