quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Oscar Watch 2012 - Primeiras impressões sobre a lista do Oscar

É inegável que, como todo ano, a lista dos indicados ao Oscar gerou algumas controvérsias. O que o Oscar 2012 tem, que os anteriores em período recente não tiveram, é uma profunda divisão na concepção de cinema que a academia anualmente propõe à indústria. Não é novidade que a academia é uma instituição conservadora. Mas como enquadrar nessa definição as indicações ao Oscar de filme e direção para A árvore da vida? Filme esquecido pelos sindicatos e lembrado apenas por uma ou duas associações de críticos. Filme de profundo viés filosófico que rachou a crítica por onde quer que tenha passado. Esse filme encabeçou, ao menos, 5% dos votos de todos os membros da academia (já que os indicados a melhor filme são escolhidos por todos os votantes).
Ainda que haja toda a máquina de Harvey Weinstein por trás de O artista, é preciso louvar o desprendimento de contemplar um filme francês, praticamente mudo e em preto e branco com dez indicações. O artista pode se tornar o primeiro filme mudo vencedor do Oscar de melhor filme em 80 anos. Não é pouca coisa. A invenção de Hugo Cabret, por sua vez, pode se tornar a primeira produção em 3D a receber tal honraria. São passos, notadamente, progressistas.

Jean Dujardin em cena de O artista: o destaque concedido ao filme já é uma ousadia; premiá-lo seria uma ousadia maior ainda...


Mas como enquadrar a exclusão absoluta de filmes tidos “difíceis” como Um método perigoso, Shame e Precisamos falar sobre o Kevin. Ou mesmo a exclusão de Os homens que não amavam as mulheres (um entretenimento adulto e pensante) das duas principais categorias? São manobras reacionárias de uma ala que ainda se incomoda com determinadas liberdades narrativas. O mesmo pode ser aferido da exclusão de As aventuras de Tintim da categoria de melhor animação. O departamento de curtas e animação da academia ainda resiste ao Motion Capture e não aceita a nova tecnologia como mais um recurso para animar um filme. A Fox fez pesada campanha para que Andy Serkis fosse indicado ao Oscar de coadjuvante por seu trabalho em Planeta dos macacos: a origem. A indicação não veio, muito em parte pela mesma percepção – dessa vez no colegiado de atores. Não se discute os méritos dos trabalhos em si, apenas o alcance deles nesse contexto específico.


(In) coerências
Não surtiram o efeito esperado as novas regras anunciadas pela academia para a escolha dos candidatos a melhor filme. Além de manter o inchaço (foram nove filmes ao invés dos dez dos últimos dois anos), filmes duramente criticados conseguiram vagas. Histórias cruzadas (4 indicações), Tão forte e tão perto (2 indicações) e A árvore da vida (3 indicações) passaram longe de ser unanimidades junto à crítica. O baixo número de indicações, e a pouca consistência delas, atesta que os novos critérios ainda não foram satisfatoriamente depurados pelos acadêmicos.
Cavalo de guerra, apesar de ostentar seis indicações, é um que parece caído de pára-quedas na categoria principal. Sem nenhuma indicação para categorias de atuação, roteiro ou direção, o filme de Spielberg deve confirmar as expectativas e fazer figuração na noite do dia 26 de fevereiro.
As categorias de roteiro demonstram uma crise em particular. Tudo pelo poder, um excelente drama político de alta voltagem, só foi lembrado na categoria de roteiro adaptado e ganhou a companhia de O espião que sabia demais, outro filme que poderia ter maior atenção. Candidatos a melhor filme ficaram sem indicação nessa categoria, casos de Histórias cruzadas, Tão forte e tão perto e o já citado Cavalo de guerra.
É o caso de Missão madrinha de casamento, comédia contemplada na categoria de roteiro original e que, supostamente, deveria ser a décima concorrente a melhor filme.
As categorias de roteiro nunca estiveram tão desencontradas da de filme quanto nesses últimos anos e, especialmente, em 2012.
Outra nota curiosa diz respeito ao filme Pina, de Win Wenders. A produção estava na última lista de candidatáveis ao Oscar de filme estrangeiro e foi parar na categoria de documentário. Enquanto isso, o favorito absoluto, Project Nim (um dos filmes mais elogiados do ano), não conseguiu uma indicação. O detalhe mais interessante é que Pina foi rodado em 3D e abre margem para a possibilidade da melhor ficção e  do melhor documentário do ano serem ambos produções 3D.

Brad Pitt e Jonah Hill, ambos indicados ao Oscar, em cena de O homem que mudou o jogo: com seis indicações (filme, roteiro adaptado, ator, ator coadjuvante, montagem e som), a fita de Bennett Miller é um dos raros casos de candidaturas consistentes ao Oscar de melhor filme


França, estúdios e símbolos
Não há como negar que esse Oscar tem certo sotaque francês. Três dos principais concorrentes estão intrinsecamente vinculados ao país presidido por Nicolas Sarkozy. Um deles, inclusive, conta com a esposa do dito cujo no elenco. O artista é uma produção francesa sobre Hollywood; Meia-noite em Paris é uma nostálgica viagem de Woody Allen ao momento definidor de Paris e A invenção de Hugo Cabret apanha o surgimento do cinema na França. Mas a França também está presente na categoria de animação (A cat in Paris) e pode ser consagrada em muitas outras categorias. Michel Hazanavicius goza de certo favoritismo entre os diretores. Apenas Scorsese, premiado recentemente, lhe oferece certo risco. Jean Dujardin já ganhou Palma de ouro, Globo de ouro e pode completar a trinca com o Oscar. Seria o primeiro europeu a triunfar na categoria principal de atuação desde Roberto Benigni, se desconsiderarmos - é claro - os ingleses Daniel Day Lewis e Colin Firth. Berenice Bejo também pode prevalecer entre as atrizes coadjuvantes. Ludovic Bource parece uma aposta segura entre os compositores e há mais chances para artistas franceses em outras categorias.
É interessante observar que, além dessa invasão francesa (de deixar os sempre prestigiados britânicos enciumados), a nostalgia parece mover este Oscar – conforme prognósticos em Claquete já apontavam.
Esqueça os três filmes já citados e se concentre, por exemplo, na categoria de ator coadjuvante. Com exceção de Jonah Hill, são todos atores consagrados (e bem veteranos) que jamais receberam um Oscar.
Há, ainda, filmes como Sete dias com Marilyn, Cavalo de guerra e A dama de ferro que podem ser observados sob o mesmo prima.
Fitas como Histórias cruzadas, O homem que mudou o jogo e Tão forte e tão perto atendem àquela demanda pelo drama com histórias de superação e força emocional.

Berenice Bejo no tapete vermelho do último Globo de ouro: ela pode ser mais uma francesa a desbancar americanas. A última foi Marion Cottilard


Outra curiosidade dessa edição do Oscar é que os filmes de maior força na disputa são produções independentes: O artistaOs descendentes e Meia- noite em Paris.
Mas os estúdios, no entanto, parecem mais alinhados do que de costume. A Paramount emplacou A invenção de Hugo Cabret e a Sony conseguiu indicação para O homem que mudou o jogo. Bem verdade que o estúdio esperava uma trinca com Tudo pelo poder e Os homens que não amavam as mulheres. A DreamWorks de Spielberg também colocou dois filmes entre os finalistas: Cavalo de guerra e Histórias cruzadas.
Resta saber se todos esses filmes terão o boom que alguns dos destaques do Oscar passado (O discurso do rei, Cisne negro e O vencedor) tiveram após as nomeações.

2 comentários:

  1. ótimas impressões Reinaldo.

    Também acho que parece um Oscar frânces este de 2012! rsrs Olhando por essa perspectiva que tu colocou acho que as escolhas do Oscar foram bem desanimadoras. Primeiro porque não parece haver coerencia como tu mesmo disse, e segundo porque parece que a lista foi escolhida por sorteio! "Agora vamos tirar da roleta os nove indicados a melhor filme!" rsrs

    Mas por outro lado, que é a perspectiva que eu vi, também é um Oscar imprevisível, que nos surpreendeu, e que traz de volta aquela nostalgia de não sabermos quem realmente vai ganhar (ou alguém, depois dessas indicações ainda tem certeza absoluta de que O Artista é o favorito???)! E é o Oscar de maior destaque dos últimos anos, eu penso! Ninguém contava que seriam esses indicados e isso fez as atenções se voltarem para a premiação! Adorei essa imprevisibilidade quando todo mundo achava que seria previsível! E os últimos Oscars, vamos falar sério, foram uma chatice! Pode ser que porque o ano foi fraco não temos um favorito e tantas incoerências, mas é bom se surpreender de vez em quando! rsrs

    Abraço

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  2. Tb gostei desse aspecto imprevisível. Mas se atentarmos bem, não foi tão imprevisível assim; conforme comentei contigo no post anterior. Uma indicação para o Malick era até certo ponto cogitada. Talvez não para o seu filme. Bichir foi uma surpresa, mas um nome já levantado pelo sindicato dos atores. Michael Shannon viria do nada (alguns poucos círculos de críticos o premiaram.
    Mas Oscar é Oscar, não é mesmo?
    Abs

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