A visão de cineastas não corporativos
Em matéria publicada por Claquete sobre o filme A suprema felicidade, Arnaldo Jabor teceu um comentário interessante. Para o diretor, o cineasta é encolhido em seu mundo. Trabalha de acordo com uma lógica corporativa que não favorece a arte que produz. “Cineastas levam uma vida muito corporativa. Muito pequena”, exclamou. Jabor desenvolve seu raciocínio estipulando que sua experiência como jornalista o ajudou a aprofundar sua visão de mundo e a suprir algumas carências que sequer desconfiava possuir. É uma construção de raciocínio interessante. Steven Spielberg, talvez a figura primária quando se visualiza a imagem de um diretor, só foi se graduar como cineasta no início desta década. Já tinha dois Oscars no currículo. Fernando Meirelles, outro diretor dos mais interessantes, é arquiteto de formação e trabalhou com publicidade (ainda trabalha) por anos a fio antes de migrar para o cinema. Gente como David Fincher e Spike Jonze vieram dos videoclipes e oxigenaram a linguagem cinematográfica na última década. Podemos presenciar também atores assumindo a cadeira de diretores e extraindo ótimos resultados tanto de seus atores quanto do roteiro como o provam as recentes incursões de Ben Affleck (Atração perigosa) e Marco Ricca (Cabeça a prêmio).
Quer dizer que é ruim ser diretor de cinema de formação? Não é essa a questão. Mas Jabor, brilhantemente, capturou a dicotomia. Não é possível radiografar algo (e o cinema em última instância pensa e repercute a sociedade) sem se aprofundar. Sem investigar. Sem experimentar. Não apenas em termos estéticos, como propõe com relativo sucesso cineastas como Jean Luc Godard e Lars Von Trier, mas em termos empíricos. Tanto Fernando Meirelles quanto Jabor não são desapaixonados pelo cinema em sua essência representativa, mas reconhecem que o mesmo pode ficar paralisado de tempos e tempos se escorado apenas em sua própria iconografia. Ao acumular experiências e percepções diversas, esses cineastas “pangarés” contribuem para a evolução do cinema enquanto arte e para a progressão de sua força representativa.