domingo, 28 de março de 2010

Insight

Por que o 3D é mau negócio?

A julgar pelos resultados das bilheterias em 2009 e de como eles estiveram profundamente relacionados ao 3D, a afirmação que se seguirá no presente artigo não só parece fruto de desinformação como uma previsão digna de um profeta paraguaio (com o perdão aos paraguaios). Contudo, se é necessário reconhecer que a proliferação do 3D está vinculada a mais uma tentativa da indústria de frear a pirataria, é preciso reconhecer também que o 3D restringe ainda mais o cinema, enquanto atividade cultural, limita a qualidade da produção cinematográfica americana e faz mal a saúde. Sim. Isso mesmo que você leu. Não existe nenhum mal direto que possa ser ocasionado das transmissões em 3D. No entanto, médicos britânicos já advertiram para as inúmeras possibilidades de contaminações decorrentes de óculos 3D mal higienizados. Além, obviamente, das fortes dores de cabeça e das vistas cansadas. O que a longo prazo pode forçar uma pessoa a ter que aderir o uso de óculos de grau para vista cansada ou mesmo para leitura. No Brasil, ainda não há fiscalização regulamentada pela vigilância sanitária sobre a higienização dos óculos 3D.

O cenário pós Avatar
Porém, não é só a saúde do frequentador de cinema que está em risco com a popularização do 3D. A qualidade dos filmes deve cair maciçamente. Primeiro, em virtude do efeito Avatar, é sabido que haverá uma invasão de filmes 3D. Um exemplo da gana dos donos de estúdio pelo horizonte (de dólares) descortinado pela nova ferramenta (na verdade antiga, já que o 3D não é algo novo e o próprio cinema fez uso avantajado da tecnologia nos anos 60, embora com padrões tecnológicos bem mais modestos), é o adiamento da estréia do blockbuster Fúria de titãs. A Warner adiou o filme de março para maio, para que pudesse convertê-lo para 3D. Os dois novos filmes de Harry Potter, já em fase de pós-produção, serão submetidos ao mesmo procedimento. Mas não é só a Warner quem quer surfar na onda do 3D. Praticamente todos os estúdios têm projetos em 3D. Seja para filmes com performance capture (caso de filmes como Avatar e A lenda de Beowulf) ou live action (como os filmes do bruxinho de Hogwarts). A Sony, por exemplo, anunciou que o novo Homem –aranha será em 3D. Essa saturação do mercado aponta, primeiramente, para um esgotamento do interesse do espectador pelo 3D. Primeiro, porque haverá uma oferta tremenda, o que já implica em baixa de apelo. Segundo, por que os ingressos continuarão caros.

Cena de Fúria de titãs: Sam Worthington bem que tentou, mas não será dessa vez que ele não chegará aos cinemas em 3D



Um outro dado importante desse cenário pós – Avatar, será a predisposição dos estúdios de privilegiar os filmes em 3D ou que possam ser lançados também nesse formato. O que implica em uma hegemonização da produção cinematográfica americana. Serão menos dramas e menos comédias ganhando o aval do estúdio. O cinema independente que acabou de ganhar um impulso com a expressiva vitória no Oscar de Guerra ao terror sobre Avatar ( o representante do setor pró 3D) será o mais afetado por essa política que já está estabelecida em Hollywood.

E o pós 3D?
Essa fase do 3D, assim como a da década de 60, vai passar. Hollywood tem seus ciclos. Uns são mais longevos. Outros mais frequentes. No caso do 3D, seu segundo reinado em Hollywood se deve mais a ascensão da internet e aos prejuízos impostos pela pirataria do que por sua capacidade de atração. Outros mecanismos de defesa surgirão e, assim como o 3D, não serão imbatíveis. A concomitância desses outros mecanismos de defesa com a queda do interesse pelo 3D será providencial para a indústria. Os avanços do 3D no home vídeo terão efeito semelhante ao surgimento da TV, do DVD e do Blu-ray. Muitos propagarão a morte do cinema. Mais uma vez estarão errados. E os eixos hollywoodianos irão se ajustar. Mas não há como negar, que a próxima década se anuncia como de vacas magras para o cinéfilo de verdade.

Cena de Alice no país das maravilhas: a aventura de Tim Burton em 3D lidera as bilheterias há três semanas e deve perder o posto para outro filme em 3D, Como treinar seu dragão

2 comentários:

  1. Não apóio muito o 3D... Para falar bem a verdade, não vejo nada de tão excepcional assim e acho o preço do ingresso um abuso.

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  2. Pois é Matheus. Podemos dizer que minha opinião se alinha a sua nesse tópico. acho que é uma ferramneta válida para o cinema de ação e para algumas animações, mas o que se vê é quase como uma corrida armamentista na época da guerra fria. Isso, obvimante, não será produtivo para o cinema de verdade. ABS

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