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sábado, 24 de novembro de 2012

Crítica - Curvas da vida


O último romântico!

São muito claras as razões que fizeram Clint Eastwood aceitar protagonizar Curvas da vida (Troube with the curve, EUA 2012). Gus Lobel, seu personagem, enfileira-se naquele tipo que Clint parece ter se especializado em construir no último e glorioso ato de sua carreira como ator e o filme propriamente dito, em seus conflitos e dramaturgia, salpica familiaridade. Curvas da vida, em análise mais criteriosa, é um filme de Clint Eastwood sem a direção de Clint Eastwood. Essa constatação deriva tanto da presença dos habituais colaboradores de Eastwood, como o diretor de fotografia Tom Stern e mesmo do diretor Robert Lorenz, há mais de dez anos produtor e assistente de direção de Eastwood, passando pela geografia dos conflitos dos personagens. No entanto, falta a Lorenz a sobriedade irmanada na sensibilidade que tanto faz pelo cinema de Eastwood.
Mesmo assim, Curvas da vida se subscreve como um bom filme. Em muito pela forte presença de Clint Eastwood, que demonstra perícia na hora de fazer humor (e são muitos esses momentos) e o mesmo desembaraço nas cenas que exigem mais rigor dramático. É um ator salutar, ainda visceral, que encontra em Amy Adams, conciliando o paradoxo de ser uma mulher forte e independente em um ambiente majoritariamente masculino (o escritório de advogados em que trabalha e os bastidores do baseball) e ainda uma mulher que devido a espinhosa relação com o pai sente-se abandonada, uma parceira de cena que não deixa a peteca cair.  
Química: Eastwood e Adams garantem o homerun de
Curvas da vida
Na trama, Gus é um olheiro do time Atlanta Braves. Sofrendo de um princípio de cegueira, ele resiste à aposentadoria e grunhe (no melhor estilo Eastwood) a quem quer que lhe contrarie. Com o contrato prestes a vencer, ele é enviado para observar um talento que emerge da liga universitária e que está sendo cobiçado pelos principais times da liga profissional de baseball. A pedido de Pete (John Goodman), Mickey (Amy Adams) acompanha o pai, a revelia deste, nessa viagem que ganha, portanto, outros atrativos.
Curvas da vida tem um roteiro esquemático, mas estranhamente dá conta de algumas sutilezas que arejam o filme, como por exemplo, o fato de pai e filha apresentarem temperamentos tão parecidos. Ou ainda, de prover uma visão romântica do esporte – um paralelo saboroso ao proposto por O homem que mudou um jogo (em seus detalhes um filme melhor), mas deixar transparecer a fascinação que as estatísticas esportivas provocam nos americanos.
O final mais cinematográfico do que realista, o que pode incomodar alguns pelo atropelo com que emerge, não nos deixa esquecer que estamos vendo um filme romântico. Feito sob influência de um homem que sabe que esse romantismo talvez só tenha lugar nos filmes. A parte da platéia que comungar com ele dessa percepção, verá  que Curvas da vida, no final das contas, rebate bem a tal da bola curva.  

2 comentários:

  1. belíssimo texto e adorei o desfecho de sua crítica!
    Na lista para conferir...
    Clint é Clint! Apesar do que diz a respeito da direção de Lorenz, bom, deve valer muito uma sessão.

    Abs.

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  2. Obrigado Rodrigo. Valeu mesmo pelo elogio! Vale muito a sessão sim!
    abs

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