Quando o desejo fala mais alto...
Durante os anos 80, o cinema americano foi pródigo em realizar filmes que primavam pela sensualidade. Alguns desses filmes traziam, em seu cerne, uma interessante discussão acerca da fidelidade. O recente O preço da traição (Chloe, EUA/FRA/CAN 2009) recupera essa característica de maneira salutar. No filme de Atom Egoyan, remake de um ótimo filme francês chamado Nathalie X (já resenhado na seção Movie Pass aqui de Claquete), presenciamos um casal em crise afetiva. O sexo, ou a falta de, é – como não poderia deixar de ser – um elemento catalisador. Catherine (Julianne Moore) é uma ginecologista bem sucedida e pertencente a uma classe social privilegiada, mas que enfrenta problemas de comunicação em seu seio familiar. David (Liam Neeson), seu marido, é um professor que não faz questão de esconder um descontentamento aparentemente injustificável. O fato de David flertar, quase que instintivamente, com toda a mulher que lhe apareça à frente, aumenta a insegurança que Catherine já sente enquanto mulher e objeto de desejo de seu marido. Por um conjunto de circunstâncias, ela chega a Chloe (Amanda Seyfried), garota de programa que conheceu acidentalmente, com uma proposta inusitada. Ela gostaria que Chloe abordasse seu marido e lhe relatasse a reação dele. Aí há uma diferença cabal em relação ao original. Em Nathalie X, a mulher que suspeita de traição, vivida pela também ótima atriz Fanny Ardant contrata a prostituta para seduzir seu marido. Ou seja, na fita americana, o desejo, e sua cota do imponderável, são mais proeminentes do que na fita francesa.
O pecado é mais gostoso: A maçã proibida é a mais apetitosa...
Importante ressaltar que Catherine é uma mulher reprimida e ao se jogar de cabeça no affair de seu marido, e pior, ao bancá-lo, toda a sua libido irá explodir. Chloe, maravilhosamente interpretada por Amanda Seyfried, interpreta, conforme suas necessidades lhe impelem, a atitude de Catherine. E sua leitura não está de todo errada. É essa eclosão de desejo, culpa e ressentimento que fazem O preço da traição ser um filme notável em seu escopo. Egoyan realiza uma narrativa envolvente que, a despeito das soluções dramáticas aventadas, se vale copiosamente de uma sensualidade feroz e da beleza de suas protagonistas (muito bem fotografadas). A direção de arte clean e austera também ajuda na construção desse climão erótico.
O desejo pode pregar peças...Outros filmes também se apropriaram desse subterfúgio (a sensualidade e a sexualidade de seus personagens) para discutir a fidelidade. Alguns com mais êxito comercial, outros com mais sucesso critico. De uma forma ou de outra, todos propuseram histórias palatáveis.
Em Infidelidade, Diane Lane faz uma mulher muito bem casada com o personagem de Richard Gere que cede a tentação de um homem mais jovem (personagem de Olivier Martinez). Consumida pela culpa? Negligenciada pelo marido? Entediada? O filme de Adrian Lyne põe a lupa na questão. O que, além do desejo puro e simples, pode motivar um caso extraconjugal? O mesmo Adrian Lyne realizou o filme que talvez seja a bíblia para esse subgênero. Atração fatal, como entrega o nome, mostra o perigo de se ter relações extraconjugais. O filme, o mais moralista do subgênero, é também o mais bem sucedido. Na fita, indicada ao Oscar de melhor filme, Michael Douglas (ator que é assumidamente viciado em sexo e que alguns anos depois firmaria um contrato pré-nupcial que garante uma fortuna a Catherine Zeta Jones, caso a traia) vive um homem que trai sua mulher simplesmente por que lhe foi dada a chance.
Recentemente, a trama central de Atração fatal foi retomada em Obsessiva. No filme estrelado por Beyoncé Knowles, existe apenas um aprofundamento do suspense e o desenho de Beyoncé (a mulher traída) como uma espécie de heroína.
Sexy chic: Diane Lane vive uma mulher quarentona que cede a um caso extraconjugal em Infidelidade
O cineasta francês Claude Chabrol soube rir de uma situação muito comum em Uma garota dividida em dois. Uma mulher casada com um homem rico e mais velho apaixona-se por um homem mais jovem. O filme alia humor e tensão como poucos que abordam a infidelidade. Pintar ou fazer amor é outro bom filme francês que gira em torno de fidelidade, embora o escopo seja muito maior. Dois casais se enamoram em uma espiral de desejo em que fidelidade é um conceito um tanto deslocado.
O grande Stanley Kubrick também enquadrou o desejo, entre outras coisas, em seu derradeiro filme. De olhos bem fechados coloca um casal da vida real (Tom Cruise e Nicole Kidman eram casados à época das filmagens e do lançamento do filme) às voltas com libidos incontroláveis e traições.
De uma forma ou de outra, com posicionamentos mais conservadores ou mais liberais, o desejo é sempre muito bem capturado pelo cinema. O preço da traição é o mais novo membro dessa seleta, e sensual, galeria.
Metalinguagem do desejo: Em De olhos bem fechados, Cruise e Kidman servem ao voyerismo da platéia
Se você gostou deste tema e do filme que a coluna abordou, Claquete recomenda os seguintes filmes:
Infidelidade, de Adrian Lyne (EUA, 2002)
Assédio sexual, de Roger Donaldson (EUA 1994)
De olhos bem fechados, de Stanley Kubrick (EUA 1999)
Nathalie X, de Anne Fontaine (França, 2003)
Pintar ou fazer amor, de Arnauld e Jean Marie Larrieu (França, 2006)
Atração fatal, de Adrian Lyne (EUA, 1987)
Jogo de adultos, de Alan J. Pakula (EUA, 1992)
Muito boooooom, Reizinho...
ResponderExcluirAmei o post. E amo o filme: Infidelidade.
Beijoo, saudade!!!
Ótimo post! xD
ResponderExcluirEsses filmes com essa temática, são maravilhosos, uma pena que há pouco tempo que comecei a apreciá-los de uma forma diferente, ou seja, da forma correta.
Dos citados eu vi INFIDELIDADE, ótimo filme. E estou prestes a ver O PREÇO DA TRAIÇÃO. =)
E quem é que não cai em tentação uma vez que seja... afinal, basta estar vivo para sentir-se atraído ou atrair outras pessoas, principalmente quando o relacionamento não está lá aquelas coisas... Bons filmes, Preço da Traição parece-me seguir bem esta linha da qual gosto muito.
ResponderExcluirGostei das indicações, alguns não vi ainda e vou procurar.
ResponderExcluirQuanto a Chloe, eu não gostei tanto, é um filme interessante, com um belo argumento, mas achei que faltou algo. E falando em atração fatal, pensei que ia rolar algo mais nesse estilo após a reviravolta.
bjs
Yulia: Valeu pela visita Yulia.Que bom que gostou do post. Fico feliz!
ResponderExcluirBjs linda!
Alan: Valeu meu brother. A seção Contexto sempre repercute um tema comum em muitos filmes, partindo de um filme que esteja em cartaz nos cinemas. Vale a pena conferir as seções dos últimos meses. ABS
Fernando: Tem quem diga, se não pode combater a tentação, entregue-se a ela... abs meu brother!
Amanda:Pois é Amanda. Me lembro da sua crítica. E me lembro de vc ter comentado algo semelhante na minha critica. Não acho o filme genial. Como não o são Infidelidade, Atração fatal, Obsessiva e outros citados na seção. Mas é inegável que sejam bons filmes no tocante ao entretenimento.
Bjs