Argofucking good
Cotadíssimo para o Oscar, terceiro longa-metragem de Ben Affleck como diretor é o que se chama "fine storytelling". Ótimo elenco, destreza técnica, roteiro esperto e direção segura garantem o entretenimento
Paródia de Hollywood, frisson documental, thriller de
espionagem setentista, suspense de colocar o coração na boca e drama bem
adornado. Argo (EUA 2012) é tudo isso e mais um pouco. O terceiro
longa-metragem de Ben Affleck é um triunfo de narrativa e de clima. Affleck
conduz sua história com desenvoltura ímpar e sem sobrepor as diferentes, e para
muitos conflitantes, facetas de sua história. Esse equilíbrio, arrojado na
forma como se estabelece e simples na maneira como se anuncia, é prova
contundente dos cada vez mais vistosos predicados de Affleck como diretor.
Argo começa com Affleck recorrendo à animação para
contextualizar o espectador da geopolítica internacional nos idos dos anos 70,
com especial atenção ao desenvolvimento político do Irã. Daí, ele parte para
uma reprodução, extremamente acurada ao ponto de se confundirem as imagens da
época com aquelas ensejadas pelo cineasta, da tomada da embaixada americana
pelos revolucionários iranianos em 1979. Depois Affleck centra a ação na
elaboração do plano pela CIA para resgatar os seis diplomatas que escaparam da
embaixada americana e se refugiaram na casa do embaixador canadense. É aí que
entra o personagem de Affleck, Tony Mendez, um agente da CIA especializado em
exfiltração e seu plano (“o melhor plano ruim”, como um personagem define) de
bancar um filme falso para conseguir repatriar os diplomatas em fuga. O terceiro ato do
filme se concentra na execução do plano propriamente dito e é quando o diretor
atinge tons maiores de suspense, mesmo com a plateia sabendo de antemão o
desfecho dessa história.
Affleck e Cranston em cena: Cia e Hollywood no centro do picadeiro...
Essa pequena ópera de humores e tons faz com que Argo seja
um filme inteligente em suas opções, como elenco afiado e a ironia como mesura
da ação, e climático. Affleck vai do drama à comédia mais cafajeste em um
piscar de olhos sem permitir que o ritmo do filme sofra oscilações. Um mérito
que precisa ser compartilhado com o bom roteiro, de Chris Terrio e a edição, do
sempre competente William Goldenberg, cujos créditos incluem O informante e
Medo da verdade (primeiro longa de Affleck).
Como ator, Affleck mais uma vez dá mostras de seu
amadurecimento. Discreto e sóbrio, evita chamar atenção para si, mas preserva
um aspecto de exaustão e pesar que de alguma maneira parece aumentar ao longo
da fita. Uma composição notável e muito mais efetiva dentro da lógica da trama
do que pode parecer. Outros coadjuvantes de destaque são John Goodman e Alan
Arkin, essenciais para a adequação do ritmo de Argo enquanto proposta
cinematográfica, e Bryan Cranston – um ímã para os olhos como o chefe de
Mendez.
Argo é daqueles filmes que fazem pulsar a cinefilia. Bem
realizado e inventivo, sabe ser pop e tem vocação para cult. O Oscar, tão
comentado para Argo, nessa conjuntura é só um detalhe.
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