domingo, 7 de março de 2010

ESPECIAL ILHA DO MEDO - Insight

Entre paredes escuras...

Grande parte da ação do novo filme de Scorsese, Ilha do medo (Shutter island) se passa em um hospital psiquiátrico na remota ilha que dá nome ao título original do filme. No lugar, que também se convenciona chamar de manicômio ou hospício, é que se desenrola a trama e como não poderia deixar de ser, em filmes que se pretendem claustrofóbicos, o ambiente é de grande importância para os rumos da história e um elemento poderoso para o desenvolvimento da narrativa cinematográfica.
Scorsese, cinéfilo que é, sabe manter-se fiel às tradições do gênero noir. Gênero de filme em que os protagonistas sentem-se oprimidos por uma situação, ambiente ou personalidade. Filmes que se passam em sanatórios e hospitais psiquiátricos potencializam essa metáfora. A grande referência nesse departamento é o clássico de Milos Forman, Um estranho no ninho (One flew over the Cuckoo´s nest, EUA 1975). Um dos três únicos filmes a receber os cinco principais Oscars (filme, direção, roteiro, ator e atriz).
Nesse filme, Jack Nicholson faz um vagabundo que se passa por louco para não trabalhar. Levado para um hospital psiquiátrico bate de frente com a enfermeira chefe e incita movimentos de revolta entre os internos. Uma poderosa alegoria social orquestrada por Formam que também funciona como um poderoso filme de terror.


Mas apesar de dar cores e sentidos ao medo, os filmes que se ambientam em hospícios não buscam apenas inquietar sua audiência por esse prisma. Filmes como Os contos proibidos do marquês de Sade e Os 12 macacos têm origens e propósitos bastante diferenciados. Enquanto que o primeiro procura dramatizar eventos de uma personalidade real, sem deixar de recorrer a clichês de gênero, o segundo filme é uma ficção cientifica que opta por uma metáfora fácil. Bruce Willis volta do futuro para tentar entender porque o mundo como conhecemos chegou ao fim. A resposta, e a pessoa que tem a chave para ela, estão em um hospício.
O cinema nacional também fez bom uso da carga dramática que um hospício pode trazer para um filme. Em Bicho de sete cabeças, o personagem de Rodrigo Santoro, um jovem desregrado e um tanto quanto perdido, é internado em um manicômio pelo pai incapaz de entendê-lo e ajudá-lo. Um filme que se esmera entre a denúncia e o estudo de caso.


Rodrigo Santoro passa por experiência alienante e subversiva em Bicho de sete cabeças


Outro filme que versa sobre a incompreensão a partir de um hospício é Garota interrompida. O filme de James Mongold, que deu o Oscar a Angelina Jolie, mostra uma rotina de abusos e distorções e os efeitos alienantes que os mesmos podem ter. Ambientar filmes em hospícios pode ser uma mão na roda para cineastas na hora de elaborar comentários sobre o mundo do lado de fora daquelas paredes escuras, sujas e intransponíveis.

Winona Ryder e Angelina Jolie em cena de Garota interrompida: A loucura é sempre relativa

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