domingo, 8 de janeiro de 2012

Insight

A instrumentalização da crítica de cinema


As relações entre a indústria do cinema e a mídia sempre foram mais íntimas do que a isenção jornalística gostaria. Os famosos jabás (jargão jornalístico para matérias pagas) são frequentes e muitas redações se veem na incumbência de estabelecer limites nessa relação. Contudo, isso é tema para outra sessão Insight. A introdução, no entanto, se faz necessária por conta de um  (não tão) novo desdobramento dessa relação.
É hábito plenamente justificável a exibição dos lançamentos para críticos de cinema antes da estréia dos filmes. Fato. Com a constância cada vez maior de lançamentos super antecipados, o assédio crescente da pirataria e o poder desestabilizador da internet na carreira comercial de um filme, estúdios e distribuidoras lançaram mão de uma nova ferramenta de marketing cujo alcance, além de dúbio, gera controvérsias mais ambíguas do que as relações mencionadas na abertura desse texto.
Uma das capas de dezembro da semanal
New Yorker:
intrigas
Trata-se da instrumentalização da crítica cinematográfica. Essa instrumentalização, às vezes, implica em nenhuma crítica antes do lançamento do filme. Caso de alguns blockbusters de qualidade duvidosa. Em outros casos, se dá pela combinação prévia entre distribuidor e empresa jornalística sobre a data para a publicação da crítica. Os interesses são meramente comerciais, como em qualquer outro negócio, mas indicam precedentes perigosos. Como era de se esperar, as tensões se avolumaram em dezembro, quando um desses “acordos de cavalheiros” entre o produtor Scott Rudin e a revista New Yorker não foi respeitado. A publicação veiculou sua crítica de Os homens que não amavam as mulheres, filme que Rudin produz, antes da data combinada e gerou atritos e troca de farpas entre o produtor e o crítico David Denby. A publicação se justificou reconhecendo que a data combinada inviabilizava a circulação da crítica pelo fato de que havia muito material para ser publicado na última edição do ano (quando a crítica deveria circular) e o leitor merecia uma crítica completa sobre o filme.
Independentemente das razões de Rudin e da New Yorker, o episódio demonstra que, para os estúdios, a crítica de cinema não só é meramente promocional, como deve se prestar a esse objetivo em particular. Esse pensamento precisa ser abortado. Pelas redações, e em uma análise condescendente foi justamente o que a New Yorker sinalizou, e pela própria indústria que já deveria ser madura o suficiente para observar que os interesses não devem ser sobrepostos e sim compartilhados. O lucro flui melhor dessa maneira.

7 comentários:

  1. Perfeita constatação, Reinaldo. E isso porque a crítica de Denby para o filme de Fincher foi ultra positiva. Mas essa percepção da indústria de q a crítica é um mero artifício para atrair espectadores tem que acabar mesmo.

    Vou ficar no aguardo do insight da crítica jabá, algo que discordo de vc ali em cima, afinal as redações estão cada vez mais interessadas. Ora, o dono da empresa jornalística tá CAGANDO pra quem faça os textos e como os façam, desde que molhem o bolso dele. Aqui na minha cidade, em um dos principais jornais da cidade, por exemplo, onde colocaram o estagiário? Para escrever de filmes que estreiam no cinema. Mas eu cheguei para mudar isso...

    JAIUAHAUAHUAHAUAHAUAHUAHA, dó.


    grande abraço!

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  2. Concordo contigo, Reinaldo. De fato, a crítica tem uma forte influência sobre toda a indústria cinematográfica. O importante é estabelecer limites, de ambas as partes.

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  3. Achei desrespeitoso o que o cara do New Yorker fez (nem sabia desse evento), independente das razões dadas. Se a distribuidora impõe uma data, ela deve ser respeitada, afinal, eles tiveram a boa vontade de te convidar para a cabine, ver o filme antes de todo mundo, de graça, etc. Enfim, muito interessante seu texto, e espero que faça um sobre os jabas! wwww.lumi7.com.br

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  4. Gostei da matéria, polêmico, não?
    Acho que o crítico deve se manter fiel a si em suas convicções e se tiver a oportunidade de dizer para Almodóvar que não gostou nem um pouco de A pele Que Habito, o diga, oras! Tudo bem que esta história de jabá é constante (e deve ser ótimo quando o crítico amou o filme rs rs), mas mesmo assim, prefiro a liberdade de expressão opinativa. Sou um tanto romântico em um mundo capitalista, rs!

    No caso de Denby, sim ele foi deselegante, afinal trato é trato. Rs!

    No aguardo do próximo Insight.

    Abs.

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  5. Perfeito insight. Acompanhei a polêmica desse caso do David Denby e do "embargo" imposto pelos críticos a "O Homem que Não Amava as Mulheres", pelo menos até a estreia da obra, e achei um tanto exagerada as reações. Entendo o lado de Denby e acho que a crítica, além de nortear, tem o objetivo também mercadológico de atrair a atenção para determinadas obras e artistas. Isso é fundamental também!

    Beijos!

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  6. Muito bom, Reinaldo. Realmente a crítica precisa se manter fiel a sua essência, sem ser influenciada em sua escrita (se gostou, não gostou e por quê), mas no momento em que há negociações, acordos sobre como e quando isso será veiculado, é preciso, pelo menos conversar sobre possíveis mudanças. Agora o que não dá é os produtores acharem que são donos dos veículos só porque deram a concessão de assistir "de graça" antes dos outros. É interesse dele que o crítico assista e divulgue seu filme.

    bjs

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  7. Elton Telles: Pois é Elton. Mas o jabá que me refiro é especificamente dentro do jornalismo cultural, que tem um relevo muito maior e insidioso. Não me refiro, em termos absolutos, ao "jabá padrão". rsrs.
    Abs

    Luis Galvão: É importante ter isso em mente.
    Abs

    Júlio Pereira: Pois é Júlio, não há dúvidas de que a postura da New Yorker foi desrespeitosa. Agora, Scott Rudin não "convidou-os" gratuitamente. Além de querer seu filme criticado em um importante veículo cultural, ele queria exibir o filme para críticos votantes no círculo de críticos de Nova Iorque que inaugurou a atual temporada de premiações elegendo The artist como o melhor de 2011.
    Abs

    Rodrigo: Somos todos românticos quanto a isso Rodrigo. Até o momento da realidade alarmar-nos. Bem, vc e A pele que habito, hein? rsrs. Liberdade opinativa sempre!
    Abs

    Kamila: Exato Ka, por isso disse que os interesses não devem ser sobrepostos e sim compartilhados.
    Bjs

    Amanda:É justamente essa dicotomia tão bem descrita por vc que precisa ser pensada.
    Bjs

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