quarta-feira, 31 de março de 2010

O Cinema da vida real

Dourado em primeiro plano (como bem observou Bial certa vez): A mais inusitada parábola de segunda chance a ganhar forma em tempos atuais


Goste-se ou não de Marcelo Dourado, o grande vencedor do BBB 10, é preciso reconhecer o imenso apelo emocional e sócio-filosófico de seu triunfo. Na dramaturgia pretendida, e desenvolvida, na TV brasileira é um feito inédito. Das histórias que chegam aos ouvidos dos milhões de brasileiros é algo, se não inédito, com a força do improvável. Fala-se aqui da maior parábola sobre segunda chance já contada, afora livros de auto-ajuda e passagens religiosas, em nossos tempos. Quem diria que esse insidio de fé e auto estima viria de um realitty show e de uma figura como o lutador Marcelo Dourado.

Não se discute aqui o merecimento ou não de Dourado, tão pouco a acuidade de suas estratégias (embora o blog seja da opinião de que Dourado foi, de fato, o melhor jogador e como o BBB é um jogo, o melhor deve prevalecer). O debate aqui se estabelece acerca do significado cultural, em uma primeira estância, e sociológico, em um plano geral, da vitória do lutador.

A segunda chance dada a Dourado, na verdade, se desdobrou em uma profusão de “segundas chances”. Todas agarradas com fibra pelo lutador. Foi a chance de retornar ao BBB (dada pela proposta da produção do programa de desestabilizar as noções que se tinha do jogo), a chance dada por alguns dos competidores (que por estratégia ou por afinidade aceitaram Dourado), a chance dada pela sorte (parece pacífico que se não fossem as duas imunidades recebidas pelo lutador no inicio do programa, ele não teria tempo de cativar o público como cativou) e, finalmente, a chance dada pelo público. Na mais inesperada e poderosa demonstração que toda a objetividade esmorece ante a emoção. Dourado promoveu uma polarização jamais vista no programa. O fato de ter sido rejeitado (maciçamente) em sua primeira participação, há 6 anos atrás, e ter sido a locomotiva que impulsionou sucessivas quebras de recordes nessa edição atual só inflama o debate e o desvia de qualquer ponderação desprovida de paixão.

O programa, a despeito dos temas periféricos que iam surgindo quase que diariamente, girou em torno dessa segunda chance. Dourado impôs-se meio que naturalmente à uma cronologia pré-estabelecida. Afinal, esse estava fadado a ser o Big Brother da diversidade sexual. Passou a ser o BBB dos que estariam propensos a ver até onde Dourado chegaria e dos que resistiam a ele. A esses, couberam dois trabalhos. Insistir em uma resistência maniqueísta (Ele já teve a chance dele!) e conformar-se com a imposição da maioria (Sim, mas ele merece outra!).

Obviamente, o que mais chama a atenção na aceitação recorde e na subsequente vitória do lutador gaúcho é a perplexidade que causa. Como um brucutu preconceituoso que já fora eliminado antes, em muito por esses mesmos defeitos, pode ser coroado dessa maneira? A multiplicidade das respostas constitui uma das belezas desse realitty show que é uma “bobagem” e também muito “profundo”, nas palavras de seu apresentador, Pedro Bial. O que fascina na trajetória vitoriosa de Dourado é que ele é o mesmo sujeito que fora rejeitado antes. Talvez tenha entrado nessa edição disposto até mesmo a ressaltar seus defeitos (uma estratégia arriscada, diga-se), e foi abraçado pelo público de uma maneira que assombra até mesmo teóricos diplomados ou entendidos de botequim.

Como visto tantas vezes no cinema em filmes como O lutador de Darren Aronofsky, no recente Coração Louco de Scoot Cooper, ou até mesmo (se apreciado no devido estado de espírito) em Gran Torino de Clint Eastwood, redenção e compaixão são elementos buscados nos lugares mais inóspitos. Dourado foi ao encontro delas no BBB. E as encontrou. Ele sai da casa mais vigiada do Brasil (ô slogan que dá certo!) o mesmo brucutu que entrou. Carrega consigo seus preconceitos e sua visão conservadora, mas sem dúvidas sai de lá mais tolerante. Isso porque foi tratado com tolerância. Algo primordial no contrato social que travamos diariamente e que, mesmo que as avessas, foi a grande lição desse BBB. Ah, claro, ele saiu milionário também. O que no final das contas, é o que mais importa. Pelo menos para ele.

10 comentários:

  1. Nossa, nem vi que o Dourado ganhou.
    AUHSAHSUAU
    Mais gostei da vitória dele, ele mereceu (?), foi o único que jogou de verdade na casa.
    BBB, pra quem faz curso de psicologia é um prato cheio !
    kkkkkkkkkkkk

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  2. Boa a ilusão entre roteiro de cinema e o programa Global. O vencedor Dourado venceu porque teve personalidade e soube utilizá-la de modo a convencer o telespectador que também é o juiz a ser de fato o merecedor do prêmio. Mesmo com tantos problemas de caráter, Dourado sim foi o merecedor do prêmio.

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  3. Dourado mereceu, foi o grande jogador e o protagonista do BBB10. Esse é um jogo que emociona, que nos envolve. Uma novela da vida real.

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  4. Alan: Pois é ele ganhou Alan! Concordo com vc, o BBB é um prato cheio para que faz e para quem gosta de psicologia. ABS

    Fernando: Concordo contigo meu chapa! ABS

    Thiago: Vc disse tudo, ele foi o protagonista do BBB 10. Mesmo que não levasse o prêmio, essa verdade não mudaria. ABS

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  5. Sou daqueles que detesta esse homem hahaha mas, pra falar bem a verdade, ninguém naquela casa merecia todo esse dinheiro.

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  6. Tb não gostava dele não Matheus. Acho sim, que ele foi o melhor jogador. De qualquer maneira, esse artigo, e o que nele é tratado, independe do fato de gostar ou não de Dourado.

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  7. Oi Reinaldo!

    Adorei a sua crítica e o texto. O que mais me encanta no BBB é essa possibilidade de analisar comportamentos por meio do Jogo da Convivência, o que na vida real já não é uma tarefa fácil, imagina sob pressão...rs.

    Concordo com tudo o que disse. Dourado foi o típico anti-herói e, sem dúvida, o melhor jogador desta edição. Torci por ele desde o início.

    Abraço,

    http://cafecomnoticias.blogspot.com

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  8. Fala Wander! Bem vindo a Claquete. Espero que goste aqui do meu blog. Pois é, essa edição do BBB revitalizou o formato. Para mim, foi uma das melhores, senão a melhor. Dourado foi, sem sombra de dúvidas, a figura mais carismática da casa. O que no final das contas, faz toda a diferença. Vou te fazer uma visita lá no teu blog.
    Grande abraço!

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  9. Reinaldo, sem dúvida alguma esse foi o melhor BBB de todos e sem dúvida que Dourado merecia ganhar, não acho ele "preconceituoso" ele tem sim a origem do termo em sí ele tem "pré-conceitos" e no BBB10 ele mostrou isso e conseguiu rever vários dos seus problemas, tentou ser amigo do Dimmy, brigou com ele, não pelo seu preconceito, mas por causa do que um achava do outro em relação ao jogo, os dois eram "os falsos" do Jogo, porém o Dourado teve a cara-de-pau de reclamar de tudo, de brigar pela Lia, ou pelo Cadu ou por quem precisa-se e de se retirar de confusões que saiba que não iam render nada a ele, ele jogou o jogo da vida, porém dentro de um pequeno, mas não tão pequeno assim cúbiculo e isso deu a vitória a ele.

    Gostei do blog.

    abraços

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  10. Oi Arnaldo, tudo bem? Obrigado pela visita. Espero que posa contar com vc aqui mais vezes. Pois é, Dourado foi a pessoa mais verdadeira ali. Entrou com a clara predisposição de jogar com lealdade (como diria Alex) com o público e com os participantes. Como eu disse, foi o melhor jogador da, muito provavelmente, melhor edição do BBB.
    E quanto a questão com o Dimmy e tudo mais, foi isso o que eu quis dizer com a afirmação de que ele saiu mais tolerante do BBB. Isso está bastante claro para mim enquanto observador. E creio que tenha sido mais um elemento que legitimou sua vitória.

    Abração!

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