O diretor David O.Russell orienta seu protagonistas Bradley Cooper e Jennifer Lawrence no set de O lado bom da vida
É a grande sombra do cinema independente em um ano que desde
os primeiros alinhamentos da temporada de premiações se sedimentou como de
desforra para os estúdios de cinema. Em meios aos candidatos da Fox (As
aventuras de Pi), da DreamWorks (Lincoln), da Warner (Argo), da Universal (Os
miseráveis) e da Sony (A hora mais escura), O lado bom da vida (The Weinstein
company) é seguramente o filme mais querido, o que não quer dizer que seja o
mais apreciado.
Primeiro porque é uma comédia, ainda que com forte centro
gravitacional dramático (família disfuncional e transtornos psicológicos
diversos); segundo porque é percebido como um filme “de atores”; terceiro
porque parece vestir bem a carapuça de “feel good movie do ano”; e, por último,
por ser uma produção independente em um ano talhado para a festa dos estúdios.
Analisando esse cenário, se percebe o quão improvável –
ainda que plenamente possível – é o triunfo de O lado bom da vida no Oscar. O
que não quer dizer que não mereça o troféu de melhor filme do ano.
A fita de David O. Russell é um acerto tremendo, em primeiro
lugar, pelo olhar que dispensa a personagens inesperadamente reais.
Diferentemente de tantos outros, até do mito Lincoln – cinematográfico embora
verídico – Pat Solitano, Pat Solitano Jr., Tiffany e os demais personagens do
filme são decalcados dos tempos e idiossincrasias que vivemos. Russell faz
mais. Enxerga humor em um tema tão delicado quanto a bipolaridade, mas sem
deixar de falar sério a respeito. Não obstante, Russell, também roteirista,
concilia com equilíbrio e harmonia impensáveis a estrutura de comédia romântica
ao drama familiar expandindo a margem de alcance de seu filme.
Como se esses predicados já não falassem por si, O lado bom
da vida sobeja nos principais aspectos que caracterizam o bom cinema: direção,
roteiro, atuação, montagem, trilha sonora e fotografia. Essa fruição garante um
filme contemporâneo que apela à razão sem prescindir de cativar o espectador. É
um retrato moderno – ainda que menos anticlimático e analítico – dos tempos em
que vivemos assim como o é A rede social de David Fincher.
Mas a principal razão pela qual O lado bom da vida merece
ganhar o Oscar de melhor filme é porque entretém como nenhum outro dos indicados
na categoria. É prova residual de que um bom filme, sério, concatenado com seu
tempo, criativo e inteligente não precisa ser pomposo ou vanguardista. O
simples, às vezes, e no caso deste Oscar em particular, é mais do que
suficiente.
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