Daniel Day Lewis como Lincoln no filme de Spielberg: críticos americanos, empolgados com o hiper realismo da caracterização do ator, têm dito que "Day Lewis é mais Lincoln do que Lincoln"
Há sempre filmes históricos e que recriam eventos reais em meio
às produções cotadas para o Oscar, mas essa temporada demonstra uma saturação
desse tipo de filme. Seja em produções históricas com ares biográficos como
Lincoln, seja em produções históricas com pegada de thriller, como Argo, seja
em recortes históricos de figuras notórias do mundo do cinema, como em Hitchcock,
seja em reconstituições imaginativas de movimentos religiosos como em O mestre,
seja na reconstituição não menos imaginativa da caçada ao terrorista número 1
(Osama Bin Laden) em A hora mais escura ou sobre a devastação provocada por um
tsunami, em O impossível. Esses são apenas alguns dos muitos filmes aventados
nessa temporada de premiações que se esmeram no real. Outros exemplos são Um
fim de semana em Hyde Park ,
sobre a visita do rei George VI ao presidente americano Franklin D. Roosvelt
que selaria o ingresso americano na segunda guerra mundial, e As sessões, que
acompanha a tentativa de um paraplégico de perder a virgindade.
Pode-se dizer em defesa desses filmes que todos carregam forte
componente cinematográfico em suas ramificações. Mas foi isso, em primeiro
lugar, que fez com que se materializassem em filmes. O que chama a
atenção na corrida em 2012 é que, excetuando-se a comédia O lado bom da vida e
o musical Os miseráveis, os principais postulantes à candidatura ao Oscar de
melhor filme se inspiram ou se alimentam da realidade.
Helen Hunt e John Hawkes em cena de As sessões: a história é real e desde que o filme foi exibido no festival de Sundance de 2012, revelou aquele cheiro de Oscar...
Se ainda fossem apenas cinco os indicados na categoria, seriam
fortes as chances de todos os indicados serem baseados em fatos e eventos
reais. Essa overdose pode ser percebida de três maneiras. Na primeira e mais
pueril, pode-se apontar para a constante crise criativa que assola o cinema
americano há sabem-se lá tantos anos e é ajambrada como desculpa para qualquer que
seja o problema. A segunda visualização, mais consistente, decorre do fato de
que existe um movimento no cinema americano disposto a pensar a realidade de maneira
mais incisiva. Seja no espectro cultural e religioso (O mestre), político (Lincoln,
Argo e A hora mais escura) ou mesmo no eixo cinematográfico (Hitchcock, afinal, é
mais um filme sobre cinema em três temporadas de Oscar). A terceira linha de
pensamento nos obriga a ver esse cenário como uma coincidência. Se feliz ou
não, caberá ao Oscar dizer. Mas as bilheterias de alguns desses filmes indicam que
o público americano está receptivo a ela. Isso sim, apropriando-se da primeira
percepção, no frigir dos ovos, pode não ser uma boa notícia.
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