quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Especial Argo - Crítica



Argofucking good
Cotadíssimo para o Oscar, terceiro longa-metragem de Ben Affleck como diretor é o que se chama "fine storytelling". Ótimo elenco, destreza técnica, roteiro esperto e direção segura garantem o entretenimento


Paródia de Hollywood, frisson documental, thriller de espionagem setentista, suspense de colocar o coração na boca e drama bem adornado. Argo (EUA 2012) é tudo isso e mais um pouco. O terceiro longa-metragem de Ben Affleck é um triunfo de narrativa e de clima. Affleck conduz sua história com desenvoltura ímpar e sem sobrepor as diferentes, e para muitos conflitantes, facetas de sua história. Esse equilíbrio, arrojado na forma como se estabelece e simples na maneira como se anuncia, é prova contundente dos cada vez mais vistosos predicados de Affleck como diretor.
Argo começa com Affleck recorrendo à animação para contextualizar o espectador da geopolítica internacional nos idos dos anos 70, com especial atenção ao desenvolvimento político do Irã. Daí, ele parte para uma reprodução, extremamente acurada ao ponto de se confundirem as imagens da época com aquelas ensejadas pelo cineasta, da tomada da embaixada americana pelos revolucionários iranianos em 1979. Depois Affleck centra a ação na elaboração do plano pela CIA para resgatar os seis diplomatas que escaparam da embaixada americana e se refugiaram na casa do embaixador canadense. É aí que entra o personagem de Affleck, Tony Mendez, um agente da CIA especializado em exfiltração e seu plano (“o melhor plano ruim”, como um personagem define) de bancar um filme falso para conseguir repatriar os diplomatas em fuga. O terceiro ato do filme se concentra na execução do plano propriamente dito e é quando o diretor atinge tons maiores de suspense, mesmo com a plateia sabendo de antemão o desfecho dessa história.

Affleck e Cranston em cena: Cia e Hollywood no centro do picadeiro... 

Essa pequena ópera de humores e tons faz com que Argo seja um filme inteligente em suas opções, como elenco afiado e a ironia como mesura da ação, e climático. Affleck vai do drama à comédia mais cafajeste em um piscar de olhos sem permitir que o ritmo do filme sofra oscilações. Um mérito que precisa ser compartilhado com o bom roteiro, de Chris Terrio e a edição, do sempre competente William Goldenberg, cujos créditos incluem O informante e Medo da verdade (primeiro longa de Affleck).
Como ator, Affleck mais uma vez dá mostras de seu amadurecimento. Discreto e sóbrio, evita chamar atenção para si, mas preserva um aspecto de exaustão e pesar que de alguma maneira parece aumentar ao longo da fita. Uma composição notável e muito mais efetiva dentro da lógica da trama do que pode parecer. Outros coadjuvantes de destaque são John Goodman e Alan Arkin, essenciais para a adequação do ritmo de Argo enquanto proposta cinematográfica, e Bryan Cranston – um ímã para os olhos como o chefe de Mendez.
Argo é daqueles filmes que fazem pulsar a cinefilia. Bem realizado e inventivo, sabe ser pop e tem vocação para cult. O Oscar, tão comentado para Argo, nessa conjuntura é só um detalhe.

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