sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Especial Argo - Quando o cinema encontra o cinema



Não é de hoje que o cinema, por vezes por vaidade e em outras como autocrítica, se volta para si mesmo. Presenciamos na última temporada do Oscar uma batalha entre filmes essencialmente sobre a arte de fazer filmes (O artista e A invenção de Hugo Cabret). Mas a postura reverente dessas duas oscarizadas produções se distancia da que se verifica no mais recente trabalho de Ben Affleck como diretor. Argo é um thriller de espionagem, mas também uma sátira de Hollywood. O que Argo propõe é a desmesura entre a espionagem e o cinema, dois mundos em que “o faz de conta” ganha corpo e movimenta milhões de dólares.
A proposta de Affleck, portanto, está mais alinhada à uma crítica de fundo político nos moldes da que Barry Levinson tão sagazmente fez em Mera coincidência (1997). No filme, Dustin Hoffman faz um produtor de cinema contratado por um par de assessores do presidente dos EUA para criar uma guerra fictícia como meio de desviar as atenções de um escândalo sexual. O filme é um assombro do ponto de vista narrativo e irresistível na forma inteligente com que se serve da realidade para ganhar força dramática.
Argo, nesse sentido, opta por um registro parecido ao indicar o humor incontido nos tipos que constituem Hollywood. Robert De Niro, que brilha em Mera coincidência como um tarimbado assessor político, faz em Fora de controle (2010) um produtor de cinema forçado a lidar com todo tipo de adversidade. Desde surtos de estrelas como Bruce Willis (vivendo ele mesmo), até sanções do estúdio. O filme, também é assinado por Barry Levinson, que, como pode perceber o leitor, gosta de abordar seu metiê.
Dustin Hoffman, Anne Heche e Robert De Niro em cena
do brilhante Mera coincidência
A quadrilogia Pânico, de uma maneira muito particular, também fala sobre cinema. Mais especificamente sobre o cinema de horror. É um deleite de metalinguagem para cinéfilos e fãs do gênero.  
Grandes personalidades do cinema também se revelam como porta de entrada para que o cinema devasse suas próprias hostes. Marilyn Monroe, por exemplo, é tema de três filmes distintos. O primeiro deles, Sete dias com Marilyn, valeu a Michelle Williams uma indicação ao último Oscar como melhor atriz. Alfred Hitchcock terá os meandros da preparação de seu filme mais notório, Psicose, reproduzidos em um filme estrelado por Anthony Hopkins programado para o fim desse ano nos EUA.
Até por uma questão de perspectiva, é bom que o cinema não se perda de vista. Essa autoanálise, ora complacente, ora rigorosa, é um exercício capaz de provocar ainda mais fascínio e admiração em quem está do lado de cá da tela. 

2 comentários:

  1. Eu estou asnioso para assistir a esse filme. Ainda que não seja fã de Affleck como ator, gostei dos filmes que ele dirigiu e penso que será, se não tão interessante quanto os anteriores, pelo menos satisfatório.

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  2. Luís: A crítica vem colocando esse filme um patamar acima dos dois trabalhos anteriores de Affleck. Vamos ver se é para tanto!
    abs

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