O cara
Indicado a melhor filme, a melhor diretor, a melhor roteiro
e a melhor filme estrangeiro. Não há um vencedor maior do que o franco alemão
Michael Haneke. O grande elemento surpresa do Oscar deste ano não foi sua
presença entre os indicados, mas o tamanho de sua presença. O último cineasta
estrangeiro que concorreu ao Oscar por um filme em língua não inglesa com
tamanha força foi justamente Ang Lee (de volta à disputa este ano com um filme
americano) em 2001, mas o taiwanês não tinha indicação por roteiro.
Os filmes estrangeiros que caíram no gosto da academia
Por falar em Amor e O tigre e o dragão, são raros os filmes
estrangeiros que amealham indicações na categoria principal. Nos últimos 30
anos, apenas A vida é bela e O carteiro e o poeta, ambos italianos, conseguiram
vagas nos anos 90. Diretores estrangeiros tiveram melhor sorte com filmes
falados em outros idiomas. Além de Haneke este ano, nos últimos 30 anos foram
indicados Fernando Meirelles por Cidade de Deus (2005), Pedro Almodóvar por
Fale com ela (2003) Ang Lee por O tigre e o dragão (2001), Robert Benigni por A
vida é bela (1998), Krzysztof Kieslowski por A fraternidade é vermelha (1995),
Akira Kurosawa por Ran (1986) e Ingmar Bergman por Fanny e Alexander
(1984). Há ainda o precedente do diretor americano Clint Eastwood
nomeado em 2007 por Cartas de Iwo Jima, falado em japonês. Quentin
Tarantino foi indicado em 2010 por Bastardos inglórios que é
falado em italiano, inglês, francês e alemão. No entanto, esses dois últimos
filmes são americanos.
Intocável
Derrubou o bolão de muita gente. O blog também dava como
certa a inclusão do maior sucesso de público da história do cinema francês
entre os indicados a melhor filme estrangeiro. O tema, inclusive, é daqueles
que clamam Oscar. Há duas perspectivas para entender a exclusão de Intocáveis
da lista. A primeira é a saturação do cinema francês em Hollywood. Amor ,
vale lembrar é coproduzido pela França e falado em francês. O artista, uma
coprodução entre EUA e França, foi o grande bicho papão da temporada. Duas
atrizes francesas disputavam indicação ao Oscar... É muita França para um
prêmio americano. A opção por excluir Intocáveis se daria, então, a
contingências de mercado. Outra perspectiva a se seguir é de que Intocáveis é
um "feel good movie" do tipo que já se viu antes, inclusive na categoria e como a
academia apresenta sinais de maturidade nas escolhas em outras categorias do
Oscar, natural que essa tendência se manifestasse aqui também. No entanto, é a
primeira vez que um favorito inconteste nessa categoria nem sequer é indicado.
Intocáveis, quem diria, entra à história pela porta dos fundos. Pelo menos em
termos de Oscar.
A Bernal sí
Gael Garcia Bernal pode ser cult nas bandas de cá do
Atlântico, mas com a Academia até que ele é bem popular. Filmes protagonizados
pelo ator fora do cinema americano são constantemente lembrados pelo Oscar. Na
categoria de filme estrangeiro ou em outras categorias. Além do chileno No, que
concorre a melhor fita estrangeira em 2013, Bernal já protagonizou outras fitas
lembradas na categoria como Amores brutos (2001) e O crime do padre Amaro
(2002). Além disso, filmes como E sua mãe também (2001) e Diários de
motocicleta (2004) foram indicados em outras categorias. Há, ainda, Babel
(2006) que o ator protagonizou junto a Brad Pitt e Cate Blanchet e que foi
indicado a melhor filme do ano.
O favorito: Bernal sempre tem vez junto a Academia...
Rivalidade I
A última vez que Steven Spielberg foi indicado a melhor
diretor foi a última vez que Ang Lee foi indicado a melhor diretor. Foi em
2006, quando Spielberg concorria pelo drama de espionagem Munique e Lee pelo
melodrama de fundo gay O segredo de Brokeback mountain. Na ocasião, Lee saiu
vencedor. Mas Spielberg no histórico é um gigante em termos de Oscar. São seus
filmes Lincoln e As aventuras de PI que polarizam a edição deste ano ao menos
no número de indicações. As apostas dão conta de que o Oscar ficará entre um
deles. Será que Spielberg empata na disputa pessoal com Lee, ou o taiwanês abre
vantagem?
Rivalidade II
Quentin Tarantino se encontra pela terceira vez nomeado na
categoria de roteiro original e pela segunda vez enfrentará o jornalista e
roteirista pela segunda vez Mark Boal. Por enquanto, Boal vai levando vantagem.
Em 2010 ele ganhou o Oscar por Guerra ao terror, muitos naquela ocasião criam ser
mais justa a vitória de Tarantino por Bastardos inglórios. Em 2013, Tarantino defende o texto de Django
livre enquanto Boal comparece com A hora mais escura. Na largada, Boal se
encontra melhor posicionado.
Rivalidade
III
Lincoln, portentoso drama de Steven Spielberg, é o favorito absoluto
ao Oscar, mas uma pequena comédia lhe assombra. Se você desconfia que já viu
esse filme antes, é porque já viu mesmo. Em 1999, O resgate do soldado Ryan era
a aposta segura para o Oscar de melhor filme, mas Shakespeare apaixonado na
hora H roubou votos preciosos do épico sobre a segunda guerra mundial e ficou
com as láureas de melhor filme do ano. Em comum O lado bom da vida e Shakespeare apaixonado
têm o produtor Harvey Weinstein. Ele já bateu Spielberg em seu melhor momento.
Conseguirá fazer novamente?
Preocupação e riso: Spielberg perdeu o Oscar de melhor filme com seu melhor e mais acadêmico trabalho até Lincoln, tanto cá como lá um risonho Harvey Weinstein em seu encalço
A pergunta que não quer calar
Mas fenomenal mesmo será se Weinstein conseguir arrancar uma
terceira vitória seguida para um filme independente no Oscar. Depois de fazer
um dramalhão britânico superar o “cidadão Kane” do século XXI em 2011 e de
fazer um filme mudo e em preto e branco ser a sensação do ano passado, ele
conseguirá fazer uma comédia romântica derrubar o presidente americano mais
popular de todos os tempos?
Rivalidade IV
A categoria de trilha sonora é de longe a de rivalidade mais
acentuada. John Williams, com nada menos que 48 indicações e cinco vitórias,
voltou no ano passado, com nomeação dupla (As aventuras de Tintim e Cavalo de
guerra) para assombrar alguns nomes que passaram a frequentar assiduamente a
categoria como o francês Alexandre Desplat, indicado cinco vezes nos últimos
seis anos, o americano Thomas Newman, indicado quatro vezes nos últimos seis
anos e o italiano Dario Marianelli, indicado três vezes nos últimos seis anos.
Williams, pela história e pelo trabalho que defende (Lincoln) é favorito.
O enigma de Jones
A octogenária Emmanuelle Riva conseguiu um feito raríssimo
no Oscar deste ano. Foi a primeira atriz indicada ao Oscar sem ter sido
indicada ou ao SAG ou ao Globo de Ouro. Mas há um precedente ainda mais acachapante.
Trata-se de Tommy Lee Jones, que também está na corrida. Ele não foi indicado
ao SAG, nem ao Globo de Ouro, nem ao Critic´s Choice, nem ao Bafta e conseguiu
uma nomeação ao Oscar por No vale das sombras em 2008.O contrário teve vez,
pela primeira vez, em 2013. Trata-se de John Hawkes. O ator foi indicado ao
Globo de Ouro, ao critic´s Choice e ao SAG, mas não chegou ao Oscar. É a
primeira vez que um ator presente nessas três listas não chega ao Oscar. No
lado feminino, o mesmo aconteceu com a já oscarizada Marion Cotillard que,
apesar de presente nas listas do Critic´s, do SAG e do Globo de Ouro, não
chegou ao Oscar.
Quem não tem medo de Amy Adams?
Em oito anos são quatro indicações na categoria de atriz
coadjuvante. Amy Adams é, literalmente, a rainha do galinheiro. Com todo o
respeito. Nenhuma atriz foi tão reconhecida pela Academia em papéis
coadjuvantes em tão curto espaço de tempo. A média é de indicação a cada dois
anos. Indicada pelo trabalho em O mestre, Adams já concorreu por Retratos de família,
Dúvida e O vencedor.
Todo poderoso Hoffman
Se Amy Adams é um prodígio, o que dizer de Philip Seymour
Hoffman? Em O mestre é a terceira vez em que trabalham juntos. A primeira foi
em Jogos do poder (2007), pelo qual Hoffman também foi indicado ao Oscar de
coadjuvante. No ano seguinte, dividiram a cena em Dúvida, pelo qual o ator
também recebeu indicação ao Oscar de coadjuvante.
Pelo visto, Amy Adams e Philip Seymour Hoffman juntos em um
filme dá caldo. E Oscar!
Hoffman e Adams em cena do excelente Dúvida: unidos pelo Oscar...
Todo poderoso Hoffman II
Por O mestre, Hoffman (O De Niro e Nicholson de sua geração
junto e misturado) recebeu sua quarta indicação ao Oscar. Ator maiúsculo, ele
ainda foi negligenciado pela academia por excelentes trabalhos em Tudo pelo
poder (2011), Sinédoque Nova Iorque (2008), A família Savage (2007), Antes que
o Diabo saiba que você está morto (2007), Dragão vermelho (2002), entre outros
grandes trabalhos. A favor da Academia, o fato de que não ia pegar bem
indicá-lo todo ano...
Mais um Coppola
A dinastia Coppola segue rendendo frutos no Oscar. Depois do
poderoso chefão Francis, do sobrinho Nicolas e de Sofia, a filha prodigiosa, é
a vez de Roman – outro herdeiro de Francis – chegar ao Oscar. Ele está indicado
junto com Wes Anderson pelo roteiro de Moonrise kingdom.
Nunca antes na história desse prêmio...
É a primeira vez nos 85 anos do Oscar que concorrem a
estatueta de melhor ator coadjuvante apenas vencedores do Oscar. Philip Seymour
Hoffman, Tommy Lee Jones, Christoph Waltz, e Alan Arkin já tem um Oscar cada um
e Robert De Niro, dois. Agora é ver quando será a primeira vez que uma
categoria de atuação reunirá apenas atores com dois Oscars; uma façanha
certamente mais difícil de acontecer.
Galãs no Oscar
A categoria de melhor ator se habituou a ter, ao menos, um
galã por ano. E tem sido assim desde meados dos anos 90 quando Tom Cruise
concorreu a estatueta de melhor ator por Jerry Maguire-a grande virada em 1997. De lá para cá,
Matt Damon, Russell Crowe, Jude Law, Nicolas Cage, Heath Ledger, Leonardo
DiCaprio, Johnny Depp, Brad Pitt, Ryan Gosling, George Clooney e Brad Pitt
marcaram presença. Em 2013, o time dos galãs é representado por Hugh Jackman e
Bradley Cooper. Não que os outros concorrentes (Joaquin Phoenix, Daniel Day
Lewis e Denzel Washington) não fustiguem suspiros.
Certos trabalhos...
O italiano Dario Marianelli obteve em 2013 sua terceira
indicação ao Oscar de trilha sonora pelo trabalho em Anna Karenina. O
interessante é que todas as indicações são por composições para filmes dirigidos
por Joe Wright. Algo semelhante ocorre com o fotógrafo polonês Janusz Kaminski
que costuma ser reconhecido pela Academia quando trabalha com o cineasta Steven
Spielberg. Kaminski, no entanto, ostenta uma exceção: foi nomeado ao Oscar por
O escafandro e a borboleta de Julian Schnabel.
Dez é o número da sorte
Ele já é um dos maiores perdedores do Oscar. Na categoria de
fotografia, ninguém o supera em número de indicações sem vitórias. Roger Deakins conquistou
em 2013 nada mais nada menos do que sua décima indicação ao Oscar pelo trabalho
em 007- Operação skyfall. Alguns dizem que este é o seu ano. Será?
Monstros da música no Oscar
Bruce
Springsteen, Bob Dylan, U2, Dido, Eminem, Celine Dion, Paul McCartney e Adele. Em
comum, todos eles têm indicações ao Oscar. O status pop ajuda consideravelmente na vitória. Mas a regra nem sempre se aplicou. Resta saber se
Adele se juntará ao time vencedor de Eminem e Bob Dylan ou ao derrotado de U2 e
Dido.
Intocáveis fora do Oscar, independente de qualidade, foi mesmo a maior surpresa. Vejamos o que vem por aí.
ResponderExcluirbjs
Estava ausente aqui no Claquete... consertando o erro! Excelente matéria meu caro, adoro seus comentários cobrindo as festas. Gostei por ter lembrado do Bernal. Ainda não assisti "NO", mas muitos me dizem que é até obrigatório. Quase fui ver na Mostra de SP ano passado mas não deu tempo.
ResponderExcluirAdorei o que escreveu sobre a rivalidade entre Spielberg e Weinstein. Não sei se neste ano o filme de O. Russell será um problema para "Lincoln" (certeza que não será para Daniel Day-Lewis). Confesso que odiei na época "Shakespeare Apaixonado" ter ganho! Enfim... Oscar e suas surpresas. No aguardo.
Neste sexta-feira estou correndo para assistir "Django Livre"!
Abraço.
Haneeeke! Vi "Amor" e tem minha torcida. Filme dolorosamente lindo. O diretor se esquiva daquela pegada mais violenta de seus últimos filmes e entrega um projeto singelo e contundente ao mesmo tempo. Eu adorei. A Academia também. Vamos ver o que nos aguarda.
ResponderExcluirEu adoro Intocáveis e queria muito que o filme fosse indicado. Assisti a todos os finalistas da categoria Filme Estrangeiro e prefiro o francês a muitos que conseguiram uma vaga. Até entendo suas "teorias" para explicar a conspiração que tiveram com o filme rs, mas não sei sinceramente se são aplicáveis, afinal, como vc bem apontou, "Amor" tá aí, Riva também, Marion por pouco. Enfim. Lamentei a esnobada ao filme...
Vish! Os titãs voltam a se duelar, hein! HAHA! Tá emocionante demais essa temporada!
E, cara, tenho medo de Amy Adams se tornar uma nova Thelma Ritter rs. Talento a moça já provou que tem. E de sobra! Sério que ele só vai ficar conquistando indicações e não vai levar nunca? Torço para que esteja errado. Mas, pensando bem, o que é melhor: garantir uma estatueta ou ser eternamente comparada à monstruosa Ritter? Há prêmio melhor que esse?
Nem vi The Master, mas PHS tem minha torcida. Sempre. rsrs
Abs!
Amanda: Não diria que foi a maior supresa a ausência de "Intocáveis", mas foi uma grande surpresa.
ResponderExcluirBjs
Rodrigo Mendes: Obrigado pelos elogios meu amigo. Pois é, ainda não vi "No" tb. rsrs. E até hoje odeio o fato de "Shakespeare apaixonado" ter vencido o Oscar. Uma das grandes injustiças da história do prêmio.
Abs
Elton: Pois é, tb estou achando a atual temporada muito emocionante. E com bons filmes também. Adorei Haneke em forte escala no Oscar. Faz bem ao prêmio esse perfil de obra e artista em competição. Me desculpe insistir na discordância, mas vejo com grande probabilidade o fato de acadêmicos verem "Intocáveis" como um feel good movie do tipo que o próprio cinema americano já fez aos montes. Talvez não com o mesmo refinamento, mas não é apenas o refinamento que vale indicação, né? Acho que isso, aliado ao fato de ser francês, pode ter pesado sim na esnobada. Mas é, como bem salientado por mim e por ti, uma especulação que jamais será comprovada.
E acho que Amy Adams pode ganhar um Oscar sim. Pelo menos torço para isso. Em caso negativo, não há melhores palavras do que as suas para enobrecê-la.