sábado, 27 de março de 2010

Critica - Um sonho possível

Sonho de porcelana!
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Família sulista, branca, cristã, republicana e abastada acolhe de peito aberto um adolescente negro em sua casa. A improvável descrição acima corresponde a verdade. Foi isso que ocorreu com Michael Oher, um jogador de futebol americano que não fosse pela sorte que deu na vida, não teria se profissionalizado. Oher foi acolhido e criado como filho por Leigh Anne Tuohy. Essa história improvável chega aos cinemas em Um sonho possível (The blind side EUA 2009).
O filme do diretor John Lee Hancock é um legítimo filme família. Reúne todos os predicados que avalizam esse rótulo, porém, como cinema é chamuscado de falhas. Sejam elas estruturais ou discursivas. É lógico que a história otimista que se vê na tela consterna, impressiona e cativa. E é bom (para nós seres humanos do bem) que isso ocorra. Contudo, o argumento frágil que pauta o filme e, mais que isso, o desenvolvimento capenga com que a história se desenvolve comprometem o resultado da fita como “obra” cinematográfica.


Momento família: A emocionante trajetória de Oher cativa, mas parece mais inverossímel do que a existência do homem-aranha


Nesse contexto, o filme muito se assemelha ao personagem Burt Cotton, treinador de Oher na escola e uma das figuras decisivas em seu destino. Assim como o treinador se vale de um discurso politicamente correto para atender ambições plenamente pessoais (ele defende a matrícula de Oher por razões cristãs embora esteja interessado no potencial atlético do rapaz), o filme faz o mesmo. Defende uma visão de mundo colonialista (de que os negros só têm chances quando ajudados por brancos) e não parece acreditar muito na história que conta. Assim como com Cotton, vê-se um gesto muito bonito, mas não se convence dele. Hancock ainda tenta relativizar essa impressão na figura das amigas dondocas de Leigh Anne e também no processo de adaptação de Oher a sua nova família, mas até aí a fragilidade do argumento é evidente.
Sandra Bullock encara o desafio de assumir um papel dramático com dignidade. A atriz convence como a mãe coragem que descobre um mundo bem pior do que se permitia imaginar. Contudo, não dos deixa esquecer que é Sandra Bullock, algo que ela conseguiu fazer em A proposta, para ficar em um trabalho recente da atriz que também lhe rendeu elogios.
O grande incômodo de Um sonho possível é justamente esse. O de não conseguir convencer sua audiência de que tudo aquilo que se vê é passível de acontecer. Mas isso é mais um problema do mundo que Um sonho possível parece ignorar e menos do filme família que fez sucesso nas bilheterias americanas.

8 comentários:

  1. Vou esperar o filme sair em DVD, acho que não compensa ve-lo no cinema. Só vou ver mesmo, pra ver a tão falada atuação de Bullock, mesmo sabendo que ela não fez nada de demais, apenas atuou bem, em um filme diferente dos que ela faz ...
    Bela Crítica !

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  2. Vc está certíssimo alan. A melhor decisão é deixá-lo mesmo para o DVD. Obrigado pelo elogio. ABS

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  3. Oi G, pois é, você falou tudo mais uma vez e já sabe meu ponto de vista sobre Um Sonho Possível. Eu senti-me manipulada por esta história exatamente por ela ser perfeitinha e por não convencer mesmo na idealista filantropia da história. O que foi filmado é um estereótipo de família americana, feliz, bondosa e sem qualquer problema, que não apresenta qualquer desdobramente dramático convincente ao adotar um jovem negro, de passado trágico e vindo de lar desestruturado. É praticamente uma dream family que mais pareceu-me transformada em um filme pesadelo porque, embora tocante, a vida é bem diferente do que é exposto neste filme alegoria. Não o achei legítimo, mesmo que seja uma história bonita.

    Bjs!

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  4. Obrigado pela opinião madame. Feliz de termos alcançado mais esse ponto de convergência. bjs

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  5. Reinaldo,como já bem sabe, não sou uma dos mais entusiastas desse filme, muito pelo contrário, assim como você, tenho sérias restrições. Como cinema que quer se levar a sério achei uma ofensa.
    Concordo com todos esses pontos bem explanados por ti.
    E Sandra Bullock, correta, mas só isso também.

    Abs Reinaldo!

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  6. Obrigado Paulão! É, de fato, vexamoso esse filme poder carregar a alcunha de indicado ao Oscar de melhor filme. Um contrasenso absurdo. ABS

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  7. É um bom filme. Com gosto de sessão-da-tarde. Mas me emocionou, me divertiu. Que me fez gostar de ver um Professor muito mais interessado se o aluno sabe escrever, e bem. Nem ai se ele era um excelente atleta.

    E Rei, uma Feliz Páscoa!

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  8. O filme tb me cativou como espectador Lella. E com a história que conta, não há como não fazê-lo. É como vc disse. Uma sessão da tarde eficiente. Bjs e uma excelente páscoa para todos nós!

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