Oscar Watch 2012 - As angústias de Alexander

Ele tem 50 anos e pode ganhar um Oscar em meio às comemorações pelo quinquagésimo primeiro aniversário. Alexander Constantine Papadopoulos, como o nome não deixa esconder, tem ascendência grega, mas nasceu mesmo em Omaha, cidadezinha de Nebraska nos Estados Unidos.

Alexander Payne é um cara viajado. Estudou espanhol na Espanha (onde frequentou a prestigiada Universidade de Salamanca) e na ainda mais prestigiada universidade de Stanford (onde se graduou). Seus filmes, de alguma maneira, reproduzem esse ar sofisticado, ligeiramente cool e em transição.

Nessa Oscar season, Payne é um dos nomes mais quentes na praça. Os descendentes, seu primeiro filme desde o grande hit de sua carreira (Sideways-entre umas e outras) é a grande aposta do cinema independente para a temporada. A história de um homem que precisa reaver seu relacionamento com os filhos quando a mulher entra em coma e descobre muito sobre si mesmo não tem só o Havaí como cenário. Tem, também, a força do tema que Alexander Payne imprime em sua filmografia: homens solitários as voltas com momentos definidores em suas jornadas pela vida. Desde As confissões de Schmidt, que marcou a última indicação ao Oscar para Jack Nicholson, esse tem sido um pathos para Payne. Naquele filme, Nicholson vivia um recém enviuvado que tenta se reconectar com a filha. Em Sideways-entre umas e outras, filme que lhe valeu o Oscar de roteiro adaptado e a primeira indicação ao prêmio como diretor, Payne mostra a jornada de dois amigos às vésperas do casamento de um deles pelas vinícolas da Califórnia.

Cena de Sideways-entre umas e outras, filme que até o momento é o mais premiado da carreira de Alexander Payne: homens em momentos definidores...

A viagem, obviamente, revelará camadas da amizade e dos respectivos personagens que pareciam inexistir.

Payne é um exímio delineador desses personagens amargurados e maltratados pela vida. Na tv, criou e produziu para a HBO um oásis de inteligência e humor negro chamado Hung. Na série,que durou três temporadas, Tomas Jane vivia um professor afetado pela crise financeira que se vê apelando para seu bem dotado "instrumento" para viabilizar-se como garoto de programa. Os textos de Payne, como demonstram uma rápida olhada em Hung, conjugam sofisticação, inteligência, sarcasmo e cinismo em doses equilibradas. Uma qualidade rara na cena cultural de qualquer país. Não à toa, Os descendentes – comédia agridoce com um George Clooney vulnerável – colhe tantos elogios por onde passa.

O cineasta já demonstrava esse tino para subverter expectativas e imolar o politicamente correto em suas primeiras fitas. Em Ruth em questão (1996), Laura Dern vive uma mulher com problemas de drogas, grávida e que se vê no meio de opiniões divergentes, daqueles que a cercam, em relação ao aborto. Em Eleição (1999), uma ainda pouco conhecida Reese Witherspoon vive uma aluna de escola secundária que resolve desafiar certas convenções e o professor vivido por Matthew Broderick é a personificação dos efeitos colaterais dessa “ruptura”.

Embora tenha dirigido relativamente pouco, é um produtor voraz. Filmes como A família Savage (2007), O assassinato de um presidente (2004) e O rei da Califórnia (2007) levam a sua chancela. Curiosamente, Os descendentes é o primeiro filme que dirige em que também atua como produtor.

Ele é o diretor mais bem cotado na disputa pelo Oscar nesse momento. Curiosamente, deverá enfrentar um de seus ídolos, Martin Scorsese. Mas esse enfrentamento é só uma das angústias de Alexander, esse artista que tão bem encampa os dissabores da maturidade.