Oscar Watch 2012 - Crítica do Globo de ouro 2012

Foi, como se esperava, uma premiação fragmentada. Em um ano marcado pela ausência de francos favoritos, que aqueles que já viram todos os filmes interpretam como um ano sem grandes filmes, o Globo de ouro pulverizou os premiados e contemplou as grandes personalidades que faziam parte da festa: George Clooney, Woody Allen, Martin Scorsese e Steven Spielberg para citar alguns.

A escolha de Os descendentes e The artist, ao contrário do que sugerem a maior parte das análises projetando a disputa pelo Oscar, não qualificam esses filmes como favoritos na disputa. The artist, por algum tempo, tem sido o líder de indicações nas premiações majors e, talvez, seja o recordista de indicações ao Oscar no ano. Contudo, o filme ainda não consegue reclamar para si o favoritismo absoluto. Por ser estrangeiro, por ser mudo e por um filme sobre o cinema propriamente dito jamais ter ganhado o Oscar de melhor filme. Os descendentes, nessa conjuntura, poderia se beneficiar. Mas o filme de Alexander Payne passa longe da unanimidade. Fato é que muita água ainda vai rolar debaixo da ponte até que os vencedores do Oscar, cujos concorrentes serão anunciados daqui a uma semana, sejam conhecidos. Neste momento, parecem gravitar a disputa por melhor filme Histórias cruzadas, que pode se beneficiar da indecisão entre os outros dois concorrentes e tem a seu favor o apelo popular; A invenção de Hugo Cabret, filme que cresceu de tamanho e seria uma alternativa de estúdio à nostalgia proposta por The artist; e o “difícil” Os homens que não amavam as mulheres.

George Clooney com seu globo de ouro de melhor ator dramático: mais do que nunca, favorito ao Oscar de melhor ator

Mas focando no Globo de ouro, a escolha por Scorsese na categoria de direção, revela que para a HFPA foi um ano muito parelho. Não houve um grande vencedor. No entanto, foi recompensador perceber que a HFPA não se prende a politicagens como a Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Há três anos premiou Kate Winslet nas categorias de atriz em drama por Foi apenas um sonho e atriz coadjuvante por O leitor. Feito inédito. Em 2012 concedeu o terceiro troféu de direção a Scorsese em dez anos. Algo realmente notável. Fica claro, portanto, que para a HFPA o diretor foi o melhor em seu ofício em 2011.

Essa honestidade é louvável. Por exemplo, a HFPA ama Meryl Streep. Nos últimos oito anos, ela venceu cinco vezes. Outra marca notável. Existe incutida aí, porém, uma dúvida acerca de certos favorecimentos. Questionamento que pode ser feito mais candidamente ao avaliarmos a categoria de animação. Rango é, com sobras, o filme que reúne melhores críticas. As aventuras de Tintim reúne críticas negativas em demasia, tanto nos EUA quanto em outros países. No entanto, foi o agraciado com o globo de melhor animação. É possível entender pelo “Ufa, obrigado por isso HFPA”, de Spielberg, que o próprio se sentiu privilegiado pela organização.

Os detratores do Globo de ouro irão escalonar os jabás. George Clooney, um eterno favorito, premiado de novo; Harvey Weinstein emplacou todas (até Madonna), etc. É inegável que a HFPA é suscetível aos charmes da indústria. Esse sempre foi um dos paradigmas do Globo de ouro. De uns tempos para cá, é bem verdade, intensificou-se. Enquanto o Oscar foi buscar o cinema independente, os globos abraçaram o cinemão; Avatar, Desejo e reparação e Babel foram algumas escolhas que revelaram o abismo crescente entre o Oscar e a premiação que já foi conhecida como sua principal prévia. Que as indicações ao globo de ouro apontam o caminho para a Oscar race não pairam dúvidas, mas seria incorreto afirmar que a premiação ainda exerce alguma influência maior que essa ou que ainda antecipa o humor da academia. Nos últimos oito anos eles premiaram mais Meryl Streep do que o Oscar em toda a carreira artística da atriz irá premiá-la. Em um movimento, por vezes consciente e por vezes totalmente aleatório, a HFPA busca certa emancipação do Oscar. E isso é muito positivo para apimentar a Oscar season e privar-lhe de certa monotonia.

O comediante inglês Ricky Gervais chega para apresentar pela terceira vez consecutiva o Globo de ouro

A cerimônia

Como se sabe, o peso das expectativas é desestabilizador. Todos esperavam, e o marketing mirou nessa expectativa, um banho de sangue e sarcasmo do apresentador Ricky Gervais na cerimônia de 2012. Ingenuidade coletiva. Era natural supor que Gervais surgiria mais contido por força de imposições tanto da HFPA quanto da NBC que transmite o evento nos EUA. Mas Gervais não surgiu descaracterizado. Ele tripudiou em cima da NBC, continuou caçoando da HFPA e mirou em alguns dos presentes (Colin Firth, Jodie Foster e Madonna) e em ausentes (Eddie Murphy, Justin Bieber e Kim Kardashian). Mesma fórmula do ano passado, mas em uma versão justificadamente mais light.

No geral foi um bom show. Com as gafes de sempre e menos momentos emocionantes do que de costume.