Um elefante extraordinário!
Depois de Abutres (2010), parecia difícil crer que o
argentino Pablo Trapero fosse superar a força e contundência daquele filme em
seu projeto seguinte, o drama com fundo social (como todos os filmes do
excelente cineasta argentino) Elefante branco (ARG/ESP 2012). No entanto,
Trapero surpreende sua audiência com uma história de alta voltagem emocional,
grande impacto visual e estético e um discurso profundo que vai se
descortinando em camadas cada vez mais sutis, ainda que administradas com mão
forte pelo cineasta.
Na trama, acompanhamos o padre Júlian (Ricardo Darin com sua
habitual competência) na luta por legitimar seu projeto social em uma favela
argentina na periferia de Buenos Aires. Ele atua junto a uma assistente social
(Martina Gusman) e resgata da Amazônia um antigo pupilo, o padre Nicolás
(vivido com força pelo belga Jéréme Renier), a quem planeja erigir sucessor –
já que enfrenta uma doença terminal.
A grande força do filme se apresenta nos conflitos internos
vividos pelos dois padres e, também, na saga fadada ao fracasso que elegeram
para suas vidas. Em um dado momento, quando Nicolas agoniza com a culpa em
virtude de circunstâncias mostradas no início do filme, Júlian exorta: “É fácil
ser mártir, é fácil ser herói. Difícil é trabalhar todos os dias sabendo que
seu trabalho é insignificante”. Uma frase poderosa que dá contexto não só ao
trabalho dos padres naquela favela, como ao exercício da busca pela paz executado desde
ONGs a organismos internacionais. Júlian, homem de paciência exacerbada e
doação irrestrita a Deus, se vê em crise conflagrada consigo mesmo ao perecer de
uma doença incurável. O registro de Trapero ganha ainda mais relevo quando
Júlian é destacado pelo bispado argentino a investigar um possível milagre
atribuído ao padre Mugica – principal fonte de inspiração para a composição do personagem Júlian – sobre cura de uma doença incurável.
Já Nicolás, por razões diversas, questiona sua vocação
clerical.
Dois padres unidos pela dúvida: A natureza dos conflitos de Júlian e Nicolás, no entanto, é distinta
A violência na favela surge como ponto de desequilíbrio
entre os dois protagonistas e, também, como fator preponderante na aproximação
entre Nicolás e a assistente social vivida com intensidade e sensibilidade por
Martina Gusman – atriz cada vez mais poderosa sob os comandos do marido (melhor
em cena do que já estivera em Leonera e Abutres).
A resolução de Elefante branco é um caso à parte. Trapero
parecer ser incapaz de devolver a plateia o estado de tranquilidade após o fim
da sessão. É preciso garantir que o filme permaneça no subconsciente do público
por meio de finais ostensivamente contraditórios, alarmantes e, no caso de
Elefante branco, visceralmente poéticos.
Um diretor que faz de seu cinema um grito social, que olha
para uma Argentina escondida e subjugada, mas que acima de tudo, realiza um
cinema pungente e esteticamente vigoroso.
Ainda não assisti a este filme, mas a sua crítica é a segunda que leio que elogia - e muito - a obra. Fiquei curiosa, ainda mais por se tratar de um filme com um dos melhores atores da atualidade: Ricardo Darín.
ResponderExcluirBeijos!
Kamila: Darín está ótimo e o filme vale muito a pena Ka.
ResponderExcluirBjs