sábado, 23 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Crítica dos indicados a 85ª edição do Oscar


Neste domingo, 24 de fevereiro, irá acontecer uma das mais imprevisíveis edições do Oscar em anos recentes. O que é muito bom. A despeito das surpresas e esnobadas de sempre, a lista que compõe os indicados na 85ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é das mais coerentes dos últimos anos. O que não quer dizer que seja a que apresenta mais qualidade. De maneira geral, os filmes desse Oscar 2013 são bons, mas não há nada de excepcional. Não há um A rede social ou Cisne negro como em 2011, ou Shame, Precisamos falar sobre o Kevin, Os homens que não amavam as mulheres, A separação e O artista, filme que gravitaram o Oscar do ano passado. A média, no entanto, é bem satisfatória em uma produção destacada por sua inteligência, modernidade e universalidade.
Lincoln, que lidera a corrida com 12 indicações, é um paradoxo. É um filme talhado para o Oscar pelos artistas que reúne e pelo tema nobre que aborda, mas não é um material do qual o Oscar se aproxima na maneira como é desenvolvido. Argo, por sua vez, que desde que foi lançado era apontado como um “Oscar contender” é muito pop para um prêmio que tem se ressentido de sua veia pop nos últimos anos. De qualquer maneira, a essa altura do campeonato, a disputa parece restrita a eles dois. Com alguma chance de O lado bom da vida, o melhor dos nove indicados a melhor filme, se beneficiar da rebarba de uma disputa em que a coerência da academia está posta a prova. Se premiar Argo, tendo deixado seu diretor (Ben Affleck) de fora da lista dos nomeados, o Oscar atentará contra o próprio bom senso e homogeneidade institucional - além de admitir ser influenciado por premiações como Globo de Ouro e Critic´s Choice Awards de maneira jamais ensaiada. Se for com Lincoln, jamais se desvencilhará da sombra de que o prêmio talvez tenha sido outorgado para cobrir os próprios rastros. Uma opção para fugir à polêmica talvez seja a vitória do filme de David O. Russell e, nesse caso, se premiará o melhor pelas razões erradas. Algo que, ironicamente, o filme Lincoln esmiúça na melhor linha de “os fins justificam os meios”.

O enigma de Argo: o filme de Ben Affleck representa um desafio institucional para a Academia...

Entre os diretores o imbróglio é semelhante. Ang Lee, por As aventuras de Pi, e Steven Spielberg, por Lincoln, estão na dianteira da disputa por terem constado da lista do sindicato dos diretores. Mas em um ano tão atípico, e pelo fato de nenhum deles ter ganhado prêmios de expressão (todos foram para Ben Affleck), não podem ser apontados como favoritos genuínos. Se favorecem pelo fato de serem também vencedores do Oscar. Se a Academia optar por O lado bom da vida, é provável que o cada vez melhor David O. Russell fature como diretor. Se Argo for a opção, ou mesmo Lincoln, o peso do nome Steven Spielberg deve prevalecer.
Entre os roteiros, principalmente na categoria de roteiro adaptado, a briga está diretamente vinculada à disputa principal. Para Argo vencer como melhor filme é essencial que triunfe aqui, o que não é necessariamente o caso de O lado bom da vida e Lincoln. De qualquer maneira o melhor roteiro é o de Lincoln, o grande trunfo do filme de Spielberg. Assim como a melhor direção é de Ang Lee, verdades que não aumentam as chances de vitórias destes nessas categorias. O mais provável é que Argo vença entre os roteiros adaptados.
Michael Haneke deve prevalecer entre os roteiros originais pelo belo texto de Amor. Há precedente na categoria. O grande Pedro Almodóvar já ganhou por Fale com ela em 2003. Uma opção pode ser o ótimo trabalho de Mark Boal em A hora mais escura. Quentin Tarantino por Django livre, apesar das vitórias no Globo de ouro e no Bafta, é zebra aqui.

Atuações
Como de hábito, a disputa por melhor ator traz cinco trabalhos fascinantes. Há três grandes atores na disputa, dois já duplamente oscarizados. Recaí sobre um deles, um imortal da atuação, o favoritismo. Mas Daniel Day Lewis, que inglês pode ser o primeiro a faturar um Oscar por viver um presidente americano – e logo o maior de todos, Abraham Lincoln – não tem o melhor trabalho do ano. Ainda que seja um belo trabalho. Joaquin Phoenix, por O mestre, é de longe o melhor ator do ano e entre os indicados. Ele, francamente, é o único com chances de vencer Day Lewis. Ainda que o terceiro Oscar do britânico seja uma das apostas seguras da edição. Hugh Jackman (Os miseráveis), Bradley Cooper (O lado bom da vida) e Denzel Washington (O voo), todos defendendo os grandes papéis de suas carreiras, não têm chances.
Entre as atrizes a disputa é mais intensa. Via de regra, apenas Naomi Watts (O impossível) não tem chance alguma. A favorita, com méritos, é Jennifer Lawrence (O lado bom da vida), a vitória, no entanto, deve ser de Emmanuelle Riva (Amor). Além do burburinho em torno de sua candidatura no melhor dos momentos (quando os votos estavam sendo preenchidos e enviados para a Academia), seria uma opção hypada (estabelecer um novo recorde no Oscar, global – sempre um bálsamo em termos de mídia – e digna) a um eventual Oscar precoce – como cravam alguns – à bela Lawrence.

Day Lewis em Lincoln e Phoenix em O mestre: o melhor ator enfrenta o ator com a melhor atuação. O que vale mais para o Oscar?

Entre as coadjuvantes femininas, a maior certeza da edição: Anne Hathaway por Os miseráveis ganhará seu primeiro Oscar. A melhor é Helen Hunt, mas ela já ganhou e Hathaway é jovem, pop, boa e incrivelmente midiática. São fatores que nas circunstâncias em que essa disputa se encontra, desestabilizam-a.
Já o páreo entre os coadjuvantes masculinos é mais difícil. Todos já vencedores do Oscar e, de alguma maneira, com chances de repeteco. Os prêmios satélites do Oscar se dividiram e Tommy Lee Jones, vencedor do prêmio do sindicato dos atores, chega com um favoritismo inventado. Na verdade, um prêmio a Jones está diretamente vinculado à força de Lincoln no Oscar. O mesmo seria para Alan Arkin (Argo). Mais provável é que a academia opte por Philip Seymour Hoffman (O mestre), ator que pressiona a Academia na parede por um novo Oscar com atuações cada vez mais espetaculares, ou Robert De Niro que em O lado bom da vida lembra o ator que desafiou Nelson Rodrigues a reclamar para si o manto da unanimidade. Ainda que especulado, um segundo Oscar para a Christoph Waltz por Django livre seria uma surpresa e, francamente, tido o nível da categoria, uma injustiça.

O melhor do resto
Amor deve faturar o Oscar de filme estrangeiro, mas o chileno No é uma ameaça tangível, ainda que distante. As aventuras de Pi pode ser o campeão de prêmios do ano com eventuais triunfos nas categorias técnicas como efeitos visuais, trilha sonora – que também pode ir para Argo – fotografia – que também pode ir para Operação Skyfall – e direção de arte.
O prêmio de montagem é outro curinga da noite. A melhor edição é mesmo de Argo, mas o discreto e eficiente trabalho em O lado bom da vida ou os bem costurados A hora mais escura ou As aventuras de Pi podem prevalecer. Fato é que se Lincoln faturar nesta categoria, saiba que ganhará o Oscar de melhor filme mais adiante na noite.

4 comentários:

  1. Adoraria ver Amor vencedor de melhor roteiro, mas acho que A Hora Mais Escura leva vantagem, até por ter ganho o prêmio do sindicato. Quanto a diretor e filme, tudo pode acontecer mesmo, ainda que esteja apostando em Argo e acho que Spielberg acaba levando diretor...

    Vamos conferir mais tarde.

    bjs

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  2. Parabéns pela análise, Reinaldo! Acho que essa é uma das melhores listas de indicados do Oscar em anos recentes. E tem tudo pra ser uma cerimônia excelente, com boas - assim esperamos - surpresas. Minha torcida vai toda para "Amor", em todas as categorias possíveis. E adoraria ver Hugh Jackman vencedor. Daniel Day-Lewis está muito piloto automático em "Lincoln".

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  3. O lado bom da vida, Lincoln, Argo e Django Livre possuem o mesmo problema: o terço final. Todos são bons filmes (pra mim, Django livre é superior aos outros três), mas escorregam na parte final.
    DJANGO LIVRE: depois de preso pelos capangas da fazenda do Di Caprio, Django é solto por um motivo ridículo (ir trabalhar nas minas? fala sério, Quentin!) e engana os caras que o levam preso às minas (os trouxas cairiam na historinha que Django lhes conta, mas não lhe soltariam as algemas por nada). Tarantino sempre força a barra e é divertido, mas o acúmulo de forçada de barra tira o brilho da surpresa.

    O LADO BOM DA VIDA: a história vinha bem até aquela virada que mistura clichê de sitcom (o que que é aquela aposta Jennifer Lawrence sabendo todos resultados das partidas, e ainda a presença do psicólogo do Bradley Cooper. peraí!), mal-entendidos, corrida na rua atrás do verdadeiro amor e a cena do pai colocando o quadro do filho problemático de volta na parede (que pai deixaria o retrato de um filho no chão porque ele está mal de saúde. O retrato já está no chão no começo do filme, ou seja, não foi após a briga dos dois no sótão). Ok, a gente torce por eles, mas o filme vinha tão bem e diferente.

    LINCOLN: Spielberg estava contido, mas no final mostra um senhor negro olhando admirado e agradecido o presidente saindo sob um manto de luz. Ok, poderia parar aí. Mas aí vem aquela cena de Lincoln no fundo de uma chama fúnebre: kitsch no último.

    ARGO: esperto, bem-humorado, com críticas ao imperialismo econômico, mas aí no final é o carro que enguiça na hora de sair, é a ligação em cima da hora para confirmar as passagens, é a filmagem que impede a passagem dos produtores nos EUA para atender o telefonema do aeroporto no Irã, é Ben Affleck voltando pra casa. Nada contra o clichê, mas eles ocorrem em sucessão num filme que também parecia ter uma proposta narrativa diferente.

    Bons e talvez até ótimos filmes. Mas os finais... Filmes como Amor, A Hora mais Escura e As Aventuras de Pi mantiveram a coerência da narrativa e da proposta até o final.

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  4. Obrigado pelos comentários e elogios Amanda e Ka e Joêzer. Quanto as sua sobservações JoÊzer, entendo sua posição e concordo plenamente com o que vc pontua sobre Django livre e, parcialmente, sobre "O lado bom da vida".Mas quanto a "Lincoln" e "Argo", vc tem que prensar que há certos compromissos de gênero que um cineasta não consegue se desvencilhar quando trabalhando com um filme de estúdio com grande orçamento e expectativa.

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