1- As aventuras de Pi; 2- Amor; 3- Indomável sonhadora; 4- Argo; 5- Django livre; 6 - O lado bom da vida; 7 - Os miseráveis; 8 - Lincoln; 9 - A hora mais escura
Quando perder é ganhar
Argo é sobre Hollywood e sobre como as aparências são
cruciais em jogo de manipulação e dissimulação que aproximam CIA e Hollywood. A
melhor pior ideia que Hollywood teve, por sinal, foi deixar Ben Affleck de fora
da lista dos diretores indicados. A solidariedade com o filme o impulsionou a
um favoritismo na corrida que parecia impensável há alguns meses. Ótimo
storytelling, Argo é um filme fácil de se gostar ainda que não seja
especialmente notável. Sua vitória seria um legítimo “argo fuck yourself” para
alguns cânones hollywoodianos.
Prós:
- Ganhou absolutamente todos os prêmios majors da temporada
- É a maior unanimidade em uma temporada de premiações desde
Quem quer ser um milionário? em 2009
- Ganhou os prêmios de direção e filme no Critic´s Choice
Awards, no Globo de Ouro e no Bafta, uma demonstração de que sua candidatura a
melhor filme está bem consolidada
- Ganhou os prêmios dos sindicatos dos atores, diretores e
produtores. Nos últimos dez anos, apenas três filmes (O discurso do rei, Quem
Quer ser um milionário? e Chicago) contaram com o apoio dos três sindicatos e
eles ganharam o Oscar de melhor filme.
- A percepção de que há muito voto solidário em favor de
Argo pelo fato da Academia ter esnobado Ben Affleck entre os diretores. Vale
lembrar que apenas o brunch de diretores da Academia elege os indicados a
melhor diretor, mas todos os membros da academia escolhem os vencedores. Tanto
na categoria de filme, como na de diretor.
- Ser um filme basicamente sobre Hollywood. Isso tem contado
pontos nos últimos anos.
- Ter uma veia patriótica, ainda que moderada
- O vencedor do ano passado, O artista, também era sobre
Hollywood
Contras:
- O vencedor do ano passado, O artista, também era sobre
Hollywood
- Apenas três vezes na história do Oscar um filme venceu
como melhor filme sem ter o diretor indicado e apenas uma vez nos últimos 60
anos
- O fato de ter relativamente poucas indicações em que pode
ser considerado favorito depõe contra suas chances
- Muitos acadêmicos podem optar por um filme que tenha o
diretor indicado por questões de coerência
Bom, mas nem tanto
Os miseráveis até conseguiu uma presença robusta no Oscar
com suas oito indicações. Mas se tem um filme que parece fadado a não
conquistar nenhuma das estatuetas a qual concorre é o musical de Tom Hooper.
Prova disso é que é o único dos concorrentes a melhor filme que não tem uma
indicação por roteiro. O desalento só não é maior porque Anne Hathaway é
favorita na categoria de atriz coadjuvante e deve lavar a alma do musical de
Tom Hooper. De qualquer jeito, a coragem do cineasta de fazer um musical do
clássico de fundo social de Victor Hugo recebeu valiosa distinção da academia.
Prós:
- Prevaleceu nas categorias técnicas em premiações como o
Bafta e o Critic´s Choice Awards
- É um sucesso de bilheteria até certo ponto improvável para
um musical
- Ganhou o Globo de ouro de melhor comédia/musical
- Tem sua força em suas interpretações e isso pode cativar o
maior colegiado da academia que é o dos atores
- Deve agradar o voto mais conservador
- É uma história essencialmente francesa e os franceses
estão em voga no Oscar nos últimos anos
Contras:
- Não ter sido indicado em montagem, direção e roteiro
praticamente liquida qualquer chance de vitória
- O fato de Tom Hooper ter ganhado em grande escala no Oscar
recentemente com O discurso do rei
- É um musical até certo ponto vanguardista e as liberdades
tomadas por Hooper podem incomodar o voto mais conservador
Blockbuster de coração
As aventuras de Pi é o filme mais família dos indicados. É
também o de narrativa mais complexa já que boa parte do tempo se passa em um
bote salva vidas em que um adolescente tem um tigre digital como companhia. Ang
Lee realiza um filme com forte conotação espiritual sem ser presunçoso. É um
filme digno das 11 indicações que recebeu. Pode ser uma opção mais convencional
a filmes sisudos ou modernos demais para o Oscar.
Prós:
- É um épico de alma intimista. Hollywood costuma apreciar
filmes assim
- Foi indicado a todos os prêmios major da temporada
- Tem uma das maiores bilheterias internacionais entre os
indicados a melhor filme. Como o Oscar hoje é um prêmio global...
- Está presente em praticamente todas as categorias técnicas
Contras:
- Não tem nenhuma performance indicada. É o único dos
indicados a melhor filme nessas circuntâncias
- A percepção de que merece mais prêmios por sua destreza
técnica
- A pecha de que a indicação já é reconhecimento suficiente
- Ter sido rodado em 3D e a tecnologia ainda não conquistou
muitos acadêmicos
Um clássico menor
Django livre é uma desforra à tarantina. O western sobre um
escravo vingador de Quentin Tarantino não é o filme que se esperava dele depois
de Bastardos inglórios, mas ainda é entretenimento em alto nível. Django livre
consolida Tarantino como uma das figuras do Oscar, mas é seu filme com menos
chances de vitória nesta categoria.
Prós:
- Diverte como poucos dos incluídos entre os indicados e
isso há de contar para alguma coisa
- O espírito de reescrever a história que Tarantino tem
apresentado pode cativar muitos eleitores
- Tem ótimas atuações e bons diálogos
- Quentin Tarantino é um sujeito com muitos fãs
Contras:
- Ser muito inferior a Bastardos inglórios que é
relativamente recente pode afugentar votos
- Quentin Tarantino é um sujeito ao qual muitos têm
restrições
- O fato de Tarantino não ter sido indicado a melhor diretor
- Não é tão inventivo quanto seus principais filmes
Realismo fantástico
A Academia parece cada vez mais propensa, mais do que
selecionar um pequeno indie, a selecionar um de narrativa imaginativa. Foi
assim com A árvore da vida no ano passado e com Distrito 9 em 2010. Indomável
sonhadora embarca no realismo fantástico e ganha o apoio do Oscar. É o tipo de
filme que ainda não tem chances de ganhar, mas que pavimenta o caminho para que
outros que venham depois possam sonhar mais alto.
Prós:
- É o time pequeno do ano e tem muita gente, dentro da
academia inclusive, que gosta de torcer para time pequeno
- Pode se beneficiar do hype da indicação para Quvenzhané
Wallis de apenas 9 anos
Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- A existência de outro independente muito mais baladado: O
lado bom da vida
- Não ter tido uma campanha de marketing forte na corrida pelo
prêmio
O melhor?
O lado bom da vida é um filme excelente em todos os
predicados que caracterizam o bom cinema (direção, roteiro, atuação, montagem,
etc), mas é também uma comédia romântica – ainda que bifurcada com um drama
sobre transtornos psicológicos. Há quem entenda que não é “material de Oscar”,
mesmo sendo o melhor entre os filmes indicados. Para vencer precisa superar
esse paradigma.
Prós:
- O filme caiu nas graças do colegiado dos atores e em uma
disputa parelha isso pode ser uma vantagem
- É independente e os independentes têm prevalecido no Oscar
nos últimos cinco anos
- É o mais leve e otimista dos indicados a melhor filme
- Os últimos filmes com indicações para melhor ator e atriz,
direção e roteiro e filme, o chamado big five, venceram o Oscar de melhor
filme: Menina de ouro e Beleza americana entre eles
- Ser promovido por ninguém menos que Harvey Weinstein
também conhecido como papa Oscars
Contras:
- É para todos os efeitos uma comédia e comédias não
costumam ganhar o Oscar de melhor filme
- Não ganhou nenhum prêmio major na temporada
- A percepção de que é um “filme de atores”
- Weinstein levou a melhor nas duas últimas disputas por
melhor filme. Três consecutivas pode ser demais até para ele
O maior herói americano
Não é super-homem, mas um “self made man”, como gostam de
classificar os americanos. Abraham Lincoln também é um “self made politician” e
Lincoln, o filme de Spielberg que lidera a corrida pelo Oscar, é mais sobre
essa faceta do único presidente capaz de unir democratas e republicanos em vias de
consenso. Nem sempre foi assim e o ótimo filme de Spielberg se ocupa dessa
história. O Oscar seria apenas mais um estandarte na gloriosa história do
político mais influente da América.
Prós:
- É o filme líder de indicações no ano
- Apresenta um personagem com uma base consolidada de fãs e
admiradores dentro e fora da Academia
- É dirigido por uma figura muito querida que é Steven
Spielberg e tem como protagonista outra figura querida e admirada que é Daniel
Day Lewis
- Não é uma biografia quadrada
- Esteve presente em todas premiações majors da temporada e
na liderança da corrida em todas elas
- Depois de filmes estrangeiros brilharem nos últimos dois
anos, é uma produção essencialmente americana sobre a grandeza americana
- É um filme de rara inteligência tanto na filmografia de
Spielberg quanto na média das produções premiadas com o Oscar de melhor filme
- É o maior sucesso de bilheteria nos EUA entre os indicados
a melhor filme
- A badalação em torno da atuação de Day Lewis pode computar
votos para o filme
- Muitos propensos a votar a favor de um terceiro Oscar para
Spielberg podem se decidir pelo filme, mesmo que não o enxerguem como o melhor
do ano
Contras:
- Não ganhou nenhum prêmio major na temporada
- É considerado anticlimático demais para os padrões de
Spielberg e pode afugentar votos habituais do diretor
- É mais um filme sobre política do que sobre Lincoln
propriamente dito e filmes políticos não costumam prevalecer no Oscar
- Apesar das muitas indicações em diversos prêmios, Lincoln
não converteu as indicações em vitórias e adquiriu a pecha de “filme derrotado”
- Não é o melhor filme do ano e, para alguns, nem mesmo o
melhor sobre escravidão no ano
Honesto e sem concessões
A indiferença da vida especialmente a essa fabricação humana
que é o amor é um dos eixos centrais desse doloroso e pouco passional filme de
Michael Haneke que foi surpreendentemente abraçado com ímpeto pela Academia.
Mais uma investigação da fragilidade da vida e de suas reminiscências do que um
tratado sobre o mais nobre dos sentimentos, Amor é um filme agigantado por sua
humanidade. Faz bem ao Oscar tê-lo em seu pool de nomeados.
Prós:
- É um filme calcado no desempenho dos atores, algo sempre
reverberante junto ao maior colegiado que compõe a Academia
- É um filme extremamente humano e atemporal
- É falado em francês e a França anda em alta em Hollywood
- É simples no seu desenvolvimento e complexo em sua
contextualização. Menina de ouro, com estrutura semelhante, já triunfou no
Oscar em situação parecida
-É um filme estrangeiro e de um diretor cult. Há muito apelo
nessa convergência de características; especialmente em um ano sem grandes
filmes
Contras:
- Tem ritmo demasiado lento em comparação com a média de
filmes vencedores do Oscar e dos filmes contra os quais concorre neste ano
- A percepção de que é um “filme de atores”
- A resistência ainda bastante forte de se premiar uma
produção estrangeira
-Filmes com temática semelhante já receberam bastante
atenção do Oscar nos últimos anos como Menina de ouro, Longe dela e Mar adentro
-A percepção de que basta a vitória na categoria de filme
estrangeiro para honrar o trabalho de Haneke
Mais escuro do que claro
Certamente o mais fraco dos indicados a melhor filme, A hora
mais escura é também o que reunia mais expectativas. Ainda que uma condição não
esteja relacionada à outra, o filme sobre a caçada a Osama Bin Laden se revela
oportunista e perigosamente impreciso em suas formulações episódicas e
estruturais. A polêmica pode ter diminuído o tamanho do filme no Oscar, mas o
hype de ser o primeiro filme a abordar um dos maiores feitos americanos na
guerra contra o terror lhe garantirá um lugar distinto na história.
Prós:
- É um registro no estilo documental que tanto agradou os
votantes que deram a vitória à Guerra ao terror há três anos
- É um elaborado misto de thriller de espionagem com filme
político. Em um eventual revival dos anos 70, é um candidato imbatível no Oscar
- Foi o filme mais premiado pela crítica na temporada
- Estabelece um novo paradigma no cinema comercial
americano: o filme-reportagem
Contras:
- É nitidamente oportunista ao flertar com ideias
republicanos e democratas as vezes em uma mesma cena
- É um filme demasiadamente anticlimático para um vencedor
do Oscar
- Há pouco espaço para os atores brilharem e isso pode
ressentir o voto desse colegiado
- Reza a mesma missa de Guerra ao terror
- As polêmicas barulhentas acerca do terrorismo e da tortura podem fazer
acadêmicos que apreciem o filme pensarem duas vezes antes de votar nele
- O fato de Kathryn Bigelow não ter sido indicada na
categoria de direção