O último romântico!
São muito claras as razões que fizeram Clint Eastwood
aceitar protagonizar Curvas da vida (Troube with the curve, EUA 2012). Gus
Lobel, seu personagem, enfileira-se naquele tipo que Clint parece ter se
especializado em construir no último e glorioso ato de sua carreira como ator e
o filme propriamente dito, em seus conflitos e dramaturgia, salpica
familiaridade. Curvas da vida, em análise mais criteriosa, é um filme de Clint
Eastwood sem a direção de Clint Eastwood. Essa constatação deriva tanto da
presença dos habituais colaboradores de Eastwood, como o diretor de fotografia
Tom Stern e mesmo do diretor Robert Lorenz, há mais de dez anos produtor e
assistente de direção de Eastwood, passando pela geografia dos conflitos dos
personagens. No entanto, falta a Lorenz a sobriedade irmanada na sensibilidade
que tanto faz pelo cinema de Eastwood.
Mesmo assim, Curvas da vida se subscreve como um bom filme.
Em muito pela forte presença de Clint Eastwood, que demonstra perícia na hora
de fazer humor (e são muitos esses momentos) e o mesmo desembaraço nas cenas
que exigem mais rigor dramático. É um ator salutar, ainda visceral, que
encontra em Amy Adams ,
conciliando o paradoxo de ser uma mulher forte e independente em um ambiente
majoritariamente masculino (o escritório de advogados em que trabalha e os
bastidores do baseball) e ainda uma mulher que devido a espinhosa relação com o
pai sente-se abandonada, uma parceira de cena que não deixa a peteca cair.
Química: Eastwood e Adams garantem o homerun de Curvas da vida |
Na trama, Gus é um olheiro do time Atlanta Braves. Sofrendo
de um princípio de cegueira, ele resiste à aposentadoria e grunhe (no melhor
estilo Eastwood) a quem quer que lhe contrarie. Com o contrato prestes a
vencer, ele é enviado para observar um talento que emerge da liga universitária
e que está sendo cobiçado pelos principais times da liga profissional de
baseball. A pedido de Pete (John Goodman), Mickey (Amy Adams) acompanha o pai,
a revelia deste, nessa viagem que ganha, portanto, outros atrativos.
Curvas da vida tem um roteiro esquemático, mas estranhamente
dá conta de algumas sutilezas que arejam o filme, como por exemplo, o fato de
pai e filha apresentarem temperamentos tão parecidos. Ou ainda, de prover uma
visão romântica do esporte – um paralelo saboroso ao proposto por O homem que
mudou um jogo (em seus detalhes um filme melhor), mas deixar transparecer a
fascinação que as estatísticas esportivas provocam nos americanos.
O final mais cinematográfico do que realista, o que pode
incomodar alguns pelo atropelo com que emerge, não nos deixa esquecer que
estamos vendo um filme romântico. Feito sob influência de um homem que sabe que
esse romantismo talvez só tenha lugar nos filmes. A parte da platéia que
comungar com ele dessa percepção, verá que Curvas da vida, no final
das contas, rebate bem a tal da bola curva.
belíssimo texto e adorei o desfecho de sua crítica!
ResponderExcluirNa lista para conferir...
Clint é Clint! Apesar do que diz a respeito da direção de Lorenz, bom, deve valer muito uma sessão.
Abs.
Obrigado Rodrigo. Valeu mesmo pelo elogio! Vale muito a sessão sim!
ResponderExcluirabs