O personagem errado no filme certo
É inegável que Ridley Scott sabe fazer épicos. Assim como é inegável que ele gosta de fazê-los. Robin Hood (EUA 2010) foi uma produção conturbada desde o princípio. Troca de elenco, contestação do protagonista (Russel Crowe) - que seria velho demais para o personagem -, mudança de roteiro, de roteiristas e de argumento (o filme a princípio chamar-se-ia Nottinghan e Robin Hood e o xerife da cidade seriam a mesma pessoa).
Enfim, foram muitos os percalços superados por Scott para que lançasse seu filme na abertura do festival de Cannes deste ano. A recepção, porém, não foi boa. Os críticos presentes no festival pesaram a mão com Scott e seu filme, mas não foram faltosos com a verdade.
Robin Hood traz consigo as chagas de uma produção marcada por desvios e também a sombra do grande épico da atualidade, que calha de ter sido feito pela dupla Scott & Crowe. É bem verdade que a história deste Robin Hood pouco lembra a de Gladiador (2000), mas há a incessante busca do diretor pelo paralelo. Seja pelo uso da incessante trilha sonora que em muito faz lembrar a do filme de 2000, seja por tentar fazer o embate entre Godfrey (um ótimo Mark Strong) e Robin Hood (Russel Crowe) pessoal, ou por um conjunto de cenas que remetem diretamente ao filme vencedor de seis Oscars. Russel Crowe, ótimo ator que é, consegue distanciar-se da figura de Maximus (seu personagem em Gladiador), mas até nisso a memória daquele filme prejudica-o em sua nova composição; tendo em vista que a platéia irá, de uma forma ou de outra, forçar a comparação. Robin Hood, impreterivelmente sairá perdendo.
Preparar, apontar e...: uma das poucas vezes que Robin usa seu arco
O filme funciona maravilhosamente como entretenimento, é bom que se diga. Mas há de se questionar o esforço de Scott em fazer um filme sobre Robin Hood tão deslocado da leitura que se tem do anti-herói. Muda-se a história da Inglaterra, muda-se o perfil de Robin Hood, muda-se o contexto em que atuava e, por tabela, muda-se um pouco de suas motivações. Aproxima-se Robin Hood de um cavaleiro ou soldado, como se isso fosse necessário para legitimá-lo. Quisesse Scott fazer um épico enquadrado dessa maneira, era melhor que partisse de uma história original como fizera em Gladiador. A originalidade de Robin Hood soa falsa e ajuda a entender a resistência para com o filme. É preciso admitir também o tom pretensioso da fita. Em momento algum Robin Hood, que passa a maior parte do filme atendendo pelo nome de Robert Loxley, remete a figura clássica do personagem. Essa dicotomia também prejudica o filme. Scott, embora faça seu protagonista empunhar o arco e flecha e matar seu principal oponente com ele, tem dificuldades em convencer sua audiência de que aquele cara é Robin Hood. Ele parece mais William Wallace e, inevitavelmente, Maximus do que Robin Hood. E não importa o que se diga, esse vai ser o carma definitivo deste filme.
Eu senti dificuldade em me identificar com este Robin Hood. Senti falta daquela figura lendária, que já conhecemos. Não acho nem que esse filme funcionou como entretenimento. O roteiro pouco me envolveu e acho que uma coisa que foi muito prejudicial a este filme foi a sombra de "Gladiador" pairando por todas as cenas.
ResponderExcluirBeijos!
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirExcelente ponto de vista sobre o filme. Eu apreciei a fita por gostar de épicos e pelo casal Crowe e Blanchett, mas assumo que esse anti-herói é deslocado, falta identidade nele, além dele ser assombrado por Gladiador... foi difícil para mim olhar Crowe e não associá-lo, neste filme, a Maximus, mesmo Robin Hood sendo um personagem "out".
bjs
Oi, Reinaldo
ResponderExcluirDe fato este filme não prioriza uma criatividade...mas, tem força sim e interpretações boas. Creio que a Blanchett dominou muito, muitas cenas e é uma beleza assistir a seu vigor interpretativo, principalmente interpretando uma mulher de grande feminilidade e, acima de tudo, esperança em seu povo e em si própria...há bons diálogos dela, é bom de se ver.
Crowe está menos enérgico que no Gladiador, mas eu gosto muito dele...mas, neste filme ele, às vezes, se perde e parece um coadjuvante...mas, não está ruim não.
É um filme que realmente não inova em nada, nem as cenas de batalhas surpreende (se bem que há certas cenas que impressiona, aquela mesmo que acompanha a flecha é uma boa sacada) - mas, ainda sim, gostei do foco do roteiro no geral e das composições de Von Sydow, Oscar Isaac e Strong.
Não acho que seja um filme "esquecível" como muitos vem dizendo por aí...mas, está mesmo longe de ser memorável.
Abraço
Tô indo ver agora à noite, mas já tenho um ótimo panorama do filme com seu post. Valeu!
ResponderExcluirKamila:Taí mais uma concordância Ka. A única diferença é que vc se deixou afetar mais pela incongruência interposta pelo filme. Mas nos posicionamos da mesma maneira. Bjs
ResponderExcluirMadame:Obrigado madame.Foi exatamente isso que argumentei na crítica. Além de Scott forçar no paralelo, a platéia, invariavelmente, também faz isso. Esses vícios... rsrs
Bjs
Cristiano:Obrigado Cris. Entendo o seu ponto de vista. De certa forma, sua opinião se ajusta a minha, não é? Grande abraço!
Fernando:Espero que vc goste Fernando. E já te disse como fico agradecido de vc ter minha opinião em tão boa estima?
Valeu mesmo!