sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Oscar Watch 2013 - Excesso de realidade?


Daniel Day Lewis como Lincoln no filme de Spielberg: críticos americanos, empolgados com o hiper realismo da caracterização do ator, têm dito que "Day Lewis é mais Lincoln do que Lincoln" 

Há sempre filmes históricos e que recriam eventos reais em meio às produções cotadas para o Oscar, mas essa temporada demonstra uma saturação desse tipo de filme. Seja em produções históricas com ares biográficos como Lincoln, seja em produções históricas com pegada de thriller, como Argo, seja em recortes históricos de figuras notórias do mundo do cinema, como em Hitchcock, seja em reconstituições imaginativas de movimentos religiosos como em O mestre, seja na reconstituição não menos imaginativa da caçada ao terrorista número 1 (Osama Bin Laden) em A hora mais escura ou sobre a devastação provocada por um tsunami, em O impossível. Esses são apenas alguns dos muitos filmes aventados nessa temporada de premiações que se esmeram no real. Outros exemplos são Um fim de semana em Hyde Park, sobre a visita do rei George VI ao presidente americano Franklin D. Roosvelt que selaria o ingresso americano na segunda guerra mundial, e As sessões, que acompanha a tentativa de um paraplégico de perder a virgindade.  
Pode-se dizer em defesa desses filmes que todos carregam forte componente cinematográfico em suas ramificações. Mas foi isso, em primeiro lugar, que fez com que se materializassem em filmes. O que chama a atenção na corrida em 2012 é que, excetuando-se a comédia O lado bom da vida e o musical Os miseráveis, os principais postulantes à candidatura ao Oscar de melhor filme se inspiram ou se alimentam da realidade.

Helen Hunt e John Hawkes em cena de As sessões: a história é real e desde que o filme foi exibido no festival de Sundance de 2012, revelou aquele cheiro de Oscar...

Se ainda fossem apenas cinco os indicados na categoria, seriam fortes as chances de todos os indicados serem baseados em fatos e eventos reais. Essa overdose pode ser percebida de três maneiras. Na primeira e mais pueril, pode-se apontar para a constante crise criativa que assola o cinema americano há sabem-se lá tantos anos e é ajambrada como desculpa para qualquer que seja o problema. A segunda visualização, mais consistente, decorre do fato de que existe um movimento no cinema americano disposto a pensar a realidade de maneira mais incisiva. Seja no espectro cultural e religioso (O mestre), político (Lincoln, Argo e A hora mais escura) ou mesmo no eixo cinematográfico (Hitchcock, afinal, é mais um filme sobre cinema em três temporadas de Oscar). A terceira linha de pensamento nos obriga a ver esse cenário como uma coincidência. Se feliz ou não, caberá ao Oscar dizer. Mas as bilheterias de alguns desses filmes indicam que o público americano está receptivo a ela. Isso sim, apropriando-se da primeira percepção, no frigir dos ovos, pode não ser uma boa notícia.


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