sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Filme em destaque - Amor



Eterno?
 Indicado a cinco Oscars, a produção austríaca ganhadora da Palma de Ouro estreia no Brasil com a promessa de ser uma dolorosa reflexão sobre vida, amor e tudo aquilo que os une


Amor é um presente ao mundo”, disse o cineasta Alexander Payne em entrevista ao jornal O Globo. “Se um dia, ele for mostrado para pessoas que estão 2.000 anos no nosso futuro, elas vão olhar e dizer: ‘isso é verdade. É vida’”, completou o diretor de filmes como As confissões de Schmidt (2002) e Os descendentes (2011). Payne fez parte do júri que outorgou a segunda Palma de Ouro da carreira de Michael Haneke para essa coprodução entre Áustria, Alemanha e França que chega agora ao Brasil badalada pelas cinco indicações ao Oscar 2013 (filme, direção, roteiro original, atriz para Emmanuelle Riva e filme estrangeiro) e pela conquista do Globo de Ouro de melhor produção em língua não inglesa de 2012. “Amor é dessas raras unanimidades que o cinema produz de vez em quando”, opinou o crítico do New York Times, A.O Scott.
“Foi gratificante ter conseguido fazer um filme capaz de interessar às pessoas mesmo sendo filmado quase que por inteiro em uma só locação: um apartamento onde duas pessoas de idade experimentam a dor”, envaidece-se ao O Globo o diretor franco alemão. “É muito mais prazeroso filmar em um espaço só e condensar as emoções, do que trabalhar aberto; em vários cenários. A técnica é mais complicada, a pós-produção é mais complicada, mas a satisfação de poder entender como as pessoas agem numa situação de simplicidade plena não tem igual”.
Haneke atribui a seu par de atores (Jean-Louis Trintignat e Emmanuelle Riva), dois patrimônios do cinema francês, o sucesso crítico de seu filme, que nos EUA está lotando as 15 salas em que está em cartaz e deve ter seu circuito ampliado na esteira das indicações ao Oscar. Os atores devolveram a gentileza em Cannes informando à imprensa que Michael Haneke é o diretor mais rigoroso com que trabalharam em suas longevas carreiras – ambos já são octogenários.
A fama de perfeccionista de Haneke não é nova, mas em Amor, o diretor se permite algumas novidades em sua carreira. Tido como um cineasta propenso a analisar o alcance da violência e suas ramificações sociais, esse projeto causa certa surpresa. Ainda que Haneke o tenha tratado de maneira seca. “Ele me disse que não queria uma atuação sentimental”, disse Riva em Cannes.
Outra mudança foi na direção de fotografia. Depois de anos de colaboração com Christian Berger, que inclusive valeu indicação ao Oscar na categoria para A fita branca (2009), Haneke escalou o iraniano Darius Khondji, responsável pela fotografia de Meia-noite em Paris (2011) para o novo filme. São mudanças de abordagem que podem não denunciar muito, mas revelam um cineasta exercitando mesclas estéticas e temáticas em sua obra.

Haneke informou a Riva que não queria nenhum vestígio de sentimentalismo em sua atuação. O rigor deu certo e a atriz pode ganhar o Oscar no dia em que completará 86 anos


Filme-tratado
Para Amanda Aouad, crítica do CinePipocaCult, Amor, pelo incômodo e reflexão que provoca, é um filme merecedor de palmas. Em sua crítica, ela observa ser a nova obra de Michael Haneke um filme-tratado. “Todo o filme é construído em pausas, detalhes, gestos e sentimentos. É sufocante e belo ao mesmo tempo”.
Haneke, não vê estranheza na mudança de rota em sua filmografia: “O que me interessa é o comportamento humano”. Aouad, que enxerga na direção do franco alemão um elemento vital para a força do filme, sacramenta: “Amor é um retrato de um amor eterno e da forma como o destino brincou com ele, fazendo passar por uma provação extrema. E que chega ao seu final com uma forma tamanha que nos deixa sem ar”.

3 comentários:

  1. Olha só, que honra a citação no meio do apanhado tão apurado que você sempre faz. :) Amor é mesmo um filme forte, doido e extremamente belo.

    bjs

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  2. Talvez pelo fato de não ter "sentimento" que o filme seja tão "emocionante". Uma faca de dois gumes.

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  3. Amanda: Vc merece Amanda. E sua bela crítica é mais do que compatível com que é 'Amor". O filme e o sentimento.
    Bjs

    Alan: Esse Alan tá me saindo um poeta...
    Abs

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