Não é de hoje que o cinema, por vezes por vaidade e em
outras como autocrítica, se volta para si mesmo. Presenciamos na última
temporada do Oscar uma batalha entre filmes essencialmente sobre a arte de
fazer filmes (O artista e A invenção de Hugo Cabret). Mas a postura reverente dessas duas oscarizadas produções se distancia da que se verifica no mais
recente trabalho de Ben Affleck como diretor. Argo é um thriller de espionagem,
mas também uma sátira de Hollywood. O que Argo propõe é a desmesura entre a
espionagem e o cinema, dois mundos em que “o faz de conta” ganha corpo e movimenta
milhões de dólares.
A proposta de Affleck, portanto, está mais alinhada à uma
crítica de fundo político nos moldes da que Barry Levinson tão sagazmente fez
em Mera coincidência (1997). No filme, Dustin Hoffman faz um produtor de cinema
contratado por um par de assessores do presidente dos EUA para criar uma guerra
fictícia como meio de desviar as atenções de um escândalo sexual. O filme é um
assombro do ponto de vista narrativo e irresistível na forma inteligente com
que se serve da realidade para ganhar força dramática.
Argo, nesse sentido, opta por um registro parecido ao
indicar o humor incontido nos tipos que constituem Hollywood. Robert De Niro,
que brilha em Mera coincidência como um tarimbado assessor político, faz em
Fora de controle (2010) um produtor de cinema forçado a lidar com todo tipo de
adversidade. Desde surtos de estrelas como Bruce Willis (vivendo ele mesmo),
até sanções do estúdio. O filme, também é assinado por Barry Levinson, que,
como pode perceber o leitor, gosta de abordar seu metiê.
Dustin Hoffman, Anne Heche e Robert De Niro em cena do brilhante Mera coincidência |
A quadrilogia Pânico, de uma maneira muito particular,
também fala sobre cinema. Mais especificamente sobre o cinema de horror. É um
deleite de metalinguagem para cinéfilos e fãs do gênero.
Grandes personalidades do cinema também se revelam como
porta de entrada para que o cinema devasse suas próprias hostes. Marilyn
Monroe, por exemplo, é tema de três filmes distintos. O primeiro deles, Sete
dias com Marilyn, valeu a Michelle Williams uma indicação ao último Oscar como
melhor atriz. Alfred Hitchcock terá os meandros da preparação de seu filme mais
notório, Psicose, reproduzidos em um filme estrelado por Anthony Hopkins
programado para o fim desse ano nos EUA.
Até por uma questão de perspectiva, é bom que o cinema não
se perda de vista. Essa autoanálise, ora complacente, ora rigorosa, é um
exercício capaz de provocar ainda mais fascínio e admiração em quem está do
lado de cá da tela.
Eu estou asnioso para assistir a esse filme. Ainda que não seja fã de Affleck como ator, gostei dos filmes que ele dirigiu e penso que será, se não tão interessante quanto os anteriores, pelo menos satisfatório.
ResponderExcluirLuís: A crítica vem colocando esse filme um patamar acima dos dois trabalhos anteriores de Affleck. Vamos ver se é para tanto!
ResponderExcluirabs